Davi Kopenawa divide Nobel Alternativo com Greta Thunberg
25 de setembro de 2019
Brasileiro ameaçado de morte é homenageado por sua luta contra o desmatamento da Amazônia e a pela proteção de povos indígenas. Além da ambientalista sueca, ativistas de Marrocos e China estão entre os ganhadores.
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O indígena Davi Kopenawa está entre quatro ativistas internacionais ganhadores do Right Livelihood Award de 2019, também conhecido como o "Prêmio Nobel Alternativo". O brasileiro é homenageado juntamente com a ambientalista sueca Greta Thunberg, ícone da luta contra as mudanças climáticas; a ativista marroquina Aminatou Haidar; e a advogada chinesa Guo Jianmei.
A Fundação Right Livelihood anunciou nesta quarta-feira (25/09) em Estocolmo que Kopenawa recebe o prêmio "pela corajosa determinação dele em proteger as florestas e a biodiversidade da Amazônia, e as terras e a cultura de seus povos indígenas", juntamente com a Hutukara Associação Yanomami, entidade fundada e presidida por ele em Roraima.
A fundação Right Livelihood afirma que as florestas tropicais da Amazônia estão sob a ameaça da exploração ilegal de madeira e incêndios florestais, assim como das políticas incentivadas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.
Kopenawa disse que o prêmio chega em momento oportuno: "Demonstra confiança em mim e na Hutukara, e em todos aqueles que defendem a floresta e o planeta Terra. O prêmio me dá a força para continuar a luta para defender a alma da Floresta Amazônica", destacou.
Ele e seu filho Dário Vitório Kopenawa Yanomami são ameaçados de morte desde que voltaram a denunciar o garimpo ilegal nas terras indígenas da tribo Yanomami. "Se vocês continuarem denunciando, a gente vai matar você", disse Dário, citando o tom das ameaças anônimas que recebe, em entrevista à DW Brasil.
No fim de julho, os nativos denunciaram que as invasões dispararam no primeiro semestre deste ano: até 20 mil garimpeiros estariam no território indígena em busca de ouro, desmatando a floresta e contaminando o solo e a água da região com mercúrio.
"Visionários práticos"
A adolescente Greta Thunberg recebe a homenagem "por inspirar e amplificar demandas políticas por ação climática urgente refletindo fatos científicos".
"Thunberg é uma voz poderosa de uma geração jovem que terá de suportar as consequências do fracasso político atual em se deter as mudanças climáticas", observou o diretor da Fundação Right Livelihood, Ole von Uexküll.
Aminatou Haidar é a primeira laureada do Saara Ocidental, disputado território reivindicado pelo Marrocos desde 1975. Há mais de 30 anos Haidar faz campanha pacífica pela independência da região. O júri citou "sua iniciativa firme e não violenta, apesar de prisão e tortura, em busca da justiça e da autodeterminação para o povo do Saara Ocidental".
Guo Jianmei, advogada chinesa, recebe o prêmio por "seu pioneirismo e trabalho persistente para garantir os direitos das mulheres na China". Ela ajudou milhares de mulheres e outros desfavorecidos a terem acesso à justiça em seu país.
Os quatro vencedores receberão, cada um, 1 milhão de coroas suecas (cerca de 430 mil reais). Eles têm em comum a luta desenvolvida pela justiça, autodeterminação e um futuro melhor: "Honramos quatro visionários práticos cujos esforços permitem que milhões defendam seus direitos fundamentais e lutem por um futuro habitável neste planeta", afirmou o júri internacional que escolheu os vencedores.
Criado há 40 anos, o Nobel Alternativo já foi entregue a 174 indivíduos e entidades de 70 países.
Focos de incêndio na Floresta Amazônica atingem seu pior agosto em quase uma década. Em Rondônia, fogo é a última etapa de uma cadeia criminosa que inclui invasão de terras, extração ilegal de madeira e desmatamento.
Foto: Imago Images/Agencia EFE/J. Alves
Chamas em agosto
Com 30.901 focos de queimadas registrados por satélites no bioma Amazônia, o mês de agosto de 2019 superou o registrado no mesmo mês em todos os anos anteriores até 2010, quando o número chegou a 45.018. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora as queimadas desde 1998. O recorde para o mês de agosto ainda é de 2007, com 63.764 focos.
