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De conservadores a neocomunistas: as bancadas em Estrasburgo

Neusa Soliz30 de maio de 2004

Os diferentes partidos políticos nacionais uniram-se em grupos ou partidos europeus. Conheça aqui as principais bancadas e o que elas defendem para a Europa dos 25 nas eleições de 10 a 13 de junho.

Partido Verde trouxe cores e vida ao Parlamento EuropeuFoto: AP

Os candidatos ao Parlamento Europeu concorrem a um mandato por seu partido nacional. Mas em Estrasburgo, os diferentes partidos políticos nacionais agruparam-se em bancadas internacionais. Alguns deles formaram até partidos europeus. Há sete bancadas no Parlamento Europeu, no qual estão representadas as principais tendências políticas na Europa e no mundo. Conheça a seguir as cinco principais, por sua influência e número de deputados.

Democrata-cristãos e partidos conservadores:

O Grupo do Partido Popular Europeu (democrata-cristãos) e Democratas Europeus (PPE-DE) – esse o nome oficial do partido – tem a maior bancada, com 232 dos atuais 626 deputados. Seu presidente é o alemão Hans-Gert Pöttering, deputado europeu desde a primeira eleição direta, em 1979. O grupo pretende manter a liderança nas eleições de 2004, e suas prioridades políticas são a aprovação da Constituição Européia e a integração dos novos membros da União Européia.

Uma Europa unida no combate ao terrorismo, para que futuramente não haja cisão em questões decisivas, é a visão do ministro tcheco do Exterior, Cyril Svoboda, uma das lideranças do Partido Popular Europeu. "Nós queremos que os valores conservadores se imponham, e eles dizem respeito principalmente às possibilidades de afinação política na União Européia. O passado recente mostrou que faltou vontade política para um consenso. Os democrata-cristãos querem agir em conjunto nas questões chaves da Política Exterior."

A União Democrata Cristã da Alemanha (CDU) também concorda que a União Européia precisa empregar mais recursos na segurança comum, diante da ameaça terrorista. Segundo Pöttering, para economizar verbas, os democrata-cristãos europeus estão dispostos a diminuir o fomento regional e estrutural da UE, devolvendo essa função aos países-membros.

Social-democratas e socialistas:

O grupo do Partido dos Socialistas Europeus (PSE) inclui social-democratas, socialistas e os tradicionais partidos trabalhistas. Em seus países, eles defendem programas diversos, que vão desde o apoio incondicional à economia de mercado até a estatização dos meios de produção. Depois de deter a maioria no Parlamento Europeu por longos anos, o PSE perdeu-a na última eleição, ao conquistar apenas 173 dos 622 mandatos. A partir de 1º de maio, sua bancada aumentou para 232 de um total de 786 deputados. É muito difícil avaliar as chances do Partido dos Socialistas Europeus em 2004. A vitória dos socialistas espanhóis certamente dará impulso à eleição para Estrasburgo. Ao mesmo tempo, os conservadores criticam o aumento de pós-comunistas na bancada, com o ingresso dos novos membros do Leste Europeu.

Apesar das divergências internas, os socialistas europeus defendem a integração européia, a livre concorrência e o crescimento econômico, flanqueados por responsabilidade social. Como manifestou à DW-RADIO Dimitris Tsatsos, do Pasok grego, justiça social, empregos, uma globalização com feições humanas e a aprovação da Constituição Européia são o programa do partido no Parlamento Europeu. Apesar da necessária luta antiterrorista, o socialista grego não abre mão do respeito aos direitos civis e à liberdade.

Liberais:

O Grupo do Partido Europeu dos Liberais, Democratas e Reformistas (ELDR) forma a terceira maior bancada no Parlamento Europeu, com 67 deputados, entre os quais não há nenhum alemão. Seu membro de maior destaque é o irlandês Pat Cox, que deixa a presidência do Parlamento e já está sendo apontado como candidato à sucessão de Romano Prodi na presidência da Comissão Européia. Se conseguir se impor, os liberais terão maior influência ainda na UE. Cox considera-se "europeu por convicção", como a maioria dos liberais. Apesar de uma representação parlamentar não muito expressiva, os liberais são bastante influentes e muitas vezes atuam como o fiel da balança na decisão de questões polêmicas.

