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Custo de vida: Alemanha tenta desarmar bomba-relógio social

4 de julho de 2022

Chefe de governo alemão, Olaf Scholz, está sob pressão para aliviar espiral de inflação. Ele discute o tema em reunião com empresários, sindicatos e políticos. Mas todos os lados têm ideias muito diferentes.

Olaf Scholz, de terno, concede uma entrevista a uma mulher, que tem cabelo longo e está de costas na foto.
Olaf Scholz busca uma "ação concertada" para contornar efeitos da alta da inflaçãoFoto: picture alliance/dpa

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, reuniu líderes de sindicatos e associações empresariais nesta segunda-feira (04/07) para iniciar o que as autoridades estão chamando de "ação concertada" para controlar a crise do custo de vida na Alemanha.

Exacerbada pelo estrangulamento estratégico da Rússia no fornecimento de gás à União Europeia (UE), a inflação subiu para 7,6% em junho, com políticos e altos funcionários já alertando que a energia precisaria ser poupada antes do outono europeu, a partir de 23 de setembro, quando começam os meses de frio.

"Os cidadãos precisam sobreviver", disse Scholz em entrevista à emissora pública ARD neste domingo. "E, se a conta de aquecimento aumentar repentinamente em algumas centenas de euros, pode ser uma quantia com que muitos realmente não conseguiriam arcar". Ele definiu a situação como um "barril de pólvora social".

Bônus únicos ou aumentos salariais?

O chefe de governo negou a informação que havia circulado na mídia alemã no fim de semana, de que planejava resolver a questão com pagamentos únicos aos consumidores, isentos de impostos.

Esses pagamentos pontuais do governo, especialmente para contas de aquecimento, foram sugeridos por membros de sua legenda, o Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda. Mas o governo de coligação tem feito questão de sublinhar que essa é apenas uma das muitas medidas que estão sendo avaliadas.

Marcel Fratzscher, presidente do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW), é um de  diversos economistas defendendo que a solução deve ser de longo prazo, não uma transferência única.

"Somente salários mais altos e benefícios sociais compensarão os danos aos cidadãos de média ou baixa renda", disse à agência de notícias alemã DPA. "Os pagamentos únicos não são direcionados, muitos não se beneficiam nada com eles."

Por sua vez, os principais sindicatos já prometeram negociar arduamente. Os chefes dos dois maiores da Alemanha, o IG Metall, que representa 2,26 milhões de trabalhadores industriais, e o Ver.di, dos prestadores de serviços, deram entrevistas na manhã desta segunda-feira dizendo que os salários precisam acompanhar a inflação.

Cada vez mais famílias alemãs estão lutando para sobreviverFoto: Ute Grabowsky/photothek/picture alliance

Mas poucos esperam avanços nas negociações. Um porta-voz do governo tentou gerir as expectativas sobre a reunião, ao afirmar que a questão é acordar quanto a um processo, não de apresentar soluções instantâneas, e que o objetivo é amortecer o golpe na renda da população, evitando uma "espiral de preços e salários”.

Fratzscher chamou esse conceito de "falso mito" e alertou contra seu uso durante a "ação concertada" com o fim de tentar impedir que os trabalhadores exijam salários mais altos. A tendência da renda, em geral, tem sido para ficar baixa demais, não demasiado alta. "Quanto mais o poder aquisitivo diminui, maiores são os danos à economia", disse Fratzscher.

Políticos da oposição já criticam a abordagem de Scholz. "Diante da posição de abertura, estamos curiosos para ver o que sairá de uma reunião de duas horas", disse Jens Spahn, vice-líder parlamentar da conservadora União Democrata Cristã (CDU), à rede de notícias RND, em tom sarcástico. "Precisamos agora é de uma redução permanente e direcionada do imposto de renda, para que haja mais alívio para os de baixa e média renda." Spahn acrescentou que o imposto sobre eletricidade deve ser reduzido.

Veronika Grimm, do Conselho Alemão de Especialistas Econômicos, composto por cinco membros que avaliam a política econômica do governo, disse que os cortes fiscais têm maior probabilidade de beneficiar os altos assalariados, enquanto quem recebe benefícios sociais é mais afetado pelo encarecimento da energia.

ONG Tafel, que distribui comida entre necessitados, viu aumento dramático na demandaFoto: Volker Witting/DW

Planos diferentes

Os partidos da coalizão de governo têm ideias diferentes sobre o que fazer em relação ao custo de vida. Os verdes afirmam que sua proposta recente – um ticket mensal de 9 euros para viagens em transporte regional e urbano em todo o país – foi um sucesso, e muitos estão pedindo que o programa seja estendido para além do verão europeu.

Mas, sem dúvida, o parceiro de coalizão mais poderoso é o neoliberal Partido Liberal Democrático (FDP), cujo líder, Christian Lindner, também é o ministro das Finanças. Antes da reunião da segunda-feira, Lindner alertou que era contra qualquer despesa estatal extra.

"Precisamos de alívio direcionado, a fim de reduzir a perda do poder aquisitivo", declarou à ARD. "E, depois, incentivos para que se produza mais, sem dinheiro do Estado, para aumentar a produtividade." Ele defende acordos de livre comércio ou imigração mais altamente qualificada.

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