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Darmstadt

Aya Bach (sv)22 de junho de 2007

Darmstadt encontrava-se destruída, quando um festival começou a produzir na cidade sons completamente inusitados. Hoje, os Cursos de Férias de Música Nova são conhecidos em todo o mundo.

Instituto Internacional de Música de DarmstadtFoto: IMD

Em março de 1946, apesar das seqüelas da Segunda Guerra Mundial, a cidade de Darmstadt servia de berço para um novo cenário musical. O então secretário municipal de Cultura, Wolfgang Steinecke, se propôs a construir, em meio às ruínas da cidade, um lugar onde músicos e compositores pudessem se encontrar para dar vazão a seus experimentos.

Começaram assim os Cursos de Férias de Música Nova de Darmstadt: uma espécie de universidade das artes no verão europeu, que se transformaria brevemente num guia da história da música no século 20, guiando o desenvolvimento da composição contemporânea como poucos outros movimentos em todo o mundo.

Novos sons de uma cidade morta

Luigi Nono e Karlheinz Stockhausen, em 1957Foto: IMD/Seppo Heikinheimo

Na "cidade fantasma", o ouvinte desavisado se deparava com sons que lhe pareciam "de outro planeta". O que foi chamado de Música Nova era um recomeço libertário após o fim do regime nazista – um período no qual tudo o que era ou soava como vanguarda havia sido proibido.

Ou seja, vivia-se ali, naquele momento, o ano zero da Música Nova. Das discussões sobre idéias e peças participavam os então futuros grandes nomes da música do último século, como Karlheinz Stockhausen, Pierre Boulez e Luigi Nono.

"Stockhausen apareceu aqui como estudante, de bermudas", lembra Solf Schäfer, que hoje dirige o Instituto Internacional de Música de Darmstadt. "Naquela época, os professores vestiam-se e se comportavam de uma forma mais tradicional: usavam roupas caretas, terno e gravata. E houve muitos conflitos, desenrolados em noitadas regadas a muita cerveja e vinho. Aí dormia-se por apenas duas ou três horas, até o recomeço dos ensaios", conta Schäfer.

Lendas que se perpetuam

Dos lendários concertos e discussões de então, surgiram os principais representantes e grandes compositores da Música Nova. E os Cursos de Férias, posteriormente verdadeiras instituições, ficaram conhecidos para muito além das fronteiras alemãs.

Cursos de Férias de Música Nova, em 2006Foto: IMD/G. Jockel

Do repertório destes cursos fizeram parte, acima de tudo, composições ancoradas numa organização rígida e extremamente complexa do material sonoro. Resumindo: muito cérebro e pouca emoção. Pelo menos no que diz respeito ao método de composição.

O que não necessariamente é válido também para os efeitos destas composições no ouvinte, uma vez que peças elaboradas a partir de conceitos absolutamente rígidos possuem uma beleza própria. Um aspecto, porém, era certo em Darmstadt: todos queriam se distanciar o máximo possível de qualquer espécie de tradicionalismo.

Dogmas darmstadtianos

A vítima mais conhecida dos dogmas de Darmstadt foi o compositor Hans Werner Henze, o "grande senhor" da ópera contemporânea, hoje com 80 anos de idade. Sua música foi rotulada de "tradicional" nos círculos da Música Nova. "Ele não conseguiu se afirmar, com sua estética, perante as personalidades marcantes de Stockhausen, Boulez e Nono. Mas certamente houve compositores que trilharam seus caminhos sem Darmstadt", comenta Schäfer.

Hoje, a cidade que não acolhe mais tantos dogmas quanto no passado, se tornou mais internacional, servindo de fórum para artistas dos mais diversos continentes. Embora o monopólio dos grandes já tenha há muito passado, a cidade continua servindo de oficina para a criação de novos grupos e de local de intercâmbio entre compositores e intérpretes de todo o mundo.

Nos Cursos de Verão de 2006, estiveram presentes nada menos que 250 músicos de mais de 40 nações, com uma porcentagem de mais de 60% de asiáticos. Muitos deles trazem pouco da tradição musical de seus países na mala – um sinal evidente de que há também uma espécie de globalização do compor.

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