Díaz-Canel é eleito líder do Partido Comunista de Cuba
19 de abril de 2021
Presidente cubano vai substituir Raúl Castro no comando da legenda. Sucessão marca fim de seis décadas da era castrista, mas novo líder anunciou continuidade e deve manter sistema socialista de partido único.
Anúncio
O governista Partido Comunista de Cuba (PCC) elegeu o presidente do país, Miguel Díaz-Canel, como seu novo líder nesta segunda-feira (19/04), no quarto e último dia do congresso da legenda em Havana. Raúl Castro havia anunciado sua renúncia ao cargo na sexta.
A sucessão marca o fim de mais de seis décadas de governo pelos irmãos Fidel e Raúl Castro, sob cuja liderança os revolucionários cubanos conquistaram Havana em 1º de janeiro de 1959, pondo fim à ditadura de Fulgencio Batista.
Díaz-Canel, que nasceu um ano depois da revolução e tem hoje 60 anos, havia sucedido a Raúl Castro como presidente cubano em 2018, e já era amplamente esperado que ele assumisse também o posto de primeiro secretário do partido, o cargo mais poderoso do país, após a aposentadoria de seu antecessor.
"Díaz-Canel não é fruto de improvisação, mas da seleção cuidadosa de um jovem revolucionário que tem tudo o que é necessário para ser promovido a cargos mais altos", afirmou Castro no discurso de abertura do congresso na sexta-feira, quando confirmou sua renúncia à presidência do partido.
O atual presidente cubano e novo líder do PCC comandou a legenda em duas províncias antes de ingressar no governo nacional como ministro da Educação em 2009. Em 2013, se tornou vice do então presidente Raúl Castro.
A transição de poder marca um divisor de águas para o país de 11,2 milhões de habitantes, muitos dos quais não conheceram um líder que não fosse um Castro. Fidel Castro, ainda reverenciado como pai e salvador de Cuba, comandou o país de 1959 a 2006, quando adoeceu e seu irmão assumiu.
Contudo, o fim da era Castro não deve resultar em mudanças políticas dramáticas. Díaz-Canel tem enfatizado, desde que se tornou presidente, que busca dar continuidade à gestão castrista, e não se espera que ele afaste Cuba de seu sistema socialista de partido único, embora esteja sob pressão para promover reformas econômicas.
"O mais revolucionário dentro da Revolução é sempre defender o partido, da mesma forma que o partido deve ser o maior defensor da Revolução", disse o presidente nesta segunda-feira.
Ele garantiu que Castro continuará sendo consultado sobre "decisões estratégicas" acerca do futuro da nação. Aposentado, o ex-presidente dará "direção e alertará sobre qualquer erro ou deficiência, pronto para enfrentar o imperialismo como fez pela primeira vez com seu rifle", disse Díaz-Canel em discurso no congresso.
Centenas de delegados do partido se reuniram durante os quatro dias do evento em Havana, usando máscaras e se sentando com várias cadeiras de distância entre si, em meio ao pior surto de covid-19 no país desde o início da pandemia.
O evento é o encontro mais importante da legenda, sendo realizado a cada cinco anos para revisar as políticas e eleger suas novas lideranças.
No congresso anterior, em 2016, Castro já afirmara que aquele seria o último a ser presidido pela chamada geração histórica dos que lutaram na Sierra Maestra para derrubar o governo do ditador Fulgencio Batista, apoiado pelos Estados Unidos.
Anúncio
Nova cúpula
Além de Raúl Castro, de 89 anos, deixam de fazer parte da cúpula outros dirigentes históricos, como o atual número 2 do partido, José Ramón Machado-Ventura, o comandante Ramiro Valdés e Marino Murillo, considerado o líder das reformas econômicas iniciadas há uma década.
Entre os novos integrantes estão o primeiro-ministro do país, Manuel Marrero, e Luis Alberto Rodríguez López-Callejas, ex-genro de Raúl Castro e chefe do conglomerado cubano de propriedade militar Gaesa, que controla os ativos econômicos mais valiosos do país.
Continuam no órgão de direção, além de Díaz-Canel, o presidente do Parlamento, Esteban Lazo; o vice-presidente, Salvador Valdés; o vice-primeiro-ministro, Roberto Morales; e o ministro do Exterior, Bruno Rodríguez, entre outros.
Ao todo, a nova composição da cúpula conta com 14 dirigentes, três a menos do que a anterior. Entre eles, há três veteranos com mais de 70 anos e três mulheres: a presidente da Federação de Mulheres Cubanas, Teresa Amarelle; a cientista e diretora do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia, Marta Ayala; e a primeira secretária do partido em Artemisa, Gladys Martínez.
Os militares estão representados pelo recém-nomeado ministro das Forças Armadas Revolucionárias, o general do Exército Álvaro López Miera; o general de Divisão Lázaro Álvarez Casas; e Rodríguez López-Callejas, que é general de Brigada.
A nova composição foi nomeada pelo Comitê Central eleito na véspera pelos 300 delegados que assistiram ao evento, representando os mais de 700 mil militantes.
ek/lf (Reuters, Efe, AFP)
O fim da era Castro em Cuba
Quase nada em Cuba lembra de como era a vida antes dos Castro. O dia 19 de abril de 2018 marca o fim das quase seis décadas de governo dos irmãos Fidel e Raúl.
Foto: Reuters
1959 - A revolução triunfa
O rebeldes liderados por Fidel Castro chegam ao poder depois de derrubar o ditador Fulgencio Batista em janeiro. Os EUA reconhecem o novo governo. Logo, "leis revolucionárias" (como a reforma agrária) afetam empresas americanas. Em dezembro, o presidente republicano Dwight D. Eisenhower aprova um plano da CIA para derrubar Castro em um ano e substitui-lo por "uma junta amiga dos EUA".
