Datafolha: Maioria vê pandemia fora de controle e tem medo
19 de março de 2021
Em meio ao pior momento da crise sanitária no Brasil, com recordes de mortes e colapso hospitalar, 79% dos brasileiros dizem que pandemia está fora de controle, e 82% têm medo de contrair o coronavírus.
Na pesquisa anterior, em janeiro, tal opinião foi compartilhada por 62% dos entrevistados. Enquanto 33% consideravam no início do ano que a pandemia estava parcialmente controlada no Brasil, agora são 18%. Apenas 2% veem a situação como totalmente controlada.
A parcela dos que veem a pandemia fora de controle é maior entre os mais pobres (82%), que ganham até dois salários mínimos, do que entre os mais ricos (69%), que ganham mais de dez salários mínimos.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, que publicou a pesquisa, mesmo entre os que vivem sem adotar nenhuma medida de isolamento social, a maioria vê a pandemia fora de controle.
O Datafolha ouviu 2.023 pessoas por telefone em todos os estados do país em 15 e 16 de março. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Medo do vírus é recorde
Diante de recordes de mortes diárias por covid-19, mais de 280 mil óbitos contabilizados, hospitais superlotados e profissionais da saúde alertando para a falta de medicamentos utilizados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), 55% dos ouvidos pelo Datafolha disseram ter muito medo de contrair o coronavírus – a maior taxa registrada desde o início da pandemia, há um ano. Em janeiro eram 44%.
O colapso da saúde no Brasil
03:44
Ao mesmo tempo, a parcela dos que sentem apenas um pouco de medo caiu de 33% em janeiro para 27% em março, e somente 12% dizem agora não ter medo algum de serem infectados. Dos entrevistados, 7% disseram já ter contraído o coronavírus, ante 3% em junho do ano passado.
O temor da doença aumentou tanto entre as mulheres – com 61% delas dizendo ter muito medo, ante 55% em janeiro –, quanto entre os homens, passando de 33% para 48%.
Enquanto médicos apontam um aumento do número de jovens internados em UTIs devido à covid-19, aumentou significativamente a parcela dos que dizem sentir muito medo entre os que têm de 16 a 24 anos (de 34% para 48%). Também houve um salto entre os que ganham mais de dez salários mínimos (de 41% para 55%).
Anúncio
Reprovação recorde a Bolsonaro na gestão da pandemia
Apesar do grave cenário – com especialistas afirmando que, devido àdisseminação do vírus de forma descontrolada, o Brasil se tornou uma ameaça para a humanidade –, cerca de um quinto dos ouvidos pelo Datafolha ainda se disse satisfeito, ou seja, acha que a gestão da crise sanitária por Bolsonaro é boa ou ótima. A cifra chega a 38% entre empresários.
Ao longo da pandemia, Bolsonaro minimizou frequentemente os riscos do coronavírus, combateu medidas de isolamento social, promoveu curas sem eficácia, criticou a vacina e tentou sabotar iniciativas paralelas de vacinação e combate à doença lançadas por governadores em resposta à inércia do seu governo na área. Nesta semana, o presidente anunciou a terceira troca no comando do Ministério da Saúde desde o início da pandemia.
Em relação ao governo Bolsonaro como um todo, 44% o consideram ruim ou péssimo, ante 40% em janeiro; e 30% o consideram ótimo ou bom, ante 31% no início do ano. Segundo o levantamento, para 75% dos que rejeitam a condução da crise sanitária por Bolsonaro, seu governo como um todo é visto como ruim ou péssimo. Entre os que aprovam o governo do presidente, por sua vez, 89% consideram seu trabalho na saúde ótimo ou bom.
lf/as (ots)
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.