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Dólar favorável ajuda brasileiros que não curtem futebol a fugir da Copa

Fernando Caulyt4 de junho de 2014

Sem disposição ou interesse em participar do clima de Copa, muitas pessoas optam pelo exterior e elevam em 20% venda de pacotes internacionais para época do Mundial.

Foto: Getty Images/AFP/VANDERLEI ALMEIDA

Enquanto mais de 600 mil turistas estrangeiros devem viajar para o Brasil para viver o clima de Copa do Mundo no país do futebol, muitos brasileiros aproveitam os feriados mais longos por causa do megaevento para fazer o caminho inverso – seja porque não gostam do Mundial e querem tranquilidade, seja por causa dos elevados preços nas cidades-sede.

De acordo com a Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav Nacional), o número de viagens internacionais aumentou cerca de 20% durante a Copa em relação ao mesmo período de férias de 2013. Entre os estímulos estão o dólar mais fraco – hoje em torno de 2,20 reais – e o parcelamento oferecido pelas agências de viagens na compra de passagens aéreas e pacotes turísticos para o exterior.

Os destinos mais procurados pelos brasileiros durante a Copa são países da América do Sul – sobretudo Uruguai, Argentina e Peru –, além dos clássicos Estados Unidos e Europa. O fenônemo teve reflexo no mercado interno: apenas 26,5% das passagens aéreas em voos extras para a Copa foram vendidas, e 45% dos quartos de hotel nas cidades-sede ainda estão vazios.

"Nesse cenário, os preços dos pacotes turísticos para destinos nacionais estão agora altamente convidativos. As tarifas, que começaram o ano em alta, caíram até 68% desde março, uma vez que a demanda por pacotes para o período da Copa ficou abaixo do esperado", afirma Edmar Bull, vice-presidente da Abav Nacional.

Ele acrescenta, ainda, que acontece no Brasil o mesmo que aconteceu na África do Sul e na Alemanha. Ao mesmo tempo em que o megaevento proporciona grande visibilidade midiática para os atrativos turísticos do país, ocorre a retração da demanda regular de viagens de negócios. "É importante lembrar que, no Brasil, o mercado de viagens corporativas responde por mais de 60% da movimentação do setor", cita Bull.

Ocupação média de 26,5% nos voos nacionais

A queda nos preços das passagens aéreas e hotéis no Brasil demorou a acontecer. No final do ano passado, antes da divulgação da malha aérea com voos extras das companhias aéreas brasileiras, passagens eram vendidas dez vezes mais caras do que os preços de um dia normal e mais salgadas do que em épocas movimentadas, como Carnaval, Natal e Ano Novo.

Após a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) aprovar, em meados de janeiro, 1.973 voos extras nacionais e internacionais para o período do Mundial, os preços caíram, e agora as companhias aéreas fazem até promoções para tentar lotar suas aeronaves. Há sinais de que pode ser tarde demais. Segundo dados divulgados pela Anac em 15 de maio, a média de ocupação dos voos durante a Copa está em 26,5%.

Já os quartos de hotel – que não estavam bloqueados pela operadora de turismo oficial da Fifa, a agência suíça Match – e que eram comercializados por operadoras de turismo e sites de busca de preços de hospedagem chegaram a custar no final do ano passado mais de 300% do valor da diária num dia comum.

De acordo com Marco Ferraz, presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), outra explicação para a baixa procura pelos pacotes para as cidades-sede é o fato de a Fifa, desta vez, não ter liberado a venda de ingressos casada com pacotes de viagem, o que, segundo ele, causou um enorme prejuízo para os operadores de turismo e para o país.

"É a primeira vez que não temos acesso aos ingressos da Copa. Nos outros Mundiais, as operadoras oficiais tinham acesso a ingressos, e podíamos vender no mínimo três jogos. E, entre uma partida e outra, tem turismo", diz Ferraz. "Mas, desta vez, o turista comum que teve acesso a um ou dois ingressos [pelo sorteio da Fifa] acaba indo e voltando no mesmo dia do jogo. Isso é prejudicial porque a pessoa não gasta em turismo."

São Paulo tem a menor ocupação média

A baixa ocupação também é verificada nos hotéis. De acordo com um levantamento do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), divulgado na metade de maio, a ocupação média nos hotéis localizados nas 12 cidades-sede nos dias de jogos e nas vésperas das partidas é de 55%. A organização, que representa mais de 280 hotéis de 19 redes associadas, tem a expectativa de que a taxa suba para 65% até o início do Mundial.

As menores ocupações são registradas nas redes hoteleiras de São Paulo (31%) e Curitiba (56%). Nas demais, as médias estão dentro do considerado normal pelo setor – Salvador (67%), Belo Horizonte (67%), Porto Alegre (71%), Fortaleza (77%), Manaus (77%), Brasília (79%), Cuiabá (83%), Natal (84%), Recife (84%) e Rio de Janeiro (88%).

"A expectativa está dentro do esperado para a demanda. As taxas de ocupação dependem, exclusivamente, da atratividade dos jogos e do equipamento turístico que cada cidade-sede possui para criar ainda mais atrativos para este turista de lazer", diz Roberto Rotter, presidente do FOHB. "No geral, com exceção de São Paulo, todas as cidades-sede estão com bons índices de ocupação, gerando em torno de 70% a 80% de ocupação, dependendo do jogo."

O jogo que deve gerar a maior ocupação será Japão contra Colômbia, em Cuiabá, em que 99% dos leitos dos hotéis associados ao FOHB estarão ocupados. A segunda maior ocupação será o confronto entre Brasil e México em Fortaleza, com ocupação de 98%. Na lanterna da ocupação estão os confrontos entre Coreia e Bélgica (29%), além de Holanda e Chile (32%), jogos que serão realizados em São Paulo.

Na capital paulista – que possui o maior parque hoteleiro do país, com 42 mil apartamentos – o hóspede de lazer não vai substituir o de negócios, já que várias feiras e congressos mudaram sua data de realização por conta da Copa. "São Paulo é uma cidade caracterizada pelo turismo de negócios, e essa substituição pelo turista de lazer não será suficiente para ocupar todos os leitos da cidade", completa Rotter.

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