Grave crise na aliada Venezuela impõe desafio à economia cubana, que produz apenas metade do petróleo que consome. Em meio a boatos de Rússia e Argélia como próximos fornecedores, Havana procura saída.
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O fato de a Venezuela se encontrar em dificuldades econômicas representa um problema também para Cuba, sobretudo devido à redução das importações de petróleo. Recentemente o presidente Raúl Castro preparou a população da ilha caribenha para tempos duros, anunciando que o governo precisará cortar gastos e racionar energia.
Assim causou alvoroço a divulgação pela mídia, no fim de julho último, de que a companhia australiana MEO teria encontrado enormes jazidas petrolíferas, com cerca de 8,2 bilhões de barris, na região de Motembo, no norte da província de Santa Clara.
Embora a notícia despertasse expectativas enormes, tanto no país quanto no exterior, Havana não confirmou nem desmentiu a informação. Na última semana, porém, Roberto Suárez Sotolongo, vice-diretor da companhia petroleira estatal CubaPetróleo (Cupet), declarou à imprensa que as supostas jazidas teriam sido uma "interpretação falsa".
Em seu comunicado à imprensa, a empresa afirmou nunca ter havido um "achado ou descoberta confirmada": a notícia se referia a reservas potenciais a serem obtidas em futuros projetos de exploração. A MEO, que desde setembro de 2015 mantém um contrato com a Cupet, ainda estaria realizando estudo geológicos, afirmou Sotolongo. Portanto, ainda seria cedo demais para fornecer dados seguros.
Carestia das importações e da extração local
Deste modo, Cuba continua tendo que ver como suprirá a própria demanda de energia. O país produz diariamente cerca de 45 mil barris de petróleo e 3 milhões de metros públicos de gás natural – apenas 48% do que consome. O restante tem que ser importado, até o momento principalmente da Venezuela.
No entanto, analistas calculam que atualmente Caracas só vêm fornecendo para Cuba 53.500 barris diários de óleo bruto, 40% menos do que no primeiro semestre de 2015. Segundo a agência de notícias Reuters, mesmo incluindo-se os produtos de petróleo refinado, a queda ainda fica em 20%. No passado, o Estado caribenho consumia parte do petróleo venezuelano e, supõe-se, revendia o excedente – uma fonte adicional de lucros que agora igualmente se extinguiria.
Segundo Osvaldo López Corzo, diretor do setor de exploração da Cupet, há mais de 40 anos o petróleo nacional é extraído quase exclusivamente na faixa litorânea entre Havana e Varadero, onde também se concentram os novos projetos de exploração dos próximos cinco anos.
Em grande parte devido à queda dos preços do recurso fóssil, contudo, a extração vem se tornando progressivamente menos lucrativa. São necessárias perfurações mais profundas, consequentemente mais caras, que vêm rendendo cada vez menos. "E, acrescentando os efeitos do baixo preço do petróleo no mercado mundial, o problema ainda se agrava", aponta Corzo.
Mais ventiladores, menos investimentos estrangeiros
Grande parte do petróleo de fabricação cubana vai para a geração de energia, cuja demanda deverá crescer nos próximos anos, de acordo com Corzo. Motivos para tal são os investimentos estrangeiros crescentes na ilha, o acréscimo de turistas e a expansão da economia privada, assim como o maior número de aparelhos eletrodomésticos: a mudança do clima global também aquece Cuba, exigindo mais aparelhos de ar condicionado e ventiladores em funcionamento.
Como estudos geológicos mostram haver mais petróleo no solo cubano, a indústria petrolífera local trabalha em diversos projetos de extração. No entanto, é preciso capital e tecnologia estrangeiros para a exploração não convencional e a das reservas que se supõe existirem ao largo da costa cubana.
"Não se trata de ações que Cuba possa empreender sozinha, pois exigem muitos recursos", ressalta Osvaldo López Corzo. Por outro lado, a queda do preço do combustível fóssil no mercado mundial desencoraja os eventuais investidores.
Energias renováveis: plano para o futuro
Em sua convenção partidária de abril, o Partido Comunista de Cuba (PCC) declarou a autonomia energética como meta estratégica de longo prazo. Paralelamente ao aumento da produção de óleo e gás, há anos se persegue a ampliação das energias renováveis.
No curto prazo, porém, a prioridade é compensar as falhas de abastecimento venezuelanas. Isso suscitou especulações sobre eventuais novos fornecedores para Cuba. Segundo a agência de notícias russa Interfax, o presidente Raúl Castro teria pedido ajuda por escrito ao presidente russo, Vladimir Putin, para que examinasse a possibilidade de suprir o país caribenho continuamente com petróleo.
No momento, as importações russas não são fator significante para a economia cubana: no primeiro semestre do ano corrente, Moscou forneceu meras 1.400 toneladas de óleo bruto, no valor de 250 mil dólares.
No início de setembro especulou-se também quanto à possibilidade de a Argélia fazer negócios com Havana: a companhia estatal Sonatrach entregaria 515 mil barris já em outubro. A notícia, porém, nunca foi confirmada, e a caça cubana ao petróleo prossegue.
