Nos últimos dias, a ilha caribenha tem chorado a morte do líder revolucionário. Caravana com as cinzas do herói cubano chega a Santiago de Cuba, onde os restos de Castro são enterrados em cerimônia privada.
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A caravana com as cinzas de Fidel Castro partiu neste domingo (04/12) às 6h40 local (9h40, em Brasília) do Parque da Revolução de Santiago de Cuba rumo ao cemitério de Santa Ifigênia, onde os restos do ex-presidente cubano foram enterrados em cerimônia privada.
A cerimônia começou com 21 salvas de artilharia, pouco depois da chegada ao cemitério do cortejo fúnebre com as cinzas do "Comandante". O funeral foi apenas para a família e alguns dignitários cubanos e estrangeiros. A imprensa estrangeira foi mantida à distância, e a televisão estatal não transmitiu a cerimônia.
As cinzas de Fidel foram depositadas ao lado do mausoléu de José Martí, pai da independência de Cuba, num cemitério em que estão os restos de outros heróis nacionais.
Durante o percurso do cortejo fúnebre por Santiago de Cuba, dezenas de milhares de pessoas saudaram o jipe verde-oliva com a urna envolta na bandeira cubana. Esta percorreu mais de 900 quilômetros desde a última quarta-feira, da Praça da Revolução em Havana até a cidade situada no leste da ilha.
Castro morreu no último dia 25 de novembro aos 90 anos de idade. Durante a passagem da caravana, as pessoas gritavam: "Eu sou Fidel!".
Presentes à cerimônia fúnebre estavam, entre outros, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro; o chefe de Estado boliviano, Evo Morales; e os ex-presidentes brasileiros Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, como também a lenda do futebol argentino Diego Maradona.
Líder revolucionário
O cortejo fúnebre passou por várias cidades do país socialista. Nesse período, houve uma proibição de álcool; concertos e eventos esportivos também foram cancelados. O comboio percorreu a rota oposta da chamada Caravana da Liberdade dos revolucionários cubanos.
Após a vitória sobre as tropas do ditador Fulgencio Batista, em janeiro de 1959 os rebeldes sob o comando de Fidel Castro partiram em procissão triunfal de Santiago de Cuba até Havana.
Nem monumentos nem placas
Fidel governou seu país por 47 anos, até entregar o poder a seu irmão em 2006. Diferentemente de Fidel, Raúl Castro empreendeu uma cuidadosa política de abertura. Houve um reatamento de relações diplomáticas com os EUA e foi concedido aos cubanos o direito parcial à propriedade privada, como também a possibilidade de trabalhar por conta própria nos setores de gastronomia, turismo e artesanato.
No futuro não deverá ser construído nenhum monumento para o líder revolucionário falecido. Antes de morrer, ele ordenou que não devessem ser construídos memoriais em sua homenagem nem que ruas ou instituições devam receber o seu nome, informou Raúl Castro em Santiago de Cuba.
CA/efe/lusa/dw
A vida de Fidel Castro em imagens
Mesmo após abdicar do poder, Fidel Castro permaneceu sendo uma presença marcante. Não só em Cuba: admirado ou atacado, o líder revolucionário merece integrar a seleta galeria dos grandes mitos da política mundial.
Foto: AP
Educação jesuítica
Esta foto data de 1940, época em que Fidel Castro estudava no Colégio de Dolores, dirigido por jesuítas. Aos 14 anos, ninguém poderia prever como transcorreria sua biografia. Ainda assim, ele se destacava entre seus companheiros em Santiago de Cuba, sobretudo pela inteligência e aptidão oratória.
Foto: picture-alliance/dpa/Jose Maria Patac
Aluno destacado
Nascido no povoado cubano de Birán em 13 de agosto de 1926, Fidel Castro Ruz queria chegar longe. Seus pais, imigrantes da Galícia, eram bem estabelecidos, e Fidel desfrutou de uma boa educação. Esta foto é de 1945, quando finalizou o bacharelado. O anuário do colégio o descreve como um "aluno destacado e bom esportista". Cinco anos mais tarde, formava-se como advogado.
Foto: AP
Luta contra Batista
Sua candidatura como deputado, em 1952, foi frustrada pelo golpe de Estado do general Fulgencio Batista. Tendo tentado combatê-lo nos tribunais, Castro logo passou à luta armada. Depois do assalto fracassado ao quartel de Moncada, da prisão, anistia e temporada no exterior, ele retornou clandestinamente a Cuba. Em Sierra Maestra, onde começou a luta de guerrilhas, foi tirada esta foto, em 1958.