Foto: Flávio Forner
Prejuízos à saúde
Na região de Porto Velho, capital de Rondônia, a fumaça das queimadas causa problemas sérios de saúde. Em um estudo realizado no estado, a Fiocruz analisou dados de 1998 a 2005 e concluiu que o número de mortes de idosos acima de 65 anos por doenças respiratórias aumenta durante os meses de queimadas. Até 80% das mortes estão relacionadas aos incêndios florestais.
Foto: Flávio Forner
O futuro da floresta nacional
A Floresta Nacional do Bom Futuro, perto de Porto Velho, foi criada em 1988 para proteger originalmente 280 mil hectares da Floresta Amazônica. Em 2010, um decreto reduziu a área para 98 mil hectares por conta da ocupação da região. A Flona (floresta nacional) é uma das mais ameaçadas no bioma, com histórico de invasões, desmatamento e queimadas.
Foto: Flávio Forner
Plantão na floresta
Brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ficam de plantão na região da Floresta Nacional do Bom Futuro 24 horas por dia na época das queimadas, de julho a outubro. Eles fazem rondas diárias para evitar crimes e, quando identificam fogo, usam bombas costais e abafador para apagar as chamas.
Foto: Flávio Forner
Solo mais pobre
O primeiro efeito da queimada é a perda de nutrientes e da biota do solo, alerta o biólogo Marcelo Ferronato, da ONG Ecoporé. Com o passar dos anos, os nutrientes que estavam ali sendo depositados pelas florestas desaparecem, como folhas e galhos. "O solo vai se enfraquecendo, a área começa a ser degradada, a produtividade cai, e novas áreas são abertas, alimentando o ciclo do desmatamento."
Foto: Flávio Forner
Lote ilegal
O capim cresce na área já desmatada dentro da Floresta Nacional do Bom Futuro. A estaca fixada no chão serve para demarcar o lote que, mais para frente, será vendido de forma ilegal. A área onde o crime ocorreu fica a menos de um quilômetro da estrada de terra que corta a unidade de conservação.
Foto: DW/N. Pontes
Desmatamento antes do fogo
Esta clareira na Floresta Nacional do Bom Futuro foi aberta cinco dias antes de a equipe da DW Brasil visitar o local. Algumas árvores mais antigas ainda estão de pé, como uma da espécie tauari de 200 anos, de cerca de 40 metros de altura, que também é um porta-sementes. Segundo brigadistas, os criminosos esperam a mata derrubada secar por alguns dias antes de colocar fogo.
Foto: Flávio Forner
Reflorestamento em risco
Alguns projetos de compensação ambiental de outros empreendimentos são revertidos para a Floresta Nacional do Bom Futuro. Na foto, árvores nativas da Amazônia crescem numa área do tamanho de 70 campos de futebol que foi desmatada. Se elas sobreviverem aos crimes cometidos na região, precisarão de 50 anos para voltar a ganhar o aspecto de uma floresta densa.
Foto: Flávio Forner
Pressão em terras indígenas
No estado de Rondônia, 21 reservas são destinadas a povos indígenas. A Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, a cerca de 300 quilômetros de Porto Velho, tem sete aldeias e comunidades que escolheram viver isoladas na Floresta Amazônica. Criado em 1985, o território de uso exclusivo dos indígenas sofre ameaças constantes de madeireiros e grileiros.
Foto: Flávio Forner
Preocupação com a floresta
Segundo os indígenas, a destruição da floresta é muito rápida. Eles acreditam que a "empreitada" para desmatar e queimar a mata, que conta com entre 10 e 15 pessoas, seja custeada por quem tem muito dinheiro. Depois de tirar a madeira, os criminosos queimam a área e jogam sementes de capim, conta Taroba Uru-Eu-Wau-Wau (foto).
Foto: Flávio Forner
Desmatamento e pastagem
Segundo estudos de pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia (Unir), o desmatamento ilegal serve para ampliar áreas de pastagem. Dados oficiais estimam que o rebanho no estado ultrapasse 14 milhões de cabeças. Aos poucos, as pastagens têm se convertido em plantações, como de soja, afirma a pesquisadora Maria Madalena Cavalcante, da Unir.