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Da Reunificação ao Século 21

O processo de reunificar a Alemanha revelou-se mais lento e oneroso do que previsto, levando ao fim da era Helmut Kohl. A Alemanha unificada entrou no século 21 encabeçada por Gerhard Schröder e depois por Angela Merkel.

No país reunificado, as diferenças persistem

Em 3 de outubro de 1990, consumou-se a unificação dos dois Estados alemães. A data tornou-se feriado nacional. Mas o processo de aproximação, ou "união interna", apenas começara. Durante 45 anos os alemães haviam vivido em dois mundos completamente diferentes. Logo ficou claro que seriam necessários enormes esforços para que os alemães-orientais, logo batizados de ossis (derivado de Ost, leste), e os wessis (de West, oeste) se integrassem, sentindo-se um só povo.

O peso dessa integração não foi dividido igualmente. Dos novos cidadãos da República Federal da Alemanha (RFA), exigiu-se enorme capacidade de adaptação. Da noite para o dia, os alemães-orientais viram-se às voltas com um novo sistema, que lhes era estranho e no qual tinham que encontrar seu lugar.

Sobre os ombros dos alemães-ocidentais recaiu outra carga. Tiveram de pagar a conta da unidade. Só entre 1991 e 1999, a transferência de recursos das unidades federadas ocidentais para as cinco unidades orientais, chamadas de novos estados alemães ultrapassou o valor astronômico de 1 trilhão de marcos (mais de 602 bilhões de euros).

Ilusões e desilusões de uma troca de sistemas

O chanceler federal alemão, Helmut Kohl, prometera um desenvolvimento ímpar aos alemães-orientais na campanha eleitoral de 1990. A região, assegurava, se transformaria em "paisagens florescentes". Mas a economia sentiu o baque das mudanças repentinas, o desemprego aumentou, e muitos se sentiram desiludidos e enganados.

Os sinais de progresso, entretanto, logo se fizeram notar de fato no Leste alemão. O sistema de transportes foi renovado completamente, com construção e ampliação das redes rodoviária e ferroviária. A rede de telecomunicações ali instalada é das mais modernas do mundo. Deteriorados, prédios abandonados durante décadas foram restaurados. Colocou-se também um ponto final na destruição ambiental causada durante o período comunista, e os piores danos ao meio ambiente foram saneados.

O que contribuiu para a sensação de desilusão nos anos após a reunificação foi a expectativa de que as condições de vida da RFA pudessem ser transpostas ao Leste alemão num curto espaço de tempo. Também no Ocidente, muitos alimentaram tal ilusão, achando que bastava uma forte injeção financeira para a economia deslanchar.

Um dos motivos para que essa expectativa não fosse cumprida foi o fato de a produtividade da antiga Alemanha comunista ter sido calculada de forma equivocada. No Tratado da Unificação, considerou-se que a produtividade na RDA equivalia a 60% daquela da Alemanha Ocidental, enquanto, na verdade, ela correspondia a somente 30% da produção no Oeste.

Com a unificação monetária e econômica, as empresas ultrapassadas da RDA ficaram expostas à concorrência internacional da noite para o dia. Os salários tiveram um aumento de 65% no primeiro ano da reunificação, fazendo com que se ampliasse mais ainda a disparidade entre a produtividade e os custos salariais.

A troca do marco oriental pelo ocidental em proporção favorável à população oriental foi fatal para as empresas endividadas. O desmoronamento do mundo socialista e o colapso total dos mercados dos países da Europa Oriental, os principais compradores dos produtos da RDA, foram o tiro de misericórdia nas empresas alemãs-orientais.

O Instituto Fiducidário: liqüidação com prejuízo

Sede do Fundo Fiduciário, em BerlimFoto: dpa

Para implementar a transição da economia socialista planificada para a economia de mercado, foi criado o Instituto Fiducidário (Treuhandanstalt). Até sua dissolução, em 1994, ele vendeu, saneou ou fechou 15 mil empresas, instalações e imóveis, entre os quais 8 mil estatais ou grupos mistos.

