De ministro no Afeganistão a entregador de pizza na Alemanha
27 de agosto de 2021
Por dois anos, Sayed Sadaat esteve à frente do Ministério das Comunicações afegão. Ele diz que não se arrepende de ter largado o cargo e a vida de luxo no país natal, pois na Alemanha se sente seguro.
Anúncio
Quando o Talibã tomou o poder em sua terra natal, em meados de agosto, Sayed Sadaat já estava a milhares de quilômetros de distância, entregando pizzas na Alemanha.
Antes acostumado a andar em carros de luxo, o ex-ministro das Comunicações afegão agora percorre de bicicleta as ruas de Leipzig para entregar comida, recebendo 15 euros por hora.
O homem de 49 anos, formado em TI e telecomunicações no Reino Unido, deixou o ministério em 2018 e mudou-se para a Alemanha em setembro do ano passado na esperança de um futuro melhor.
Como também tem cidadania britânica, o afegão aproveitou a última janela antes do Brexit para se mudar para a Alemanha, antes da saída do Reino Unido da União Europeia.
Sadaat diz que alguns no Afeganistão o criticam por ter aceitado o emprego de entregador após ter trabalhado por dois anos no alto escalão do governo afegão, ao lado do presidente Ashraf Ghani, que fugiu do país quando o Talibã tomou a capital Cabul, há duas semanas.
Para ele, porém, o que importa é ter um trabalho. "Não tenho do que me sentir culpado", disse Sadaat, vestindo seu uniforme laranja.
"Espero que outros políticos também sigam o mesmo caminho, trabalhando com os cidadãos em vez de se esconder", acrescentou.
Dificuldades para encontrar trabalho
Apesar de seu vasto currículo, Sadaat tem lutado para encontrar um emprego na Alemanha. Inicialmente, ele esperava trabalhar na sua área de formação, mas como não sabia falar alemão, suas chances eram mínimas.
"A língua é a coisa mais importante", disse Sadaat.
Atualmente, o ex-ministro estuda pelo menos quatro horas de alemão por dia em uma escola de idiomas. À tarde, trabalha seis horas como entregador de comida, emprego que começou neste verão europeu.
"Sinto-me seguro aqui", diz ele. "Não sou mais um homem rico, mas gosto do trabalho, e o dinheiro é suficiente para viver", declarou em entrevista ao jornal alemão Bild.
Além do alemão, Sadaat teve que enfrentar outro grande desafio: aprender a andar de bicicleta no trânsito da cidade.
"Os primeiros dias foram emocionantes, mas difíceis", contou. "Quanto mais você sai e quanto mais vê as pessoas, mais aprende", acrescentou.
Anúncio
Requerentes de asilo afegãos em ascensão
A história de Sadaat ganhou destaque esta semana, em meio ao caos no Afeganistão após a tomada do poder pelo Talibã e as tentativas desesperadas de fuga da população. Seus familiares e amigos também vêm tentando se juntar às milhares de pessoas em voos de evacuação ou encontrar outras rotas de fuga para longe do domínio do Talibã.
Com a retirada das tropas americanas, o número de afegãos requerentes de asilo na Alemanha aumentou mais de 130% desde o início do ano, de acordo com dados do Escritório Federal para Migração e Refugiados.
le (reuters, ots)
Dez filmes sobre o Afeganistão
A turbulenta história do país serviu de pano de fundo para muitos filmes internacionais, como "O caçador de pipas" e "A Caminho de Kandahar".
Foto: Mary Evans Picture Library/picture alliance
"Hava, Maryam, Ayesha" (2019)
O filme mais recente da diretora afegã Sahraa Karimi estreou no Festival de Cinema de Veneza em 2019. Ele conta a história de três mulheres grávidas em Cabul. Pouco antes de a capital afegã ser tomada, Karimi enviou uma carta aberta ao mundo alertando sobre o Talibã. Depois, ela fugiu do Afeganistão e encontrou abrigo em Kiev.
