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De olho em outros mercados, empresas alemãs buscam executivos estrangeiros

9 de março de 2013

Indústria automobilística europeia passa por período de estagnação e, enquanto lucros crescem na América do Norte e na China, falta aos executivos competência para lidar com mercados internacionais.

Foto: picture-alliance/Robert B. Fishman

Os mais recentes anúncios feitos pela Daimler podem ser mais ou menos traduzidos com as palavras: é preciso mudar alguma coisa – e rapidamente. "Vamos ter mais projetos fora da Alemanha e teremos mais parceiros estrangeiros", anunciou Wilfried Porth, diretor de recursos humanos da montadora alemã, que tem a Mercedes-Benz como principal marca.

Para isso, o programa interno de formação de futuras lideranças, pelo qual passam anualmente 500 jovens executivos, está sendo reformulado. A parcela de trainees estrangeiros, hoje em torno de um terço do total, deverá subir para a metade. Não se sabe ao certo, contudo, quando esse patamar deverá ser atingido, nem quais posições esses jovens deverão ocupar mais tarde.

Para observadores do setor, tais mudanças já deveriam ter acontecido há muito tempo, pois os mercados de interesse estão sobretudo em outras regiões, especialmente na América do Norte e na China. Isso porque há anos as vendas de carros de passeio na Europa já se encontram estagnadas.

Brasil: exemplo concreto

Ao contrário de seus concorrentes, a Daimler perdeu algumas tendências importantes, diz Stefan Bratzel, diretor do Centro de Gerenciamento Automotivo em Bergisch Gladbach, no oeste alemão. Especialmente, completa ele, quando se trata de um enfoque específico para determinadas regiões. "Nesse caso, há necessidade de funcionários com competências nacionais, que entendam os mercados locais e suas especificidades", diz.

Stefan Bratzel: são necessários funcionários que entendam mercados locaisFoto: Center of Automotive Management

Bratzel cita concretamente o exemplo brasileiro: um país de grande extensão, com regiões e paisagens muito distintas e, em parte, estradas ruins. Sendo assim, continua o especialista, é preciso dispor de determinadas tecnologias na montagem dos veículos. Além disso, ele lembra que o etanol como combustível desempenha um importante papel no Brasil.

Diversidade cultural gera transformação

Torsten Wulf, especialista em Gerenciamento Estratégico e Internacional da Universidade de Marburg, confirma que saber gerenciar uma empresa em vários países é, de fato, uma das chaves para o sucesso. Ele cita o caso do grupo Bertelsmann: "Eles têm uma presença consideravelmente forte na China e trabalham muito com lideranças do país", observa Wulf.

Segundo ele, mesmo dentro da Alemanha o conhecimento do gerenciamento internacional traz vantagens importantes. "Pessoas que têm outras trajetórias mudam a forma de abordar questões de liderança. Por isso, muitas empresas fazem uso dessas possibilidades", afirma.

Torsten Wulf: estrangeiros trazem benefícios também para o mercado internoFoto: HHL

O dinamarquês Kaspar Rorsted é um dos exemplos mais célebres de executivos estrangeiros na Alemanha. Presidente da companhia de produtos químicos Henkel desde 2008, conta Wulf, ele mudou sustentavelmente a cultura da empresa.

"Nos países escandinavos, há uma outra conduta em relação a modelos de jornadas de trabalho, incluindo executivos que não trabalham em horário integral", diz Wulf. Isso, explica o especialista, influi obviamente na cultura de uma empresa, pois quanto mais as mudanças vêm de cima, mais fácil fica implementá-las e concretizá-las entre os funcionários.

Não há tendência comum

Uma olhada nas listas de executivos das 30 principais empresas com ações na bolsa de valores alemã mostra que os altos cargos estão passando por uma internacionalização. Segundo uma pesquisa realizada em 2012 pela consultoria Simon-Kucher & Partners, a Daimler, bem como outros grupos de atuação global, como a Lufthansa, o Commerzbank ou a Merck, só têm alemães entre seus executivos. O oposto acontece, porém, com a Fresenius Medical Care, que tem 86% de estrangeiros entre seus executivos, seguida da Linde e da gigante do setor de informática SAP, com 60% de executivos não alemães cada uma.

Em média, quase 30% de todos os executivos das empresas com ações na bolsa vêm de fora do país. Isso significa o dobro do registrado no ano de 2000, embora esse percentual tenha estagnado nos últimos três anos. Isso acontece por duas razões, aponta Jan Merkel, consultor sênior da Simon-Kucher & Partners.

Por um lado, ainda domina, com frequência, uma política conservadora de recursos humanos. Além disso, existem as barreiras linguísticas. "Mesmo quando na presidência todos falam inglês, não falar a língua do país dificulta a comunicação com os funcionários", avalia Merkel.

Markus Mainka, porta-voz da Daimler, afirma que a montadora visa a internacionalização cada vez mais no que diz respeito aos cargos de liderança, sobretudo de olho na concorrência.

"Queremos reproduzir o modelo global de negócios também na estrutura das lideranças, a fim de entender melhor as peculiaridades locais, os mercados e necessidades dos clientes e poder oferecer os produtos e serviços adequados", anuncia Mainka.

Mesmo assim, não se sabe ainda quando a presidência da Mercedes-Benz terá, entre suas lideranças, um executivo que não seja alemão.

Autor: Andreas Grigo (sv)
Revisão: Rafael Plaisant Roldão

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