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Cuba volta a olhar para o leste

26 de outubro de 2018

Aproximação iniciada por Obama não só estagnou, como retrocedeu sob Trump. Há espaço na economia do país caribenho a ser preenchido, e a Rússia parece já ter percebido isso, como mostra a Feira Internacional de Havana.

Mulher acena para navio de cruzeiro em Cuba
Situação econômica se deteriorou, inclusive no ramo do turismo. País precisa urgentemente de investimentos estrangeirosFoto: picture-alliance/AP Images/P. Farrell

No final de setembro, uma notícia foi motivo tanto de surpresa: Cuba e os Estados Unidos estavam formando uma empresa conjunta de biotecnologia – Innovative Inmmunotherapy Aliance S.A. (Aliança Inovadora de Imunoterapia S.A.)

A empresa mista desenvolverá medicamentos e terapias contra o câncer. O governador de Nova York, Andrew Cuomo, que foi fundamental na elaboração do acordo, elogiou a aliança como um "passo histórico".

Uma luz no fim do túnel num momento em que as relações entre os dois países arrefeceram novamente. Essa tendência também pode ser observada na anual Feira Internacional de Havana (FIHAV), que se começa nesta segunda-feira (29/10), na capital cubana.

Se três anos atrás a feira aconteceu sob o signo da aproximação entre os EUA e Cuba – com um número recorde de empresas americanas –, a euforia de então esvaneceu.

Apenas um pequeno número de expositores americanos participará da atual edição da FIHAV – da mesma forma que no ano passado, informou o ministro cubano de Comércio Exterior, Rodrigo Malmierca. Em 2017, apenas 16 empresas americanas ocuparam cerca de 250 metros quadrados de área de exposição.

Quase quatro anos depois da guinada de Barack Obama na política dos EUA em relação a Cuba, voltou o desencantamento. Com Donald Trump, os EUA retornaram à retórica da Guerra Fria.

O acordo de aproximação selado por Obama, que estabelecia facilidades de viagens e comércio com Cuba, foi suspenso em parte pelo atual presidente americano. O bloqueio ainda existente contra a ilha caribenha deve ser novamente reforçado em algumas áreas. Os negócios com empresas controladas pelos militares cubanos foram proibidos.

A feira em Havana é uma vitrine para potenciais investidores na ilha e, ao mesmo tempo, um espelho do desenvolvimento econômico do país. E ele está estagnado. Há poucos dias, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) reduziu sua previsão de crescimento para a economia de Cuba em 2018 para 1,1%.

O aliado mais próximo de Cuba, a Venezuela, está fornecendo menos petróleo; o turismo está em declínio; furacões e inundações causaram danos graves – o país precisa urgentemente de investimentos estrangeiros. Isso é repetido pelo presidente Miguel Díaz-Canel, que está no poder desde abril, em todas as oportunidades.

Como parte da FIHAV, Cuba apresentará um novo catálogo de investimentos. No ano passado, ele abrangeu 456 projetos, com um volume de negócios de 10,7 bilhões de dólares. No entanto, o país ainda está longe de atingir a sua meta de atrair 2,5 bilhões dólares em capital estrangeiro anualmente.

No total, expositores de mais de 60 países confirmaram a sua participação na FIHAV. Isso mostra, disse Malmierca, "que o mundo está do lado de Cuba, apesar do acirramento do bloqueio econômico, comercial e financeiro dos Estados Unidos."

Entre os principais expositores estão, tradicionalmente, Espanha, Venezuela, China e Rússia. As empresas alemãs também estarão representadas com seu próprio pavilhão. Além disso, na próxima semana, o Escritório Alemão para a Promoção do Comércio e Investimento em Cuba será inaugurado na presença do diretor-executivo adjunto da Confederação Alemã das Câmaras de Comércio e Indústria (DIHK), Achim Dercks, e vários vice-ministros de vários ministérios alemães.

Mas as relações estão mais próximas especialmente com um ex-parceiro: a Rússia. No contexto da feira, acontece também o fórum de negócios Rússia – América Latina e Caribe, no qual deverão ser sondadas "perspectivas de cooperação nos setores comerciais, econômicos e de investimentos entre a Rússia e os países da região", como foi anunciado.

Em 2014, a Rússia, como Estado sucessor da União Soviética, perdoou cerca de 90% das dívidas de Cuba. Os 3,5 bilhões de dólares restantes deverão ser compensados com condições preferenciais para investimentos russos na ilha. Por exemplo, a companhia petrolífera russa Rosneft será responsável pela modernização da maior refinaria de Cuba, em Cienfuegos, que funciona apenas a meia potência devido ao fornecimento de petróleo reduzido de Venezuela.

Em setembro de 2017, os dois países também assinaram um pacote de acordos incluindo, entre outros, o setor de energia, o transporte ferroviário e o fornecimento de elevadores. Outros acordos abrangem a produção de alimentos e a indústria têxtil.

Além disso, a Rússia fornece caminhões, ônibus e locomotivas. Não é à toa que, na próxima semana, Díaz-Canel dedicará à Rússia a sua primeira viagem oficial como presidente. Cuba está se orientando novamente para o leste.

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