Regente revela que problemas de saúde o obrigam a renunciar ao cargo que ocupa há 30 anos. Em novembro, ele cancelara concerto por seus 80 anos, devido a uma doença neurológica.
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O regente, pianista e ativista pela paz mundialmente renomado Daniel Barenboim comunicou nesta sexta-feira (06/01) que está deixando o cargo de diretor musical da casa de ópera Staatsoper Unter den Linden de Berlim, devido a persistentes problemas de saúde.
"Infelizmente, minha saúde se deteriorou significativamente no ano passado. Não posso mais atuar tão bem quanto é exigido de um diretor musical", afirmou, em nota, o músico israelo-argentino, informando que deixará em 31 de janeiro o posto que ocupa desde 1992.
No comunicado, o maestro de 80 anos acrescenta que seus anos à frente de uma das três principais casas de ópera de Berlim foram "musical e pessoalmente inspiradores em todos os sentidos". A orquestra da Staatsoper, a Staatskapelle, também o elegeu regente vitalício, o que o deixou "especialmente satisfeito e orgulhoso", observou.
Em outubro Barenboim já havia revelado nas redes sociais que um "grave quadro neurológico" o obrigava se afastar temporariamente. "Agora devo me concentrar no meu bem-estar físico tanto quanto possível", escreveu no Twitter.
Em consequência, em novembro Barenboim teve que cancelar um concerto para celebrar seus 80 anos, quando queria, executar concertos para piano de Beethoven e Chopin, sob a regência de seu amigo de infância, o maestro indiano Zubin Mehta. Ainda assim, na virada do ano Barenboim regeu o concerto de Ano Novo da Staatsoper, com lotação esgotada.
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Contrato até 2027
O atual contrato de Barenboim com a Staatsoper Unter den Linden iria até 2027. Após o anúncio da renúncia, a secretária de Estado de Cultura da Alemanha, Claudia Roth, afirmou que foi "uma dádiva para Berlim e para a Alemanha" ter o maestro na casa de ópera, a qual conquistou "renome mundial" por sua atuação.
"Lamento muito sua renúncia, desejo-lhe boa recuperação e espero ansiosamente por muitos concertos e óperas dirigidos por ele", destacou Roth.
Daniel Barenboim era diretor musical da Staatsoper Unter den Linden desde 1992. Em 2000, a orquestra Staatskapelle Berlin o nomeou seu regente vitalício.
O argentino-espanhol-israelense-palestino fundou a West-Eastern Divan Orchestra em 1999, junto com o estudioso literário americano-palestino Edward Said (1935-2003). Ambos queriam contribuir para uma solução pacífica do conflito no Oriente Médio entre israelenses e palestinos.
A orquestra reúne jovens músicos de Israel e países árabes. Em 2016, o regente fundou a Academia Barenboim-Said, que oferece a jovens músicos do Oriente Médio formação musical e em ciências humanas.
cn, md/rw, av (AP, dpa)
Dez refugiados famosos
Músicos, atores, políticos, cientistas dos quatro cantos do mundo: em comum, o destino de refugiado. Todos deixaram seus países natais, por um período breve ou o resto da vida, para se salvar da guerra e perseguição.
Foto: akg-images/picture alliance
Touro Sentado (1831-1890)
O chefe sioux Tatanka Iyotake, "Touro Sentado", um dos mais célebres nativos dos Estados Unidos, viveu quatro anos como refugiado. Em 1877, cerca de um ano após a batalha de Little Bighorn, liderada pelo general Custer, ele fugiu com seus guerreiros para o Canadá. Após voltar aos EUA, o líder indígena foi preso e colocado numa reserva. Ele morreu baleado durante uma nova tentativa de prisão.
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Albert Einstein (1879-1955)
Autor da teoria da relatividade e Nobel da Física, o judeu alemão Albert Einstein visitava os EUA quando Adolf Hitler assumiu o poder, em 1933. Manter-se longe da Alemanha sob regime nazista não foi decisão fácil. Einstein dizia se considerar um "privilegiado pela sorte", por poder viver em Princeton, mas também "quase envergonhado de viver em tamanha paz, enquanto todo o resto luta e sofre".
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Béla Bartók (1881-1945)
Apesar de não ser judeu, o compositor, pianista e musicólogo Béla Bartók se opunha à ascensão do nazismo e à perseguição antissemita, e em 1940 emigrou para os EUA. "Minha principal ideia, que me domina inteiramente, é a irmandade dos homens, acima e além de todos os conflitos", disse certa vez. No entanto, sua carreira musical gorou no exílio, e ele acabou por morrer pobre e esquecido.
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Marlene Dietrich (1901-1992)
A atriz e cantora alemã Marlene Dietrich já era uma estrela nos Estados Unidos quando adquiriu a nacionalidade americana, em 1939, voltando definitivamente as costas para a Alemanha nazista. Refugiada célebre, ela se manifestava contra Hitler e cantou para os soldados americanos durante a Segunda Guerra. Embora com seus filmes banidos na terra natal, ela dizia: "Eu nasci alemã e sempre serei."
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George Weidenfeld (1919-2016)
Nascido em Viena, o editor judeu George Weidenfeld emigrou após a anexação da Áustria pelos nazistas. Em Londres, ele cofundou uma casa editora e se tornou barão. Além de se engajar pela causa israelense, estabeleceu um fundo para ajudar os cristãos que fogem do "Estado Islâmico". "Não posso salvar o mundo [...] mas tenho uma dívida a saldar", disse certa vez.
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Henry Kissinger (*1923)
Natural da Baviera, Henry Kissinger teve papel central na configuração da política externa dos EUA. Contudo, antes de se tornar autoridade em relações internacionais e professor em Harvard, o 56º secretário de Estado americano tivera que fugir da perseguição nazista em 1938. Já nonagenário, ele revelaria que a Alemanha "nunca deixou de ser parte" de sua vida.
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Miriam Makeba (1932-2008)
A cantora sul-africana Miriam Makeba era opositora ferrenha do regime do apartheid. Em 1960, durante turnê nos EUA, o governo de seu país lhe cancelou o passaporte. Três anos mais tarde ela foi proibida de entrar na África do Sul, a qual ela só reveria após décadas de exílio nos EUA e Guiné. "Mama Africa" morreu durante um show na Itália, em apoio à luta do autor Roberto Saviano contra a máfia.
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Milos Forman (1932-2018)
Apesar de já ser um cineasta respeitado, Milos Forman voltou as costas à Tchecoslováquia em 1968, após a Primavera de Praga, indo estabelecer-se nos Estados Unidos. Em sua produção do outro lado da Cortina de Ferro dois Oscars de melhor filme se destacam: o drama psiquiátrico "Um estranho no ninho" (1975) e "Amadeus" (1984), sobre Mozart.
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A primeira secretária de Estado americana, Madeleine Albright, nasceu na atual República Tcheca. Sua família fugiu para os EUA em 1948, quando os comunistas assumiram o poder. A partir de seu envolvimento intenso na política e depois de ser embaixadora americana na ONU, ela assumiu a chefia da diplomacia de 1997 a 2001, durante o segundo mandato de Bill Clinton.
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Isabel Allende (*1942)
O presidente Salvador Allende se suicidou após o golpe de Estado no Chile em 1973. A filha de um primo dele, Isabel, que o chamava de "tio", fugiu para a Venezuela após receber ameaças de morte. Mais tarde emigrou para os EUA e se estabeleceu como autora. Entre seus romances, que contam entre os clássicos do realismo mágico, destacam-se "A casa dos espíritos" e "Eva Luna".