Foto: AP
1960 − Aproximação com a União Soviética
Eisenhower proíbe exportações para Cuba (exceto de alimentos e remédios) e suspende a importação de açúcar. Cuba responde nacionalizando bens e empresas americanas e estabelecendo relações diplomáticas e comerciais com a União Soviética. No funeral das vítimas da explosão do cargueiro francês La Coubre (foto), Cuba responsabiliza a CIA, e Castro lança seu lema "pátria ou morte!"
Foto: AP
1961 − Ruptura e invasão fracassada
Os EUA rompem relações diplomáticas com Cuba e fecham sua embaixada em Havana em 3 de janeiro. Após uma série de bombardeios em aeroportos e incêndios em estabelecimentos comerciais, cuja autoria Cuba atribui aos EUA, Fidel proclama o caráter socialista da revolução em 16 de abril. Entre 17 e 19 daquele mês, cubanos treinados pelos EUA tentam invadir a ilha pela Baía dos Porcos, mas fracassam.
Foto: AP
1962 - A crise dos mísseis
"Não sei se Fidel é comunista, mas eu sou fidelista", disse em 1960 o líder soviético Nikita Kruchov. Moscou reata relações diplomáticas com Havana e eleva seu apoio. A URSS instala bases de mísseis nucleares em Cuba, desencadeando a "crise dos mísseis". Moscou cede à pressão de Kennedy em troca de os EUA se comprometerem a não invadir Cuba e desativarem suas bases nucleares na Turquia.
Foto: imago/UIG
1971 – Fidel Castro no Chile
O episódio da Baía dos Porcos acelera a proclamação do caráter socialista, marxista-leninista, da revolução. Cuba acaba sendo expulsa da Organização dos Estados Americanos. Castro fica isolado no continente, mas não para sempre. Ele é recebido no Chile pelo presidente Salvador Allende (foto), que iria ser derrubado por Augusto Pinochet em 1973.
Foto: AFP/Getty Images
1989 – A hora da Perestroika
A chegada ao poder de Mikhail Gorbatchov em Moscou marca o início da era da Glasnost e Perestroika. A Cortina de Ferro começa a ruir, e o império soviético se esfacela. Cuba perde sua principal base de sustentação no exterior, entrando em crise aguda. Milhares de cubanos tentam fugir para Miami em embarcações precárias. Muitos analistas preveem o fim do regime castrista.
Foto: picture-alliance/dpa
1998 – Primeira visita do papa
Um decreto de Pío 12 proibia aos católicos o apoio a regimes comunistas. Em virtude disso, o Vaticano excomungou Fidel Castro em janeiro de 1962. Mas, com o fim da Guerra Fria, chega o momento da reaproximação: em 1996, Castro visita o papa João Paulo 2°, e este retribui a visita dois anos depois, em viagem considerada histórica.
Foto: picture-alliance/AP/Michel Gangne
2002 - Fidel Castro e Jimmy Carter jogam beisebol
Desde que os EUA impuseram seu embargo comercial, econômico e financeiro, em 1962, houve poucos momentos de distensão entre Washington e Havana. Um deles foi a viagem do ex-presidente americano Jimmy Carter a Cuba, em 2002, motivada pela intenção de encontrar pontos de aproximação.
Foto: Adalberto Roque/AFP/Getty Images
2006 - Fidel e Hugo
A partir dos anos 90, Cuba deixa de ser vista como uma perigosa exportadora de revoluções. Com a derrocada do bloco comunista no Leste Europeu, as ideologias de esquerda entram em crise. Mas, na Venezuela, chega ao poder um novo dirigente, disposto a propagar a "Revolução Bolivariana". Hugo Chávez, declarado admirador de Fidel, passa a dar a Havana um respaldo importante, também na área econômica.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb
2006 - A entrega do poder
A doença forçou Fidel Castro a abandonar o poder. Em 2006, ele o deixa nas mãos de seu irmão Raúl, uma garantia de que não haveria reviravoltas num sistema que, apesar dos avanços em educação e saúde, cobrou um alto preço: o da falta de liberdade e repressão. Fidel foi se despedindo do poder aos poucos, defendendo até o fim sua visão, através das páginas do jornal "Granma".
Foto: picture-alliance/AP Photo/Cristobal Herrera
2014 - Degelo temporário
Em dezembro de 2014, os presidentes dos EUA, Barack Obama, e o de Cuba, Raúl Castro, anunciaram que retomariam as relações diplomáticas. Obama visitou Cuba em março de 2016. Haviam se passado 88 anos desde a última vez que um presidente americano viajara à ilha. EUA retirou Cuba da lista de terrorismo, dando início ao processo de retomada das relações diplomáticas.
Tantas vezes anunciada e desmentida, a morte do líder foi inicialmente recebida com desconfiança. Entretanto, em 25 de novembro de 2016, os bares fecharam mais cedo e as reuniões de amigos nas ruas se dispersaram com a notícia. Durante anos, Fidel Castro desmentiu rumores de sua morte com a publicação de fotografias ou artigos de opinião.
Foto: Getty Images
2018 – A sucessão
Depois de dez anos, Raúl Castro se retira do poder. Em 19 de abril, o Parlamento cubano elegerá um sucessor que, pela primeira vez em quase 60 anos, não leva o sobrenome Castro: o vice de Raúl, Miguel Díaz Canel. Entretanto, analistas julgam improvável que o curso político em Cuba se modifique logo.