Propostas para o setor ficam em segundo plano em meio a trocas de acusações entre candidatos e a temas de maior impacto sobre os eleitores, como educação e saúde.
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Em segundo plano nos programas de governo dos candidatos e perdidas em meio a ataques e escândalos, as propostas para a cultura vêm ganhando pouco espaço na corrida à Presidência da República. Além disso, as propostas dos três principais candidatos – Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) – para o setor ou são vagas demais ou não apresentam novidades.
"A sociedade brasileira avançou muito depois da redemocratização e estaria em condições de incluir as questões culturais no debate político-eleitoral já neste pleito", avalia o professor de ciências políticas Aninho Irachande, da UnB. "Mas campanha tem sido mais pautada por acusações entre os candidatos do que pela apresentação de propostas claras."
A ausência do tema na campanha espelha a atenção dada pelo governo federal para a cultura, tomando como base os recursos destinados. Em 2014, o orçamento do Ministério da Cultura é de 3,26 bilhões de reais. Para a saúde foram destinados 82,5 bilhões. Para a educação, 42,2 bilhões.
"A cultura não tem grande impacto na eleição, a não ser no aspecto da mobilização dos artistas, um dos elementos importantes de legitimação das candidaturas. As campanhas sempre mobilizam muitos artistas. São feitas algumas promessas para a cultura, mas são sempre coisas muito pontuais", afirma o sociólogo Valeriano Mendes Costa, da Unicamp.
Realidade distante da maioria
Com um orçamento baixo, há pouco espaço para o desenvolvimento de políticas inovadoras no setor. Além disso, segundo Costa, é difícil desenvolver uma pauta que agrade a todos por causa da fragmentação do meio artístico e da grande variedade de grupos e interesses conflitantes.
"A cultura não está sendo abordada com ênfase, mas o interesse existe e aparece no programa de governo dos principais candidatos. Mas há temas e conflitos mais sensíveis e urgentes, como saúde, educação, mobilidade urbana e segurança pública", avalia Cecilia de Arruda, assessora especial da diretoria do Sindicato Nacional dos Artistas Plásticos de São Paulo e integrante do comitê brasileiro da Associação Internacional de Artes Plásticas da Unesco.
Segundo os analistas, o tema acesso à cultura tem pouco peso eleitoral também por ser uma preocupação distante para grande parte da população, apesar de o acesso à cultura estar longe de ser universal no país. Segundo a pesquisa Panorama Setorial da Cultura Brasileira, 42% dos brasileiros não tem o hábito de praticar atividades culturais com frequência.
Entre os que praticam, a atividade favorita é ir ao cinema. Outras opções, como ir ao teatro e a espetáculos de dança, ou visitar museus e exposições, quase não têm espaço no cotidiano do brasileiro. Mais de 70% da população, por exemplo, nunca assistiu a um espetáculo de dança, segundo a Unesco.
Debate na TV: o que disseram os candidatos?
Sete presidenciáveis participaram do dois primeiros debates antes da eleição de outubro. Conheça alguns dos temas discutidos e propostas apresentadas por cada um deles.
Foto: Miguel Schincariol/AFP/Getty Images
Sete presidenciáveis
O segundo debate entre os candidatos à Presidência, promovido por SBT, "Folha de S. Paulo", UOL e Jovem Pan nesta segunda-feira (01/09), foi transmitido simultaneamente pela TV, internet e rádio. Sete candidatos participaram: Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB), Aécio Neves (PSDB), Pastor Everaldo (PSC), Luciana Genro (PSOL), Eduardo Jorge (PV) e Levy Fidelix (PRTB).
Foto: Nelson AlmeidaA/AFP/Getty Images
Band abriu debates
Os mesmos sete candidatos estiveram no primeiro debate, organizado pela Bandeirantes. O primeiro confronto aconteceu ainda sob o impacto da trágica morte de Eduardo Campos. Marina Silva já participou como sua sucessora. Ela já despontava nas pesquisas, mas ainda sem a força de agora.
Foto: Reuters
Dilma Rousseff (PT)
O empate entre Dilma e Marina, segundo a última pesquisa de intenção de voto, foi destaque no segundo debate. Dilma disse que "a queda é momentânea" e negou a situação de recessão atribuída à economia brasileira. Ao falar da situação nos presídios, a petista defendeu uma mudança constitucional para instituir uma responsabilidade compartilhada entre governos federal, estadual e municipal.
Foto: Reuters
Marina Silva (PSB)
Quando perguntada sobre as propostas do PSB para a economia – como 10% do PIB para a Educação, 10% da receita bruta da União para a Saúde e passe livre para estudantes de escola pública –, Marina disse que o dinheiro virá de uma gestão mais eficiente das contas públicas. Quanto ao polêmico tema do aborto, a candidata disse ser contra a sua prática, mas a favor da realização de um plebiscito.
Foto: Reuters
Aécio Neves (PSDB)
Sobre o tema corrupção, Aécio falou das propostas de "um novo ciclo de governança" que pretende instalar no país, afirmando que "todas as denúncias devem ser investigadas". O tucano também abordou o tema recessão, atacando o governo atual. "Um país que não cresce, não gera empregos. Infelizmente essa é a herança perversa desse governo. O Brasil precisa de um novo ciclo de governo."
Foto: Reuters
Pastor Everaldo (PSC)
O candidato do PSC disse ser contra o aborto e defendeu a família tradicional "como está na Constituição". Pastor Everaldo prometeu ainda criar o Ministério de Segurança Pública, integrar as forças de segurança do país e atacar "a delinquência nas ruas". "Vamos fazer uma força-tarefa para que esse delinquente que rouba, que mata, que estupra seja severamente punido."
Foto: Miguel Schincariol/AFP/Getty Images
Luciana Genro (PSOL)
No tema economia, Luciana Genro voltou a usar a estratégia já adotada no primeiro debate de criticar as propostas dos três candidatos mais fortes. "Eles querem seu voto para governar com os mesmos de sempre", disse. "Os juros consomem todo nosso dinheiro, fazendo com que os bancos lucrem cada vez mais", afirmou ao propor uma alíquota de imposto sobre as fortunas no país.
Foto: Miguel Schincariol/AFP/Getty Images
Eduardo Jorge (PV)
Eduardo Jorge defende a descriminalização do aborto e a legalização das drogas. Ao ser questionado sobre tal posição em contraste com a defendida em 2010, o candidato do PV disse que, naquele momento de coligação com Marina, não seria possível defender tais ideias. "Como médico defendo isso há mais de 20 anos."
Foto: Miguel Schincariol/AFP/Getty Images
Levy Fidelix (PRTB)
Sobre o tema segurança pública, o candidato do PRTB defendeu a privatização das penitenciárias e a redução da maioridade penal. "Aqueles que praticam a morte com apenas 16 anos têm que ser punidos com maioridade penal reduzida imediatamente."