O departamento foi criado pelo último governo da RDA para administrar o patrimônio estatal, avaliado, em 1990, em cerca de 900 bilhões de marcos (460 bilhões de euros). Mas o valor estimado deste patrimônio despencou em pouco tempo: ainda no fim de 1990, baixou para o equivalente a 306,7 bilhões de euros, e um ano depois, para 102,2 bilhões de euros. Ainda piores foram os resultados das vendas, com as quais só obteve, de fato, 34,25 bilhões de euros.

Altas somas foram investidas para saldar antigas dívidas de empresas e sanear os danos causados ao meio ambiente durante o período comunista, a fim de atrair compradores. Ao encerrar suas atividades, o Instituto Fiducidário registrava um déficit de 131 bilhões de euros. Na prática, para cada marco que a iniciativa privada gastou na compra do patrimônio alemão-oriental, os cofres públicos tiveram que desembolsar quase quatro vezes mais.

O desastre econômico nos novos estados foi completo. Nem mesmo as mercadorias competitivas da produção local encontravam compradores no mercado interno alemão-oriental, porque as pessoas estavam ávidas por provar e consumir os produtos ocidentais, que só conheciam através da publicidade pela televisão.

Com o aumento dos salários, as vendas para a Alemanha Ocidental e a exportação para outros países da União Européia cessaram repentinamente. As mercadorias já não podiam ser exportadas a preços que cobriam apenas parte dos custos de produção. Quase toda a indústria manufatureira nos novos estados alemães entrou em colapso.

Uma cara equiparação

O número de desempregados nos estados da Alemanha Oriental aumentou rapidamente nos primeiros anos após a reunificação. De 1991 para 1997, subiu de 913 mil (10,7%) para 1,35 milhão (17,4%) – ou,2,28 milhões, incluindo-se os números não-oficiais. Por outro lado, embora numericamente menor, a população empregada foi se tornando responsável por um Produto Interno Bruto (PIB) cada vez maior: 105,3 bilhões de euros em 1991, 192,2 bilhões em 1995, 253 bilhões em 2002. O crescimento econômico no Leste alemão superou o da parte ocidental do país nos primeiros anos da reunificação até 1996, mas depois perdeu em dinâmica.

Os novos estados alemães não teriam conseguido oferecer a seus habitantes condições de vida semelhantes às do Ocidente se não fosse pelas transferências de capital. A maior parte dos recursos saiu do orçamento federal. As transferências começaram em 1990, com o início do conjunto de medidas do governo federal que veio a ser chamado de Aufbau Ost (Reconstrução do Leste). Em 2004, o relatório anual do programa calculou em 1,25 trilhão de euros o volume de recursos injetado no Leste desde 1990.

Imensas somas foram empregadas no financiamento do seguro-desemprego e das aposentadorias de pessoas que não tinham contribuído para o sistema.

Para o financiamento dessas somas astronômicas, a Alemanha contraiu dívidas. Em comparação a outros países, ela não tinha até então uma dívida externa alta. Em 1989, seus compromissos somavam 474,9 bilhões de euros, o que representava 42% do PIB. No fim de 1996, entretanto, a dívida pública saltara para 1,088 trilhão de euros (60% do PIB).

Além das transferências de capital para o Leste, a soma engloba o endividamento da parte ocidental do país. Em 2005, a dívida pública chegou a 1,45 trilhão de euros. Por cinco anos consecutivos (2002 a 2005), o déficit orçamentário da Alemanha ultrapassou o limite de 3% permitido pelo Pacto de Estabilidade da zona do euro.

Efeitos da globalização e da reunificação

Os problemas econômicos relacionados à reunificação somaram-se aos da nova fase em que entrava a economia alemã: a da globalização. O primeiro momento foi marcado pela desindustrialização, associada à ampliação do setor de serviços.

Tal racionalização contribuiu para o aumento da produtividade, o que explica o boom das exportações, que vêm batendo recordes sucessivos desde os anos 90. Ultrapassaram a marca dos 500 bilhões de euros no fim da década de 90, e em 2006 alcançaram inéditos 896 bilhões de euros.

