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"Curiosity está muito longe para coletar amostras"

Nádia Pontes30 de setembro de 2015

O brasileiro Nilton Renno foi o primeiro a perceber, em 2008, indícios de água salgada em Marte, informação agora confirmada pela Nasa. Ele explica por que analisar a água encontrada será mais difícil do que parece.

Robô Curiosity explora o solo marciano desde agosto de 2012
Foto: picture-alliance/dpa/NASA/JPL-Caltech/MSSS

Em 2008, o brasileiro Nilton Renno ficou paralisado quando viu uma das primeiras fotos enviadas pela sonda Phoenix, enviada pela Nasa a Marte no ano anterior. Uns pontinhos inesperados apareceram na imagem, o que Renno acreditava ser gotículas de água.

Ele era um dos pesquisadores que lideravam o projeto e estava, na verdade, em busca de poeira. Acabou desvendando, sem querer, a presença de água salgada no planeta vermelho. A informação foi confirmada nesta semana pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter, que também faz parte do projeto da Nasa, mas é liderada por outro grupo de pesquisadores.

Nascido em São José dos Campos, interior de São Paulo, Renno se formou em engenharia civil na Universidade de Campinas (Unicamp) e se mudou para os Estados Unidos para cursar o doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ele começou a se interessar pelos mistérios marcianos quando era professor na Universidade do Arizona. Desde 2002, pesquisa e leciona na Universidade de Michigan.

DW Brasil: Em 2008, durante a missão Phoenix, você foi o primeiro a notar as gotículas de água nas fotos enviadas pela sonda que acabara de pousar em Marte e foi bastante contestado por colegas na época. Como se sente agora, depois da confirmação feita pela Nasa da existência de água líquida no planeta vermelho?

Nilton Renno: Eu estou muito feliz. Procuro não me envolver muito emocionalmente com as pesquisas, porque, como pesquisadores, trabalhamos com muitas hipóteses que levam tempo para serem comprovadas. Mas o anúncio recente deixa toda a comunidade científica ansiosa.

Na época da missão Phoenix, eu era pesquisador na Universidade do Arizona, que trabalhava com a sonda que pousou em Marte a serviço da Nasa. Eu coordenava, na realidade, a equipe de ciências atmosféricas. O objetivo era estudar os ventos e medir a poeira na atmosfera marciana.

Mas numa das primeiras fotos que a sonda nos mandou, aparecia uns glóbulos estranhos, como umas gotas. Eu reparei naquela imagem e sugeri que aquilo pudesse ser água. Ninguém concordou comigo, afinal, nunca havia sido encontrada água fora da Terra. Mas, à medida que a pesquisa andou, ficou comprovado que, quando a Phoenix pousou, ela expôs o gelo, que derreteu e espirrou aquela água salgada na perna da espaçonave. E foi isso que apareceu na foto.

Você integra o grupo de pesquisa do robô Curiosity, o laboratório ambulante que vasculha o planeta desde 2012. É possível enviá-lo para vasculhar a área apontada pela Mars Reconnaissance Orbiter?

Nilton Renno: busca agora é por evidências de vidaFoto: Leisa Thompson

Não, isso não é possível. A área em questão está muito distante do Curiosity. Seria preciso enviar um novo equipamento, que pousaria mais perto. Um próximo passo seria enviar uma sonda que recolhesse amostras do planeta para serem avaliadas aqui na Terra. Mas essa seria uma missão caríssima, de muitos bilhões de dólares. Porque, até agora, todos os robôs enviados a Marte nunca foram programados para retornar.

A busca agora é por evidências de vida. Seria incrível se conseguíssemos encontrar bactérias marcianas.

E quais seriam os riscos de uma missão dessa dimensão?

É preciso muito cuidado para evitar qualquer tipo de contaminação, evitar a entrada na Terra de alguma bactéria desconhecida, por exemplo. Temos um grupo que discute esse tema, inclusive com a participação do Centro Aeroespacial Alemão (DLR). Mas ainda não há previsão para esse tipo de missão, que recolha amostras em Marte e traga o material para ser analisado aqui na Terra.

Como Marte passou a fazer parte do seu cotidiano?

O assunto começou a me interessar mais durante o meu doutorado, que defendi em 1992 no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Meu tema era ciência atmosférica do sistema solar. Logo na sequência, eu fui trabalhar na Universidade de Arizona porque aquele era o melhor lugar para fazer voo de planador, uma paixão minha desde a adolescência. Eu voava de planador sobre o Arizona e via aqueles redemoinhos se formando o tempo todo lá embaixo, e pensava como acontecia aquele levantamento da poeira, ou dust devil, segundo o termo em inglês. Eu desenvolvi, então, uma teoria que foi comprovada. Um professor meu amigo viu aquela teoria e me chamou para fazer parte do grupo de estudos de Marte, porque esse fenômeno também acontece lá. E nós conseguimos demonstrar que a teoria também podia ser aplicada para descrever esse levantamento de poeira lá em Marte.

A origem disso tudo foi a minha paixão por voar de planador.

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