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De porões, DJs e sexo: a noite em Berlim

Rodrigo Rimon21 de junho de 2006

Berlim vive a noite como se não existisse o dia. Na capital – onde bares e clubes não têm hora para fechar, dress codes variam conforme preferências sexuais, e seguranças na porta são raridades – há de tudo e para todos.

Às vezes, a música é o de menosFoto: picture-alliance/ dpa

Nas páginas dedicadas à vida noturna da cidade, o guia turístico britânico Time Out menciona um episódio engraçado: segundo rumores, um censor enviado pelo prefeito para fazer uma estatística dos bares e clubes da cidade nunca teria voltado.

De fato, marinheiros de primeira viagem poderão ter problemas para se encontrar na noite de Berlim. Mas quem se perder pode acabar se divertindo mais. Afinal, em Berlim a vida noturna ainda não foi contagiada pelo caráter corporativo de cidades grandes como São Paulo, Nova York e Londres.

Dançando consigo mesmo: clubes mantêm clima independenteFoto: picture-alliance/dpa

Nada de seguranças com rádio e fone de ouvido, design internacional e música comercial. A maioria dos estabelecimentos manteve um clima independente ou pessoal, DJs são escolhidos a dedo e baristas são muitas vezes estudantes, ou seja: não espere um barman premiado fazendo malabarismo com a coqueteleira.

Quem chegar no inverno, pode até se espantar ao não encontrar ninguém nas ruas. O que não significa que estejam todos dormindo – atrás de uma portinhola escondida no fundo de um quintal pode se esconder uma festa inesquecível.

Nova experiência urbana

A reputação de Berlim como Meca dos prazeres noturnos tem história. Nos tempos do Muro, a cidade concentrava uma enorme população jovem, que vinha à capital para escapar do serviço militar. E com a dificuldade em deixar a cidade, cercada pelo Muro por todos os lados, a vida noturna só tinha a ganhar.

Fábricas e galpões desativados deram lugar a clubesFoto: AP

A queda do Muro abriu espaço para uma nova experiência urbana. Não só cenas inteiras se mudaram para os novos bairros, mas uma miríade de velhas fábricas e galpões desativados permitiu o surgimento de festas gigantescas e esporádicas, que aproveitavam ao máximo as condições que só Berlim tinha para oferecer.

Assim surgiram clubes profissionais e famosos – principalmente de música eletrônica, a trilha sonora da reunificação – como Casino, Polar.tv e o extinto Ostgut, que fechou em 2003, mas reabriu suas portas em novembro de 2004 sob o nome Berghain (junção dos nomes Kreuzberg e Friedrichshain, por se situar na fronteira dos dois bairros).

Berghain: preferência sexual é secundária

Berghain e o anexo Panorama Bar são lugares de passagem obrigatória para quem está à procura de uma experiência inesquecível ou está fazendo um guia dos lugares mais cool do planeta. No Berghain, regem o techno e o minimal techno. Quem preferir house ou electro, deve ir ao segundo andar, onde fica o Panorama Bar.

O clube está instalado em uma antiga usina termoelétrica, contruída à base de aço e concreto, e o pé-direito da pista de dança principal chega a 18 metros de altura. A arquitetura interna é minimalista, com uma instalação de enormes placas de alumínio do polonês Piotr Nathan e fotografias ampliadas do cultuado fotógrafo alemão Wolfgang Tillmans.

Leia mais nas páginas seguintes sobre a vida noturna nos diversos bairros de Berlim e sobre a cena gay e lésbica na cidade.

As longas noites de Kreuzberg

A cena de cada bairro acompanha o caráter de cada região. Nos bairros mais abastados de Berlim Ocidental, como Wilmersdorf e Charlottenburg, a vida noturna é praticamente inexistente, se restringindo a velhas instituições como o Paris Bar, reduto de alguns ricos mecenas das artes.

Em Berlim Ocidental, os bairros de Kreuzberg e Schöneberg oferecem as melhores opções. Schöneberg é recomendável para quem levar um pouco mais de dinheiro, com clubes mais seletos, como o novo Goya, inaugurado no espaço do antigo teatro Metropol, e bares mais chiques, onde o figurino faz a diferença.

A rua Oranienstrasse em KreuzbergFoto: dpa

Kreuzberg, pelo contrário, luta para defender sua fama de alternativo. Quem passar de noite pela rua Oranienstrasse dificilmente escapará de encontrar grupos de punks (em sua maioria pacíficos!) bebendo nas ruas, tudo isso misturado à bagagem étnica da população turca típica da região.

É lá que fica o clube SO36, um dos pioneiros do techno na cidade, que hoje oferece um leque variado de festas, de pop turco a noites gays (confira antes de ir!).