A globalização, com a transferência de fábricas e serviços para países com mão-de-obra mais barata que na Alemanha industrializada, foi um dos principais fatores do desemprego. Entre 1991 e 1994, a indústria cortou 24% dos empregos no país. Na parte ocidental, a taxa de desemprego passou de 10,2% em 1991 (1 milhão de pessoas) para 19,2% (1,47 milhão) em 2006. O índice aumentou no país como um todo: passou de 7,3% (2,6 milhões) em 1991 a 12% (4,48 milhões) em 2006, depois de chegar ao recorde de 13% em 2005 (4,86 milhões). A linha divisória persiste no país: em 2006, contra os 19,2% desempregados no Leste, havia 10,2% de desempregados no Oeste.

Por mais que a equiparação das condições materiais de vida no Leste e no Ocidente tenha avançado, o caminho ainda é longo. O Aufbau Ost prevê medidas até 2019 para eliminar as diferenças. A tênue linha que ainda distingue um território do outro não tem mais cunho político, mas sim econônimo: os cincos "novos estados" ainda são mais pobres do que os irmãos do Oeste. Além das taxas de desemprego mais altas, os salários são mais baixos - em 2005, equivaliam a 81,4% da média ocidental. O mesmo vale para o PIB per capita: 29 mil euros no Oeste contra 20,1 mil euros no Leste (equivalente a 69,5%).

Troca de comando e de capital

Nova Chancelaria Federal em BerlimFoto: AP

Berlim retomou seu status de capital da República Federal da Alemanha ainda em 1990, com a reunificação, mas a decisão de transferir as sedes do governo e do Parlamento para lá foi tomada em 1991, e concretizada apenas em 1999. A votação da proposta no Bundestag, em 1991, venceu por somente 17 votos de diferença. A decisão causou polêmica na época – causava estranhamento a ex-capital do Reich voltar a ser o centro do poder do país. Em 19 de abril de 1999, aconteceu a primeira sessão na nova sede do Parlamento: o Reichstag, que foi inteiramente restaurado e ganhou uma cúpula de vidro para simbolizar a transparência da instituição.

O ano de 1998 foi marcado pelo fim da era Helmut Kohl e a entrada em cena de Gerhard Schröder, o primeiro chanceler social-democrata desde 1982. Kohl, o chanceler da reunificação, não conseguiu levar seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), a uma nova vitória - principalmente devido ao alto desemprego e às expectativas frustradas de uma rápida recuperação do Leste.

Formando uma coalizão com a Aliança 90/Os Verdes, o Partido Social Democrata (SPD) saiu na frente com 40,9% dos votos nas eleições parlamentares de 1998. Graças à aliança, o resultado levou o partido ecologista (que obteve 6,2% dos votos) pela primeira vez ao governo federal na Alemanha. Também pela primeira vez, o Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do SED da Alemanha Oriental, conseguiu o mínimo de votos necessário para ter bancada no Parlamento (5%) - façanha que não conseguiria repetir nas eleições seguintes, em 2002.

A União Monetária e os desafios do futuro

Como grande partidário da integração européia, Kohl ajudou a preparar o terreno para a planejada União Monetária. Mas coube a Schröder conduzir o país à nova era que se iniciou na Europa em 1º de janeiro de 1999, com a introdução do euro como moeda contábil. A Alemanha e dez países-membros da UE abdicaram de suas moedas nacionais em favor da nova moeda comum na zona do euro.

A introdução da moeda comum e as condições de admissão na União Monetária foram fixadas em 1992 no Tratado de Maastricht, entre os chefes de Estado e governo da UE. No tratado, que passou a valer em 1993, os países parceiros se comprometeram em adotar uma política exterior e de segurança comum e fortalecer a cooperação em relação a política interna, justiça, política de imigração e combate a drogas e criminalidade. Foi um importante passo rumo à união política da Europa.

Para os alemães não foi fácil despedir-se do marco e aceitar o euroFoto: AP

Ao contrário de alguns países europeus, a Alemanha teve um alto grau de aceitação da integração européia. Mesmo após a reunificação, o índice de aprovação à idéia sempre esteve acima de 50%, chegando a atingir até 70%. Não obstante, foi difícil para os alemães se despedirem do marco alemão, a moeda que simbolizara o "milagre alemão" do pós-guerra e ficara associada à estabilização da economia. Em 1998, ainda havia grande rejeição ao euro na Alemanha.

