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EconomiaFrança

De olho no segundo mandato, Macron aposta em economia forte

Sonia Phalnikar
31 de março de 2022

Mais rápido do que se esperava, a economia da França está se recuperando dos efeitos da pandemia. Porém medidas que acarretam alta do déficit e da inflação são pouco populares entre eleitorado, que se sente abandonado.

Idoso segura cartaz eleitoral de Emmanuel Macron
Presidente francês aposta praticamente em uma única carta para ser reeleitoFoto: Sonia Phalnikar/DW

Com o primeiro turno das eleições presidenciais na França programado para 10 de abril, o atual chefe de Estado e candidato mais forte, Emmanuel Macron, tem uma economia robusta como argumento forte para convencer o eleitorado de que as reformas de seu mandato estão dando frutos.

A economia francesa se recuperou mais rápido do que se esperava da crise da covid-19, com um crescimento de 7% em 2021, o maior em 52 anos. Por sua vez, a taxa de desemprego foi a mais baixa em uma década, o poder aquisitivo dos consumidores cresceu e os investimentos estrangeiros pouco a pouco voltam a fluir.

Desde que se elegeu em 2017, com uma plataforma centrista, o ex-banqueiro de investimentos e ministro da Economia Macron decretou um grande volume de reformas, relaxando as normas trabalhistas para facilitar a contratação e demissão, cortando a ajuda para desempregados e os impostos sobre capital e renda, tanto para pessoas físicas como jurídicas.

"As políticas de Macro têm sido bastante pró-empresariado, embora ele tenha tido que adaptar algumas delas devido às crises, inclusive os protestos dos 'coletes amarelos' e a covid", comentou à DW Mathieu Plane, do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OFCE), sediado em Paris. "No total, a atratividade econômica da França no nível internacional definitivamente melhorou."

Política do "custe o que custar"

Uma indicação dessa melhora é a próspera cena das startups francesas. No começo deste ano, Macron, trajando gola rolê estilo Steve Jobs, celebrou o 25º "unicórnio" (uma startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão) do país, antes mesmo da meta pré-estabelecida, que era 2025.

"O ponto mais positivo do mandato de Macron é o dinamismo das corporações francesas, em termos de balancete, lucratividade e inovação", afirma Patrick Artus, economista-chefe do Natixis Bank. "Há um volume gigantesco de dinheiro fluindo para o setor corporativo."

O ano de 2021 foi de recorde para as companhias de tecnologia do país, que reuniram um capital de 11,6 bilhões de euros – um acréscimo de 115% em relação a 2020. Segundo especialistas, um fator para esse avanço foi também a estratégia de "custe o que custar" de Macron durante a pandemia de covid-19, investindo em peso para preservar a liquidez das empresas e ajudá-las a manter seus funcionários.

O diretor executivo da JPB Système, Damien Marc, conta que graças ao auxílio governamental ele pôde resistir à queda do setor de aviação, manter todo o seu quadro altamente especializado e diversificar seus produtos. Sua companhia emprega automação e robôs inteligentes na fabricação de sistemas de trancamento para aeronaves.

"Todo esse auxílio do governo na verdade nos permitiu expandir nossos negócios num momento em que se estava demitindo em muitas partes do mundo. Na verdade, nós conquistamos mais alguma parcela do mercado e voltamos mais fortes do que nunca."

Em 2021, a firma de alta tecnologia recebeu mais uma injeção de capital de 1,5 milhão de euros, provindos do plano governamental de recuperação de 100 bilhões de euros, visando reaquecer a indústria em diversos setores.

Fábrica da JPB Système: alta tecnologia é um dos setores privilegiados pelas reformas de MacronFoto: Sonia Phalnikar/DW

"Reindustrialização" é palavra de ordem

Segundo especialistas, a crise da covid-19 – que expôs a forte dependência da França de fornecedores estrangeiros – também deu novo impulso aos planos de Macron de "reindustrializar", encorajando as firmas a investirem na indústria nacional, em vez de depender das importações industriais da Ásia. Agora, Paris está fomentando setores estratégicos, como o de semicondutores, baterias elétricas e projetos de hidrogênio.

"Agora há a consciência de que o grande ponto fraco da França foi a desindustrialização que vimos ao longo dos últimos 40 anos e que não conseguimos deter. É importante reverter essa tendência", diz Plane, embora ressalvando que "ainda é muito fraca" a participação do setor de manufatura na economia nacional, com cerca de 10% do PIB.

Artus concorda, acrescentando que manufatura e produção "mostraram muito poucos sinais de pregresso" durante os cinco anos do mandato de Macron, apesar dos cortes fiscais e reformas. Além disso, um déficit comercial crescente gera apreensão.

"Uma das principais razões da fraqueza da França na manufatura é uma falta de capacitação e de educação de alta qualidade. Essa é uma grande deficiência", prossegue o economista-chefe do Natixis Bank. "Macron está tentando incentivar a formação profissional e reformar os programas de treinamento, mas vai ser preciso tempo para ver resultados."

Cidadãos se sentem prejudicados

Outra área de preocupação para os analistas é o estado dos cofres públicos da França após a onda de gastos públicos e cortes fiscais. "As políticas ajudaram a impulsionar o crescimento e aumentar a competitividade das empresas, mas também cabe a questão de como essas medidas são financiadas, e do aumento do débito orçamentário e público", observa Plane, do OFCE.

A candidata republicana Valérie Pécresse acusou o presidente de distribuir infinitas quantidades de verbas e de "saquear a caixa" para financiamento emergencial da pandemia, catapultando o débito nacional a um recorde de 115% do PIB.

Mesmo reconhecendo o mérito das reformas de Macron por reavivar empresas, muitos se perguntam se os ganhos econômicos reverteram para os cidadãos. Enquetes entre o eleitorado citam como a principal preocupação a perda de poder aquisitivo decorrente da inflação. Os aumentos relacionados à guerra na Ucrânia aprofundaram ainda mais essas apreensões.

Custos das políticas econômicas de Paris se fazem sentir nas ruasFoto: Sonia Phalnikar/DW

Numa feira de rua no leste de Paris, Isabelle, mãe solteira de três, confirma que sente cada vez mais o incômodo da alta do custo de vida: "Os preços dos artigos essenciais e do gás subiram, e temos que ter muito mais cuidado de como gastamos nosso dinheiro."

A cabeleireira de 38 anos critica as políticas presidenciais: "A gente não sente que as nossas vidas melhoraram muito. Macron é um presidente que só faz reformas para os ricos." Esse ponto de vista é muito difundido desde que ele aboliu os impostos sobre grandes fortunas, em 2018.

Patrick Artus acrescenta que, apesar da criação de cerca de 700 mil empregos no setor, em 2021, muitos são não qualificados e de baixos salários. "É verdade que muitos franceses que trabalham no varejo, restaurantes, limpeza ou logísticas são pobres." Por outro lado, ressalva, dados mostram que o governo tem gasto somas gigantescas para assistir esses cidadãos, por último com 15 bilhões de euros a fim de amenizar o golpe da alta dos preços de energia.

Contudo Macron está apostando em seu histórico econômico, tendo recentemente declarado que manterá as reformas para reconfiguração da economia, caso obtenha um segundo mandato. A prova final caberá às urnas, a partir de 10 de abril.

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