Mitte, o novo centro, vem perdendo a força entre os berlinenses, embora continue sendo um dos locais prediletos de badalação para turistas. É que, se há alguns anos a região ainda abrigava um vasto leque de bares e clubes alternativos, reformas e obras de restauração de fachadas encareceram os aluguéis do bairro, o que teve conseqüências na vida noturna.

Ótimas baladas no Café MoskauFoto: picture-alliance/ dpa

Mesmo assim, lá ficam alguns clássicos da noite berlinense. É o caso do tradicional WMF (atualmente em casa no extremamente cool Café Moskau), que continua atraindo a nata da música eletrônica para suas pick-ups, e do Sage Club, especializado em house music. Para quem prefere as guitarras, recomenda-se acompanhar a agenda dos DJs do grupo Karrera Klub, que faz festas altamente recomendáveis.

Novidades no Leste

Após a queda do Muro, Kreuzberg deixou de ser aquela esquina completamente cercada da cidade e tornou-se uma região central. Ou seja: os aluguéis logo subiram. Com isso, a cena alternativa saiu à caça e encontrou um novo reduto: Friedrichshain, onde muitas das casas ainda não foram reformadas e algumas acabaram invadidas por squatters, ocupadores urbanos.

Gays e lésbicas de Berlim festejam o Dia do Orgulho de 2004Foto: picture-alliance/dpa

Mas não espere encontrar por lá grandes clubes e discotecas. Afinal, o forte da região são os bares, em sua maioria reunidos nas redondezas da rua Simon-Dach-Strasse. Os moradores já estão acostumados com o barulho, principalmente no verão, quando todos bebem em mesas postas nas calçadas. Quem não se acostumou, teve tempo de se mudar, afinal a fama do bairro continua crescendo.

Prenzlauer Berg é seu irmão bem-sucedido. Enquanto o desenvolvimento urbano pegou leve com Friedrichshain, em Prenzlauer Berg as mudanças descaracterizam praticamente o bairro inteiro. Suas casas foram ostensivamente reformadas e os aluguéis acompanharam o desenvolvimento.

Também aqui o espaço é marcado por bares e restaurantes. Vale a pena acompanhar a programação do Pfefferbank, um clube mais agradável nas temporadas de verão, com espaço ao ar livre e shows de música ao vivo, principalmente reggae e música étnica.

Leia mais a seguir sobre a cena gay e lésbica de Berlim.

Berlim sob o arco-íris

Para gays e lésbicas, Berlim oferece uma das maiores infra-estruturas do mundo. A cena é extremamente organizada e há festas praticamente todos os dias da semana. No verão, é bom ficar de olho aberto para não perder as inúmeras festas esporádicas, geralmente temáticas.

Aliás, antes de começar a balada, é bom levar em conta algumas diferenças básicas. Em primeiro lugar, gays e lésbicas constituem em Berlim – mais do que em outras cidades alemãs – duas cenas separadas. É muito difícil encontrar festas e até mesmo bares onde as duas metades se misturam.

Outro detalhe importante: boa parte das festas se orienta de acordo com fetiches e preferências sexuais. Portanto, preste atenção: não é possível entrar vestindo jeans em um bar para amantes de couro, assim como não é permitido entrar vestindo látex em um clube para adeptos do figurino esportivo.

Mesas ao ar livre na rua Simon-Dach-Strasse em FriedrichshainFoto: picture-alliance/ dpa

Mas, é claro que também há clubes que se orientam pela música, e não apenas pela preferência sexual. Um dos favoritos é o Schwuz, situado num enorme porão de Kreuzberg. Aberto somente às sextas, sábados e às vésperas de feriados, a programação varia. Há festas de dance music, outras de rock, eletrônicos e R&B, todas com freqüência mensal.

Bares legais para tomar um drink e curtir uma música legal são o Roses (house music), com uma decoração extremamente kitsch, e o Möbel Olfe (mais alternativo), ambos em Kreuzberg.

No primeiro sábado de cada mês, o Kino International, um antigo cinema da ex-Berlim Oriental, transforma-se no Klub International, uma enorme discoteca, com três pistas de dança e um lounge. Aos domingos, o clube WMF muda seu nome para GMF para receber o público gay.

Tradicionalmente, a cena da capital se reúne em Schöneberg. Lá há uma miríade de bares, discotecas, cinemas e livrarias gay, a maioria deles em torno da praça Nollendorfplatz. O público é geralmente mais velho e adaptado a padrões internacionais, a exemplo de San Francisco. Em geral, a entrada em muitos locais é permitida exclusivamente para homens.

Já em Prenzlauer Berg formou-se uma nova cena em torno da avenida Schönhauser Allee. Aqui, os freqüentadores são mais jovens e abertos, e a probabilidade de se encontrar um público misto é maior.

Para acompanhar a programação da cidade, há flyers e revistas especializadas em quase todos os estabelecimentos da cena. Para acompanhar a programação dia por dia, procure uma das duas principais revistas, a Siegessäule e a Sergey.

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