A nova unidade monetária entrou em circulação em 1º de janeiro de 2002. Embora tenham se acostumado à nova moeda, muitos alemães associam o euro à queda do poder aquisitivo nos anos de estagnação do crescimento que marcaram o início do novo milênio. Ainda hoje há quem se refira ao marco alemão com um ar de "aqueles eram os bons tempos".

Atual legislatura

Nas eleições parlamentares de 2002, o Partido Social Democrata de Schröder perdeu votos (38,5%), mas conseguiu manter-se no poder em coalizão com o Partido Verde (8,6%). Durante a campanha eleitoral, chegou a delinear-se uma possível vitória da oposição, mas o chanceler conseguiu reverter a situação no último momento com seu categórico "não" a uma participação da Alemanha na guerra do Iraque. O fracasso no combate ao desemprego foi um ponto que por pouco não custou a reeleição de Gerhard Schröder.

Além dos desafios de combater o desemprego, que continuou aumentando durante seu governo, e manter o Estado alemão financiável, diante do envelhecimento da população, Schröder acompanhou a ampliação da União Européia: em 2004, dez novos membros ingressaram na comunidade, representando uma delicada época de transição.

Ao longo do segundo mandato, a perda de espaço do SPD nas eleições estaduais foi dificultando a aprovação de reformas no Parlamento. Com uma base de apoio cada vez menor, Schröder anunciou, em maio de 2005, que tentaria antecipar as eleições parlamentares previstas para o ano seguinte.

As novas eleições aconteceram, afinal, em setembro de 2005, e resultaram num impasse: nem o SPD (em aliança com o Partido Verde) nem a CDU (aliada à União Social Cristã e ao Partido Liberal Democrático) alcançaram a maioria. A solução foi a criação da Grande Coalizão: a aliança entre o SPD e a CDU/CSU. Schröder concordou em ceder a chancelaria a Angela Merkel, que era presidente da CDU desde 2000.

Angela Merkel foi eleita chanceler em 22 de novembro de 2005, com 397 de 611 votos do Parlamento alemão. Tornou-se assim a primeira mulher a assumir a chefia do governo alemão, e o fato de vir do Leste alemão tornou sua eleição ainda mais significativa. O SPD e a CDU/CSU dividiram os cargos em seu gabinete.

Em 2006, Merkel estabeleceu um programa de oito metas para o seu governo, prevendo mudanças nas políticas energética, familiar, federalista, trabalhista e, um ponto importante, no sistema de saúde: em março de 2007, conseguiu aprovar as reformas no sistema de seguro saúde, que passam a valer a partir de 2009.

Na política externa, Merkel voltou a estreitar as relações com os Estados Unidos, que ficaram estremecidas após a exposição de Schröder à guerra no Iraque. No âmbito europeu, manteve o papel central da Alemanha na União Européia. O bloco passou a englobar 27 países em 2007, com a entrada da Bulgária e da Romênia.

De janeiro a junho de 2007, a chanceler assumiu a presidência do Conselho da União Européia. Os principais marcos durante a sua presidência foram o estabelecimento de novas medidas para combater o aquecimento global (com a nova meta do bloco de reduzir, até 2020, a emissão de gases do efeito estufa para 1/5 do valor de 1990); a cúpula comemorativa dos 50 anos da UE, em Berlim; e o acordo para elaborar um novo tratado para a UE, substituindo o fracassado projeto de criar uma Constituição européia.

Merkel inovou na comunicação com a população ao criar um podcast semanal informando sobre as ações do governo. O vídeo com a mensagem da chanceler federal ao povo é transmitido todo sábado, e foi lançado em junho de 2006, enquanto o país sediava a Copa do Mundo. No fim de 2006, Merkel foi reeleita presidente da CDU. No mesmo ano, foi considerada a mulher mais poderosa do mundo pela revista americana Forbes, e estava entre as cem pessoas com mais influência no mundo listadas pela revista Time.

Última atualização: junho de 2007

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