Foto: AP
A Revolução triunfa
Vitórias dos guerrilheiros custaram a Batista o apoio militar e o forçaram a fugir. Em 1º de janeiro de 1959, a Revolução celebrava vitória. No mês seguinte, Castro foi nomeado primeiro-ministro pelo novo presidente, Manuel Urrutia. Devido a diferenças com o líder revolucionário, ele renunciou em meados do ano, sendo substituído em Havana por Osvaldo Dorticós, que confiou o poder a Fidel Castro.
Foto: AP
Baía dos Porcos
A tensão entre Cuba e os EUA aumenta à medida que as desapropriações na ilha afetam os interesses americanos. Washington responde com embargo amplo, e em 3 de janeiro de 1961 rompe relações diplomáticas com Havana. Em abril, 1.500 exilados cubanos apoiados pela CIA desembarcam na Baía dos Porcos, com o intento de derrubar Castro. Este dirige a contraofensiva, e a invasão fracassa após três dias.
Foto: AP
Crise dos mísseis
"Não sei se Fidel é comunista, mas eu sou fidelista", dizia Nikita Krushchev em 1960. Moscou reatou relações diplomáticas com Cuba, interrompidas desde 1952, e incrementou seu apoio. A descoberta pelos EUA de bases nucleares soviéticas na ilha desencadeou a "crise dos mísseis". A URSS só cedeu com a promessa de John Kennedy de não invadir Cuba e também de desmontar as bases americanas na Turquia.
Foto: imago/UIG
Laços na América Latina
O episódio da Baía dos Porcos acelerara a proclamação do caráter marxista-leninista da Revolução Cubana. Em resposta, a OEA expulsou de suas alas o país, isolando-o. Mas não indefinidamente, pois a esquerda avançava em outros Estados da América Latina. Em 1971, Fidel Castro foi recebido pelo presidente chileno Salvador Allende (foto), que dois anos mais tarde seria derrubado por Augusto Pinochet.
Foto: AFP/Getty Images
Hora de Perestroika
A ascensão de Mikhail Gorbatchov ao poder, em 1985, marcou uma nova era em Moscou, de Glasnost e Perestroika. A "Cortina de Ferro" começou a ser perfurada, até se despedaçar; o império soviético acabou por cair. Sem sua principal base de sustento no exterior, Cuba precipitou-se em aguda crise. Milhares tentaram fugir para Miami em botes precários. Para muitos, era certo o fim do regime castrista.
Foto: picture-alliance/dpa
Visita papal
Um decreto do papa Pio 12 proibia a todos os católicos apoiar os regimes comunistas. Em consequência, o Vaticano havia excomungado Fidel em janeiro de 1962. Com o fim da Guerra Fria, contudo, chegou também o momento da reaproximação. Em 1996, Castro visitou João Paulo 2º, que lhe retribuiu a visita dois anos mais tarde, num gesto considerado histórico.
Foto: picture-alliance/AP/Michel Gangne
Jimmy Carter em Cuba
Houvera poucos momentos de distensão em Washington e Havana desde1962, quando os EUA impuseram seu embargo comercial, econômico e financeiro a Cuba. Um dos poucos sinais nessa direção foi a viagem do ex-presidente americano Jimmy Carter em 2002, com o fim de encontrar pontos de aproximação. Mas seus esforços tampouco trouxeram mudanças substanciais a Havana.
Foto: Adalberto Roque/AFP/Getty Images
Nova cara da Revolução
A partir da década de 90, Cuba deixou de ser vista como perigosa exportadora de revoluções. Com a estrepitosa queda do Bloco Soviético, as ideologias de esquerda naufragavam. Mas, na Venezuela, assumiu ao poder um dirigente disposto a propagar o que denominava de "Revolução Bolivariana": Hugo Chávez, admirador declarado de Fidel, ofereceu a Havana respaldo efetivo, além de apoio econômico.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb
Entrega de poder
A enfermidade forçou Fidel a abandonar o poder formal, que entregou nas mãos do irmão Raúl Castro. Tudo para evitar uma guinada radical num sistema que – apesar de todos os avanços na educação e saúde – cobrava de seus cidadãos o alto preço da repressão e perda de liberdade. Enquanto apontavam os primeiros vislumbres de mudança, Fidel Castro ia se despedindo, embora defendendo sua visão até o fim.