Cuba: o clã dos Castro
A árvore genealógica de Fidel Castro é vasta e ramificada. A família ganhou destaque nesta semana após a morte de Ramón Castro, irmão mais velho do ex-dirigente. Conheça nessa galeria os rostos do clã
Foto: picture-alliance/dpa
Onde tudo começou
Ángel Castro Argiz nasceu nesta casa em Láncara, na província galega de Lugo, no noroeste da Espanha. Em 1899 ele chegou a Havana. Após ser bem-sucedido em vários negócios, se converteu em latifundiário e casou-se com sua primeira mulher, María Luisa Argota Reyes. A união fracassou, e Angel casou em 1943 com Lina Ruz González. Eles tiveram sete filhos, entre eles Fidel e Raúl Castro.
Foto: picture-alliance/dpa/J.M. Castro
Lina Ruz
A mãe de Fidel Castro. Com ela, Ángel Castro Ariz manteve uma relação extraconjugal e teve uma primeira filha, Ángela, quando ainda estava casado com María Luisa Argota, com quem já tinha dois filhos. Nesta imagem, uma funcionária da Casa Museu Fidel Castro mostra uma fotografia de Fidel, Raúl e Ramón Castro. Ao lado, um retrato da mãe do trio, Lina Ruz.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Soler
Fidel Castro
Foi primeiro-ministro (1959-1976) e presidente de Cuba (1976-2008) e se manteve como primeiro-secretário do Partido Comunista até 2011, quando transferiu todos os poderes ao seu irmão Raúl. Fidel tem dez filhos conhecidos: o mais velho, Fidel Ángel, é fruto do casamento com Mirta Díaz-Balart; outros cinco, da união com Dalia Soto del Valle; outros quatro foram gerados em casos extraconjugais.
A segunda mulher de Fidel Castro, com quem ele se casou em 1980. O casal tem cinco filhos. Todos têm nomes iniciados com a letra "A". Alexis, Alexander, Antonio, Alejandro e Ángel. Discreta, Dalia sempre viveu sob a sombra do "comandante". Em 2015, durante uma visita do presidente François Hollande a Fidel, em Havana, muitos a confundiram com uma assessora.
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Raúl Castro
É presidente de Cuba desde 2008. Raúl casou-se com Vilma Espín em 1959 e teve quatro filhos. Dois são bem conhecidos: Mariela Catro, uma política e sexóloga de renome que atua como diretora do Centro Nacional de Educação Sexual de Cuba; e Alejandro Castro, que ostenta a patente de coronel e atua como assistente pessoal do pai.
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Vilma Espín
A falecida mulher de Raúl Castro foi uma destacada dirigente política da Revolução Cubana e membro do Movimento 26 de Julho. Ela estudou engenharia química e foi membro do Comitê Central do Partido Comunista cubano de 1965 até a sua morte. Ela se casou com Raúl em 1959. O casal teve quatro filhos: Deborah, Mariela, Nilsa e Alejandro. Vilma morreu em consequência de um câncer em junho de 2007.
Foto: Imago/GranAngular
Ramón Castro
O irmão mais velho de Fidel e Raúl Castro faleceu no dia 23 de fevereiro de 2016 em Havana, aos 91 anos. Nascido em 14 de outubro de 1924, Ramón Castro cooperou com a guerrilha liderada pelo seu irmão Fidel e o Movimento 26 de Julho. Após o triunfo da revolução, ele desempenhou diferentes atividades no setor agropecuário.
"A última vez que falei com meu irmão Raúl foi em 18 de junho de 1964, um dia antes da minha partida." Após descobrir em primeira mão os excessos da Revolução, Juanita exilou-se no México e depois em Miami. Em 1965, ela obteve a nacionalidade americana. Crítica da política cubana, ela admitiu ter colaborado com a CIA em 1963. Em 2009, publicou "Fidel e Raúl, meus irmãos – a história secreta".
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Alina Fernández
Uma das filhas que Fidel teve em seus relacionamentos extraconjugais e que foi reconhecida pelo comandante. Ela passou a sua infância junto com a mãe, Natalia Revuelta, e foi registrada com o sobrenome do marido dela. Por causa da sua crescente insatisfação política, Alina abandonou o país em 1993, contra a vontade do pai. Em 1997 ela publicou o livro "Memórias da Filha de Fidel Castro".
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Fidel Ángel Castro Díaz-Balart
É o filho de Fidel com sua primeira esposa, Mirta Díaz-Balart. Após se formar na Universidade de Lomonosov, em Moscou, Fidel Ángel esteve ligado ao Instituto Kurchatov, uma instituição soviética para pesquisa de energia atômica. Na década de 1980, ele esteve vinculado ao desenvolvimento do setor atômico em Cuba, onde fundou o Instituto Superior de Ciências e Tecnologias Nucleares de Havana.
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Alex Castro
Nascido em 1963, é um dos três filhos de Fidel com mais exposição pública. É artista e atua como fotógrafo oficial do seu pai. Há algumas semanas, declarou em entrevista que compreende a retomada das relações de Cuba com os Estados Unidos como "algo lógico". Também afirmou que Fidel "sempre esteve de acordo com a reaproximação e o restabelecimento das relações entre os dois países".
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Antonio Castro
É filho de Fidel Castro com Dalia Soto. É um cirurgião que atua como médico da equipe nacional de beisebol de Cuba e presidente da federação cubana desse esporte. Ao longo da sua vida foi protagonista de vários escândalos.