O deputado liberal Pat Cox deixa a presidência do Parlamento EuropeuFoto: AP

"Em assuntos econômicos, votamos muitas vezes com os democrata-cristãos, mas em questões sociais, geralmente com os socialistas", explica a deputada luxemburguesa Colette Flesh. Para Pat Cox, os liberais europeus procuram manter um bom contato com suas bases, com os cidadãos europeus, principalmente para esclarecer por que a União Européia é necessária, qual é o seu valor e o que as pessoas ganham com a comunidade.

Nesse sentido, o Partido Europeu dos Liberais quer cooperar em todos os setores onde uma ação conjunta dos países europeus contribua para melhorar sua situação. Isso acontece principalmente em questões de Política Exterior e de Segurança, mas também de Economia e Finanças. Os liberais estão entre os que mais criticam o afrouxamento do Pacto de Estabilidade. Por isso, exigem que se levem a sério as regras comuns: "Não podemos permitir que haja conseqüências quando, por exemplo, Portugal fere as regras do pacto, e que não haja conseqüências quando as infrações partem da Alemanha ou da França. Se continuarmos assim, com regras diferentes para países grandes e pequenos, os pequenos perderão a confiança na Europa", afirma o presidente da bancada liberal, o britânico Graham Watson.

Comunistas e esquerda:

O Grupo Confederal da Esquerda Unitária Européia/Esquerda Nórdica Verde formou-se em 1994. Ele é constituído basicamente pelos partidos comunistas da França, Portugal, Itália, Espanha e Grécia. Também o Partido do Socialismo Democrático, "herdeiro" do PC da antiga Alemanha comunista, integra o bloco, juntamente com grupos de esquerda nórdicos.

A bancada tem 50 deputados de dez países que são membros antigos da UE, com o que assumiu a quarta colocação no Parlamento Europeu. Ela reúne comunistas, ex-comunistas, trotskistas, pacifistas, feministas e independentes. Dá para se fazer uma política comum, com tantas tendências?

O líder da bancada, o comunista francês Francis Wurtz, responde à Deutsche Welle: "Eu acho que a mistura é uma vantagem, pois é uma opção estratégica. Uniram-se as 'forças progressistas' que querem uma outra Europa. E todos precisam cooperar, para lutar contra objetivos meramente mercantilistas e o neoliberalismo na Europa. Muitas vezes, a esquerda se alia aos Verdes, nas votações. Mas em questões éticas ou de liberdades civis, cerra fileiras com os liberais".

Verdes

- Quando o grupo dos Verdes/Aliança Livre Européia entrou para o Parlamento Europeu em 1984, os dez deputados alemães, belgas e holandeses eram considerados "exóticos", não sendo levados a sério. Isso logo mudou e, na última legislatura, quando constituíram a quinta bancada, seus 35 representantes de 11 países conseguiram conquistas importantes. Na política agrária, por exemplo, sua contribuição para a reforma foi essencial, como ressalta o conde alemão Friedrich Wilhelm zu Baringdorf, o deputado verde mais antigo em Estrasburgo.

Na Política Ambiental e para o Consumidor também foi grande o seu êxito: "Eu cito como exemplo as diretrizes comprometendo a indústria a aceitar de volta os carros velhos e a especificação dos transgênicos no rótulo. E não esqueçamos o comércio das emissões", enumera a deputada alemã Hiltrud Breyer. Os Verdes também deixaram sua marca no projeto da Constituição Européia, que inclui, por sua iniciativa, o conceito de uma força civil de paz para a superação de crises e prevenção de conflitos.

A bancada verde é cheia de vida e muito unida, suas resoluções são tomadas quase por unanimidade, o que pode ter contribuído para o seu êxito. Em fevereiro deste ano, foi fundado o Partido Verde Europeu. E para a eleição de 2004, os verdes decidiram fazer uma campanha eleitoral conjunta em toda a União Européia. Os mesmos cartazes verdes propagam seu programa em 25 países: a desistência da energia atômica, incentivo a fontes renováveis, agricultura orgânica e combate aos transgênicos.

Outras bancadas:

Também têm representação no Parlamento Europeu a União para Europa das Nações e a Europa das Democracias e das Diferenças. Além disso, há um número variável de deputados independentes, que não se filiam a nenhuma bancada (31, na atual legislatura).