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Curta que homenageia clássico brasileiro concorre em Berlim

9 de fevereiro de 2015

"Mar de Fogo", de Joel Pizinni, é a única chance de o Brasil levar um Urso de Ouro. Curta-metragem é filme-ensaio sobre "Limite", clássico brasileiro rodado na década de 1930.

Foto: Berlinale 2015

Um filme experimental de oito minutos sobre um grande e desconhecido clássico do cinema brasileiro é a maior chance de o Brasil brilhar na Berlinale 2015. Mar de Fogo, de Joel Pizinni, está entre os curtas-metragens selecionado para concorrer ao Urso de Ouro na Berlinale Shorts, mostra competitiva dos curtas.

"Estudava jornalismo e, quando vi uma cópia do filme, fiquei 'siderado'. Escrevia poemas e me impressionou que Limite não era sobre poesia, mas pensado de uma maneira poética. Ele tem uma gramática abstrata, um estado de condensação, quase como uma música", disse Pizinni em entrevista à DW Brasil.

Da palavra para a imagem

O jovem com aspirações poéticas largou as palavras e migrou para as imagens em movimento. Depois da faculdade, ele foi para Angra dos Reis atrás de Mario Peixoto, e os dois se tornaram amigos. Peixoto viria a falecer em 1992. Dessa admiração nasceu a vontade de fazer um filme que recriasse a vida do artista e a história de seu único filme.

"Fiz pesquisas, escrevi um primeiro tratamento do roteiro, mas o projeto nunca avançou por conta de circunstâncias da vida. Decidi então fazer um ensaio que narrasse essa pulsão, esse aspecto visionário", conta.

Construído a partir de imagens de arquivo e do próprio filme, o curta é um ensaio sobre a gênese da obra de Peixoto e recria livremente a visão do cineasta enquanto concebia sua obra-prima.

Um clássico desconhecido

Influenciado pela vanguarda francesa, Peixoto rodou Limite em 1930. O filme mostra um barco à deriva, onde duas mulheres e dois homens relembram o passado recente, e aborda de maneira poética a passagem do tempo e a condição humana. Lançado em 1931 no Rio de Janeiro, causou polêmica por seu aspecto inovador.

"Percebi que tinha uma identificação muito forte com essa linhagem que eu não sabia que existia no cinema brasileiro, mais poética e intimista", diz o cineasta.

Esquecido por muitos anos, Limite foi recuperado nos anos 1970 e aos poucos ganhou reconhecimento. Em 2007, uma versão restaurada foi exibida no Festival de Cannes. Ainda assim, o filme não é reconhecido fora do Brasil com um dos grandes clássicos do cinema mundial.

"É o cinema como uma percepção do mundo que leva em conta a subjetividade. O sonho, a imaginação e o mito têm uma natureza subjetiva, menos controlável. Um filme com essa dimensão onírica é um mergulho no desconhecido. Isso é fascinante e ao mesmo tempo assustador. Poesia envolve risco", diz Pizinni sobre Limite.

Recado enrustido

Em sua obra, Pizinni trabalha com pesquisa e ressignificação de imagem. O cineasta se diz surpreso com a seleção do filme para a competição oficial, já que seu caráter experimental combina mais com mostras como a Forum Expanded.

"A seleção é um recado enrustido e tem um efeito simbólico. Por que um curta inspirado num filme mudo de vanguarda da década de 1930 é selecionado quando nunca se produziu tanto filme no Brasil?", questiona o cineasta.

"O país nunca esteve tão ausente da competição dos grandes festivais. Fazemos mais filmes, mas onde está a identidade do nosso cinema? Depois que se esgotou o ciclo argentino, achávamos que seria a vez do Brasil, mas agora é a do Chile. Espero isso gere um debate", completa.

O filme de Pizinni concorre ao prêmio ao lado de 27 curtas de 18 países. "Linhas vermelhas percorrem o programa como um espelho de dois eixos. A seleção é colorida e selvagem, anarquista e sexy, reflexiva e paciente", escreve a curadora do programa, Maike Mia Höne, no catálogo do festival.

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