Cuba recebe primeiro cruzeiro dos EUA em mais de 50 anos
2 de maio de 2016
Navio Adonia atrai olhar de dezenas de curiosos ao entrar na baía de Havana. Viagem inaugura rota marítima regular entre os dois países, em mais um marco da reaproximação promovida por Obama.
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Veja imagens do cruzeiro americano em Havana
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O navio Adonia chegou nesta segunda-feira (02/05) a Havana, um dia depois de ter zarpado da Flórida, numa viagem histórica que inaugura a primeira linha de cruzeiros entre Estados Unidos e Cuba em mais de meio século.
Com 704 passageiros, o navio da empresa Fathom, subsidiária do grupo Carnival, atraiu o olhar de dezenas de curiosos, que se reuniram na avenida Malecón e na zona do antigo Castillo del Morro para presenciar sua entrada na baía de Havana após uma travessia de cerca de oito horas.
Na parte superior da embarcação foi possível ver grupos de passageiros que contemplavam as primeiras vistas da capital cubana nesta viagem inaugural e histórica.
Antes da partida, o presidente da Carnival, Arnold Donalds, declarou no porto de Miami que "entrar para a história e preparar um futuro melhor para todos é uma das maiores honras que uma empresa pode ter". A Fathom deseja realizar dois cruzeiros por mês com destino a Cuba.
A empresa teve de superar diversos entraves burocráticos até Havana remover, na semana passada, as últimas restrições impostas aos cidadãos cubanos para realizar viagens marítimas rumo aos EUA ou a partir do território americano.
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A partir de agora, os cubanos podem embarcar e desembarcar em seu país na condição de passageiros ou membros de tripulações de embarcações de cruzeiro ou de transporte de mercadorias.
Os americanos também estão aptos a viajar a Cuba, apesar de ainda serem obrigados a preencher os pré-requisitos das 12 categorias para a autorização das viagens – como desportivas, culturais, universitárias ou religiosas. A medida ainda é válida em razão do embargo que os EUA impõem a Cuba desde 1962, cuja remoção, defendida pelo presidente Barack Obama, ainda precisa ser aprovada pelo Congresso americano.
A Carnival é a primeira empresa autorizada por Washington e Havana a promover viagens entre os dois países desde a Revolução Cubana, em 1959. Ainda neste ano deverão ser reiniciados os voos regulares entre os dois países, o que deverá gerar novo impulso ao setor de turismo de Cuba.
RC/lusa/ap
EUA e Cuba: crônica da rivalidade
Desde a Revolução Cubana, em 1959, Cuba e os Estados Unidos estão em disputa, que já envolveu mercenários, bloqueios navais, sanções econômicas, criminosos e carros de boi.
Foto: picture-alliance/dpa
Bordel dos EUA
Antes da revolução, Cuba era, para muitos americanos, sinônimo de jogos de azar, casas noturnas e outros tipos de entretenimento – como um jantar no Havana Yacht Club (foto). "Cuba era o bordel dos EUA", definiu mais tarde o cientista político americano Karl E. Meyer. Para a população, a ditadura de Fulgencio Batista, no entanto, significava principalmente estagnação, desemprego e pobreza.
Para derrubar o regime já falido, Fidel Castro precisa de apenas um exército de guerrilha de algumas centenas de homens. Em 1° de janeiro de 1959, Batista foge de Cuba, e os rebeldes tomam Havana. Os EUA impõem sanções imediatamente, que vão sendo intensificadas nos anos seguintes. A liderança cubana, então, recorre à União Soviética.
Foto: picture-alliance/dpa
Fiasco na Baía dos Porcos
Uma tropa mercenária de cubanos exilados tentou derrubar o regime em 1961, com ajuda da CIA. A operação foi um fiasco. O Exército Revolucionário Cubano acaba com a invasão na Baía dos Porcos dentro de três dias, afirmando ter feito mais de mil prisioneiros.
Foto: AFP/Getty Images/M. Vinas
À beira de uma guerra nuclear
Devido ao relacionamento abalado entre EUA e Cuba, a União Soviética, passa, de repente, a dispor de uma base localizada a apenas cerca de 150 quilômetros dos Estados Unidos. O Kremlin quer estacionar mísseis na ilha. E, em 1962, a crise cubana deixa o mundo à beira de uma guerra nuclear. Com um bloqueio naval, os Estados Unidos impedem o transporte dos mísseis.
Foto: picture-alliance/dpa
Saúde e educação exemplares
A União Soviética não poupa esforços. Por décadas, Cuba é fortemente subsidiada, recebendo, entre outras coisas, petróleo bruto, que é reexportado pela ilha para obtenção de divisas. Cuba consegue, assim, construir sistemas de saúde e de educação exemplares.
Foto: picture-alliance/dpa
O êxodo dos marielitos
Em 1980, Fidel Castro permite que emigrantes deixem o país a partir do Porto de Mariel, com destino aos Estados Unidos. Cerca de 125 mil cubanos chegam à Flórida. Entre eles, estão alguns que haviam sido libertados pela administração cubana de prisões e hospitais psiquiátricos. A taxa de criminalidade em Miami aumenta drasticamente.
Foto: picture-alliance/Zuma Press/T. Chapman
Dependência açucarada
Por décadas, o embargo dos EUA limita a economia cubana de forma maciça. Além disso, não ocorre diversificação alguma. A cana-de-açúcar permanece sendo, mesmo após a revolução, o principal produto de exportação da ilha. Cuba continua totalmente dependente da assistência da União Soviética, algo que fica bastante claro a partir de 1990.
Foto: AFP/Getty Images/N. Barroso
"Período especial em tempo de paz"
Com o colapso da União Soviética, vem a quebra da economia cubana. Tudo passa a faltar. Fidel Castro declara a época de choque da economia cubana, a partir de 1990, como o "Período Especial em Tempos de Paz". Na ausência de combustível e peças de reposição, bois passam a ser usados como meio de transporte. Desde o final da década de 1990, a Venezuela fornece petróleo a preço baixo ao país.
Foto: AFP/Getty Images/A. Roque
O vai e vem das sanções
Desde 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas apela todos os anos para que os EUA acabem com sua política de embargo. Os EUA apertam e desapertam os parafusos das retaliações de tempos em tempos. Assim, as regulamentações do bloqueio ficam mais rigorosas em 1996 e mais relaxadas em 1999. Em 2004, o presidente George W. Bush endurece as sanções.
Foto: Getty Images/J. Raedle
Um novo capítulo se inicia
Após a libertação do prisioneiro americano Alan Gross e de três agentes cubanos presos nos EUA desde 1998, Raúl Castro e Barack Obama surpreendem o mundo ao anunciar, no dia 17 de dezembro de 2014, que normalizarão as relações diplomáticas entre os dois países e reabrirão suas embaixadas. Obama amplia as exceções ao embargo econômico e comercial sobre a ilha.
Pouco mais de seis meses após o anúncio da retomada das relações diplomáticas, Obama anuncia em 1º de julho de 2015 a reabertura das embaixadas dos EUA e de Cuba em Havana e Washington dentro de alguns dias. Desde dezembro de 2014, passos tomados para a reaproximação incluem a retirada de Cuba da lista de países que financiam o terrorismo e a libertação de presos políticos pelo governo cubano.