1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Filosofia

(sm)13 de novembro de 2006

Ensaios recém-publicados de pensadores alemães investigam a produtividade da ira, a consciência da visibilidade humana e a memória cultural alemã.

Sloterdijk resgata a ira para o Ocidente

Em seu último livro, Zorn und Zeit (Ira e Tempo), o filósofo Peter Sloterdijk traça um panorama sobre a ira na história do pensamento ocidental e redescobre a função deste conceito para o século 21.

Em vez de adotar a visão psicanalítica da ira como válvula de escape para desejos não realizados, Sloterdijk toma este sentimento como um traço humano natural, redescobrindo sua produtividade. Ele esboça diferentes funções deste conceito desde a antiguidade grega, em que a ira era considerada nociva, mas não deixava de ser apreciada pelo fato de criar heróis, até a depreciação deste conceito nas sociedades ocidentais que – sobretudo após a grande ruptura das duas guerras mundiais – nomearam a justiça como valor central.

Sloterdijk analisa o efeito paralisante da repressão da ira produtiva. Para o filósofo, "grande política só se realiza no modo de exercício de equilíbrio. Exercitar o equilíbrio significa não se esquivar de nenhuma luta necessária e não provocar nenhuma supérflua. Também significa não dar por perdida a disputa com a destruição ambiental e com a desmoralização generalizada".

O ensaio de Sloterdijk, professor de Estética e Filosofia em Karlsruhe, foi lido pela crítica como uma reabilitação da ira para o Ocidente, sobretudo diante do radicalismo islâmico, interpretado pelo filósofo como uma ideologia fundada apenas em vingança e ressentimento.

Peter Sloterdijk: Zorn und Zeit. Politisch-pschychologischer Versuch (Ira e Tempo: Ensaio político-psicológico). Frankfurt a.M.: Suhrkamp Verlag, 2006; 356 p.

O filósofo Hans Blumenberg (1929-1996) marcou o pensamento alemão sobretudo através de sua espirituosa reflexão hermenêutica nos campos estético e poético. Dez anos após sua morte, o leitor alemão tem acesso agora a um outro aspecto da sua obra: a fundamentação de uma antropologia fenomenológica.

O ponto de partida de Beschreibung des Menschen (Descrição do Homem) é que o ser humano é visível. O Homo sapiens se distingue por sua capacidade de ver e se fazer ver. Ao otimizar sua percepção visual, ele corre o risco de uma elevada visibilidade. Expor-se dessa forma ao ambiente leva o ser humano a desenvolver formas de auto-encenação, mas também modos de disfarce e dissimulação. Visibilidade também significa intransparência. O homem não é transparente nem para os outros e nem para si. Além disso, a visibilidade levaria à auto-referência, pois a consciência de poder ser visto conduziria à reflexão.

Com essas teses, Blumenberg desafia a fenomenologia de Edmund Husserl, relutante contra a assimilação da sua filosofia pela antropologia. A crítica alemã apreciou a edição desta parte desconhecida da obra de Blumenberg, sem deixar de destacar as dificuldades que o texto impõe ao leitor.

Hans Blumenberg: Beschreibung des Menschen (Descrição do Ser Humano). Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 2006; 656 p.

A teoria da memória cultural é central no pensamento alemão contemporâneo, dada a necessidade de elaborar o passado nazista desde o pós-guerra. Aleida Assmann, professora de teoria literária e letras anglo-germânicas na Universidade de Konstanz, prossegue sua contínua reflexão sobre esse assunto num novo livro, em que aborda reflexões recentes sobre a ruptura histórica que representaram o nazismo e a Segunda Guerra.

O que move a pesquisadora é a defesa de uma base coletiva de construção do passado que não exclua o aspecto individual da lembrança. O tema central, portanto, é a tensão entre a memória oficial e a experiência pessoal. Assmann aborta, para tal, assuntos polêmicos debatidos pela opinião pública alemã nos últimos anos, como a exposição itinerante sobre os crimes do Exército alemão durante o Terceiro Reich, as investigações sobre os bombardeios contra as cidades alemãs, entre outros debates.

O livro de Assmann, intitulado Der lange Schatten der Vergangenheit (A longa sombra do passado), dividiu a opinião da crítica. Por um lado, foi elogiado pelo embasamento téorico e o mapeamento do debate contemporâneo sobre memória cultural na Alemanha. Recebeu críticas, por outro lado, de leitores que vêem nesta obra a redução da história recente alemã à teoria da autora sobre a memória coletiva.

Aleida Assmann: Der lange Schatten der Vergangenheit – Erinnerungskultur und Geschichtspolitik (A Longa Sombra do Passado – Cultura da Memória e Política Histórica). München: C. H. Beck, 2006; 320 p.
Pular a seção Mais sobre este assunto