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De dona de casa a pioneira na botânica

12 de fevereiro de 2019

Apaixonada pelo estudo das plantas, Graziela Maciel Barroso só terminou a faculdade aos 50 anos. No Dia Internacional das Mulheres na Ciência, conheça a história da mais importante botânica brasileira.

 Graziela Maciel Barroso (Instituto de Botânica/Governo do Estado de S. Paulo)
Em 1999, Barroso se tornou a única brasileira a receber a medalha Millenium Botany AwardFoto: Instituto de Botânica/Governo do Estado de S. Paulo

Nascida em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, em 1912, Graziela Maciel Barroso foi educada para ser dona de casa. Aos 16 anos, ela cumpriu o seu destino como mulher: casou-se com o agrônomo Liberato Joaquim Barroso, com quem teve dois filhos. Aos 18, já era mãe. Não chegou a se formar no ensino médio.

Aos 30 anos, com os filhos já adolescentes, voltou a estudar com o apoio do marido, com quem tinha aulas de botânica em casa. Nesse período, conseguiu um estágio no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde Liberato trabalhava. Gostou tanto que resolveu prestar concurso público para ser naturalista da instituição. Ela foi a primeira mulher a fazer a prova.

"Nessa época não se exigia título universitário nem havia uma faculdade: os cursos eram feitos nas faculdades de filosofia, e o concurso [para o Jardim Botânico] não exigia nenhuma especialidade", contou a botânica numa entrevista concedida em 1999. "Nenhuma mulher tinha feito esse concurso, de modo que houve uma certa prevenção por parte dos candidatos homens, que eram cinco, sendo eu a única mulher. Eram cinco vagas. Eles achavam que era uma barbaridade uma mulher fazer esse concurso."

Graziela foi aprovada em segundo lugar e foi trabalhar com o marido no Jardim Botânico. Três anos depois, Liberato morreu, deixando-a viúva aos 37 anos.

Mesmo sem diploma universitário, Graziela deu prosseguimento aos estudos do marido no Jardim Botânico e orientou estagiários e até doutorandos que passavam pela instituição. Decidiu cursar faculdade somente aos 47 anos, ingressando em biologia na Universidade do Estado da Guanabara, atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro. No segundo ano do curso, perdeu um filho.

"Meu filho era piloto, morreu em 1960", lembra. "Todo mundo pensou que eu fosse abandonar a universidade. Fiquei arrasada. Mas não só não deixei de trabalhar, como cinco dias depois estava no Jardim Botânico e na universidade. Procurei no trabalho toda a força que precisava ter."

Na academia, Graziela se dedicou a descobrir e descrever diversos tipos de vegetais. Aos 60 anos se tornou doutora em botânica pela Unicamp, com tese sobre espécies de vegetais brasileiras, sendo a maior catalogadora de plantas do Brasil.

Em 1999 se tornou a única brasileira a receber a medalha Millenium Botany Award, prêmio internacional concedido a botânicos dedicados à formação de profissionais.

Já aposentada, a botânica atuou como consultora do Jardim Botânico carioca até quase os 90 anos. Em 1989, o prédio da botânica sistemática da instituição recebeu seu nome, como homenagem.

Graziela morreu em 2003, no Rio de Janeiro, um mês antes de ser empossada na Academia Brasileira de Ciências.

Conhecida como "primeira grande dama" da botânica brasileira, Graziela foi responsável pela catalogação de vegetais nas cinco regiões do país. Cerca de 25 plantas já foram batizadas com seu nome, como a Dorstenia grazielae, popularmente chamada de caiapiá-da-graziela, e a Diatenopteryx grazielae, conhecida como maria-preta.

Graziela também foi responsável pela formação das atuais gerações de biólogos em atividade, tendo sido professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e na Unicamp. Em 1966 se tornou a primeira professora de botânica da UnB.

"Sempre me dediquei muito ao meu trabalho, sempre gostei muito do que faço, e a coisa mais importante é que formei todos esses botânicos novos. E eles se destacaram de tal maneira que hoje são pesquisadores internacionais, melhores do que eu", disse Graziela em 1999.

Em 2000, recebeu da prefeitura do Rio de Janeiro o diploma Orgulho Carioca. Em 2001, foi laureada com a Ordem Nacional do Mérito Científico.

Desde 2014, a Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul concede o Prêmio Marco Verde Doutora Graziela Maciel Barroso a pessoas que se dedicam à proteção e recuperação do meio ambiente.

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