32% dos brasileiros se dizem petistas e 25%, bolsonaristas
29 de dezembro de 2022
Pesquisa revela acirramento da polarização após a campanha eleitoral que resultou na vitória de Lula em 2º turno. Ainda assim, 20% do eleitorado não se identifica com nenhum dos grupos e busca neutralidade.
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Uma pesquisa do Datafolha divulgada nesta quarta-feira (28/12) revela que cerca de um terço dos eleitores brasileiros (32%) se identifica como petista, enquanto um quarto (25%) se diz bolsonarista. Ao mesmo tempo, 20% se colocam em posição intermediária a esses dois grupos.
Esses percentuais sinalizam o acirramento da polarização do eleitorado brasileiro durante a campanha eleitoral deste ano, que resultou na vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e impediu a reeleição de Jair Bolsonaro (PL).
O Datafolha estabeleceu uma escala de níveis 1 a 5, sendo que 1 significa ser bolsonarista e 5, petista. No nível 2, 7% de declararam mais próximos aos bolsonaristas, e no 4, 9% demonstraram inclinação ao petismo.
O ponto 3,que marca uma posição equidistante entre os dois extremos, foi escolhido por 20% dos eleitores que não aderiram à polarização e não se veem representados por nenhum dos grupos preponderantes. Essa neutralidade é adotada por 33% dos eleitores mais jovens, com idades entre 16 e 24 anos.
A análise dos estratos populacionais revela que 40% da população mais pobre se identifica como petista, contra 21% que se diz bolsonarista.
Diferenças entre camadas de renda
Assim como foi observado nas pesquisas de intenção de voto ao longo do ano, a curva das preferências do eleitorado se inverte nas camadas superiores de renda, menos populosas, que somam 30% de bolsonaristas contra 24% de petistas entre os que ganham de 2 a 5 salários mínimos; de 25% a 21% entre os que recebem 5 a 10 mínimos, e 40% a 13% entre os que ganham mais de 10 salários mínimos.
O Datafolha conclui que esses percentuais são representativos da polarização política que dividiu a sociedade brasileira, durante uma campanha eleitoral que inviabilizou candidaturas da chamada terceira via.
Lula obteve 50,9% dos votos válidos no segundo turno das eleições, contra 49,1% de Bolsonaro. A terceira colocada nas eleições, Simone Tebet (MDB), obteve apenas 4,1% dos votos, enquanto Ciro Gomes (PDT) teve 3%.
O Datafolha ouviu 2.026 pessoas em 126 cidades entre os dias 19 e 20 de dezembro. A pesquisa tem uma margem de erro de dois pontos para mais ou para menos.
rc (ots)
A história das eleições presidenciais no Brasil
A história das eleições presidenciais no Brasil
Foto: Adriano Machado/REUTERS/Nelson Almeida/AFP
1989: a primeira eleição direta da redemocratização
Os brasileiros voltaram a escolher diretamente um presidente depois de 27 anos. Um total de 22 candidatos se apresentou – até hoje um recorde. O pleito foi marcado por debates na TV e acusações de manipulação jornalística. Fernando Collor, filiado a um partido nanico, largou na frente ao se apresentar como “caçador de marajás”. No final, Collor derrotou o líder sindical Lula (PT) no 2° turno.
Foto: Radiobras/Roosewelt Pinheiro
1994: o início da era tucana
No início de 94, o pleito tinha um favorito: Lula. No entanto, alguns meses antes da eleição foi lançado o Plano Real, bem-sucedido em conter a inflação. A popularidade de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um dos autores do plano, disparou. Lula, que havia criticado o real, afundou nas pesquisas. FHC acabou vencendo a eleição ainda no 1° turno. Era o início de oito anos de hegemonia do PSDB.
Foto: Acervo FHC
1998: a reeleição entra em cena
Em 1997, foi aprovada a emenda da reeleição– com denúncias de compra de votos –, abrindo caminho para FHC disputar mais um mandato. Mais uma vez seu adversário foi Lula, que indicou Leonel Brizola, seu antigo rival na esquerda, como vice. Durante a campanha, o governo omitiu que o real estava sobrevalorizado. FHC foi eleito no 1° turno. Depois da posse, o real sofreu uma desvalorização recorde.
Foto: Acervo FHC/Secretaria de Imprensa
2002: o início da hegemonia petista
Lula chegou à eleição com uma nova imagem: se comprometeu a apoiar o plano real, nomeou um empresário como vice e recorreu a marqueteiros. A estratégia para acalmar o mercado deu certo. Ciro Gomes chegou a despontar em segundo lugar, mas afundou após uma série de declarações que repercutiram mal. No final, Lula derrotou o candidato do governo FHC, José Serra, no segundo turno, com 61% dos votos.
Foto: Agência Brasil/M. Casal Jr.
2006: escândalos não impedem reeleição de Lula
Lula se candidatou novamente após a eclosão do escândalo do Mensalão. Parecia destinado a vencer no 1° turno, mas a prisão de assessores do PT na reta final abalou sua campanha. No 2° turno, os petistas contra-atacaram. Rotularam o tucano Geraldo Alckmin de privatista e de ser contra o Bolsa Família. Alckmin acabou recebendo menos votos no 2° turno do que na primeira rodada, e Lula foi reeleito.
Foto: Instituto Lula/R. Stuckert
2010: a primeira presidente mulher
Com alto índice de popularidade, Lula apresentou Dilma Rousseff como candidata à sucessão. Os tucanos voltaram a lançar José Serra, e a ex-ministra Marina Silva disputou pela primeira vez. A campanha de Serra tentou encurralar Dilma ao acusá-la de ser favorável ao aborto. No final, pesou a popularidade de Lula, e a petista ganhou no 2° turno, se tornando a primeira mulher a chegar à Presidência.
Foto: Agência Brasil/W. Dias
2014: a campanha mais cara e acirrada
Nova polarização entre PSDB e PT: Dilma disputou um novo mandato com Aécio Neves. Após a morte de Eduardo Campos (PSB), Marina Silva entrou na corrida, mas desabou nas pesquisas após ataques do PT. Dilma foi reeleita com apenas 3,28 pontos percentuais a mais que Aécio no 2° turno. A petista e o tucano gastaram R$ 570 milhões - com muitas doações de empresas acusadas de corrupção na Lava Jato.
Foto: Reuters/R. Moraes
2018: polarização entre PT e Bolsonaro
Após uma campanha que acirrou ânimos e dividiu o país, Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito com 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). A vitória do ex-capitão defensor do regime militar marcou a volta da extrema direita brasileira ao poder e representou um fracasso para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nesse pleito estava preso por corrupção e impedido de se candidatar.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
2022: inédita disputa entre presidente e ex-presidente
Os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas são o presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que recuperou os direitos políticos. Bolsonaro ampliou benefícios sociais às vésperas da campanha e vem questionando o sistema eleitoral. Já Lula busca aliança ampla contra extrema direita e capitalizar sua experiência anterior no governo.