Foto: http://hava.nooripictures.com
"Osama" (2003)
Durante o primeiro regime talibã (1996-2001), as mulheres não podiam trabalhar, o que representava uma ameaça existencial para todas as famílias cujos maridos foram mortos ou feridos na guerra. Em "Osama", uma jovem se veste de menino para sustentar sua família. Foi o primeiro filme a ser rodado no Afeganistão desde 1996, quando a produção de filmes foi proibida pelo Talibã.
Foto: United Archives/picture alliance
"A ganha-pão" (2017)
O premiado estúdio irlandês Cartoon Saloon criou um filme de animação com um enredo semelhante: "A ganha-pão", baseado no romance best-seller de Deborah Ellis, é sobre Parvana, de 11 anos, que assume a aparência de um menino para ajudar sua família. O filme foi produzido por Angelina Jolie e foi indicado ao Oscar de melhor desenho animado.
A adaptação cinematográfica do best-seller de Khaled Hosseini trata de temas universais como culpa e redenção. A história está ancorada no turbulento último meio século do Afeganistão: a derrubada da monarquia, a intervenção militar soviética, o êxodo em massa de refugiados afegãos e o regime do Talibã. O diretor foi o cineasta suíço-alemão Marc Forster.
Foto: Mary Evans Picture Library/picture-alliance
"A Caminho de Kandahar" (2001)
O filme do diretor iraniano Mohsen Makhmalbaf conta a história de uma afegã-canadense que retorna à sua terra natal para evitar o suicídio de sua irmã. Quando "A caminho de Kandahar" estreou em Cannes, em 2001, não atraiu muita atenção. Mas então vieram os ataques de 11 de Setembro, e o mundo quis saber mais sobre a situação das mulheres no Afeganistão.
Foto: Mary Evans Arichive/imago images
"Às cinco da tarde" (2003)
Dois anos depois, Samira, filha de Makhmalbaf, também representante do Novo Cinema iraniano, apresentou outro filme sobre mulheres afegãs em Cannes. "Às cinco da tarde" conta a história de uma jovem em Cabul devastada pela guerra. Depois que o Talibã foi derrotado, ela tenta estudar - e até sonha se tornar presidente.
Foto: Mary Evans Picture Library/picture alliance
"Neste mundo" (2002)
O filme retrata dois jovens refugiados afegãos em sua árdua jornada de um campo de refugiados no Paquistão para Londres. O diretor Michael Winterbottom filmou o drama em estilo documentário com atores amadores. O filme ganhou o Urso de Ouro e o prêmio Bafta de melhor filme em idioma não inglês na Berlinale de 2003.
Foto: Mary Evans Picture Library/picture-alliance
"O grande herói" (2013)
O filme de guerra dos EUA é baseado em um relato factual do soldado americano Marcus Luttrell. Durante a Operação Red Wings, em 2005, uma equipe de quatro pessoas tinha como alvo um grupo de combatentes do Talibã na província afegã de Kunar. Luttrell, interpretado por Mark Wahlberg, foi o único sobrevivente de uma emboscada. Um helicóptero enviado para ajudar também foi abatido.
Foto: Gregory E. Peters/SquareOne/Universum Film/dpa/picture alliance
"Rambo 3" (1988)
O terceiro filme da série com Sylvester Stallone no papel-título se passa durante a guerra soviético-afegã. Rambo vai ao Afeganistão para salvar seu ex-comandante do exército soviético. Quando lançado, supostamente o filme teria sido dedicado aos "corajosos mujahedin", que também lutaram contra os soviéticos − um mito puro para os especialistas em cinema.
Foto: United Archives/IFTN/picture alliance
"Jogos do poder" (2007)
Na década de 1980, o congressista americano Charlie Wilson arquitetou um programa secreto de financiamento para os mujahedin afegãos. O plano visava financiar armas aos combatentes, ainda considerados heróis na luta de resistência contra os soviéticos. A sátira política estrelada por Tom Hanks foi o último trabalho de direção do diretor americano Mike Nichols.