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De ressaca da Copa, Alemanha tem marca negativa histórica

Philip Verminnen15 de outubro de 2014

Com medalhões aposentados e série de lesionados, seleção alemã tem o pior início em um torneio qualificatório em sua história. Mas Brasil, Itália e Espanha também passaram recentemente por tropeços pós-título mundial.

Foto: picture-alliance/dpa/Marius Becker

Antes de cada partida da seleção alemã, o ritual nos estádios vem sendo o mesmo. Em clima de festa, a torcida monta um belo mosaico, saúda os campeões mundiais de 2014 e exibe com orgulho a quarta estrela no peito. Após o apito final, a reação também tem sido igual, porém em tom diferente: frustração e até tímidas vaias. A ressaca da conquista do tetracampeonato está estampada no rosto dos jogadores e membros da comissão técnica.

"Estamos todos decepcionados. Acho que foi a única chance da Irlanda em todo o jogo. Fomos muito ingênuos nos minutos finais. Era claro, que não iríamos criar tantas chances de gol, pois a Irlanda postou todos seus jogadores na defensiva. Nesta partida, não usamos a largura e os espaços do campo", lamentou o treinador Joachim Löw, após o empate em 1 a 1 com a Irlanda, na última terça-feira (14/10).

Desde que a Alemanha levantou a Copa do Mundo no Maracanã, em 13 de julho, a seleção disputou quatro partidas. No único amistoso, repetiu a final do mundial, em Düsseldorf, e foi atropelada pela Argentina: 4 a 2 – e com atuação de gala de Ángel Di María, que não participou da decisão no Rio por estar machucado.

Nos três jogos pelas Eliminatórias para a Eurocopa de 2016, os alemães sofreram para derrotar a Escócia (2 a 1), em Dortmund; foram derrotados pela primeira vez na história pela Polônia (0 a 2); e amarguraram um empate no apagar das luzes contra a Irlanda, no estádio do Schalke 04.

Em três jogos, os campeões mundiais conquistaram apenas 44% dos pontos disputados. É o pior começo da Mannschaft em um torneio qualificatório em toda a sua história. E pela primeira vez, depois de três rodadas disputadas, a Alemanha possui um saldo negativo de gols (3:4). Em quarto lugar no Grupo D, a seleção estaria hoje eliminada até da repescagem da Eurocopa de 2016, que será disputada na França.

Pela primeira vez na história, a Polônia derrotou a Alemanha. Muitos poloneses, como o atacante Robert Lewandowski (centro), atuam na BundesligaFoto: picture-alliance/dpa/T. Eisenhuth

"Nós mesmos somos os culpados", analisou o goleiro Manuel Neuer, após o empate com a Irlanda. "Depois que abrimos o marcador, perdemos a coragem. Apenas demos chutões e não nos desmarcamos para receber as bolas."

Desde 2007, a Alemanha não ficava dois jogos seguidos sem vencer, levando em conta apenas partidas oficiais. Na época, pelas Eliminatórias da Eurocopa de 2008, a Irlanda também esteve no caminho alemão: empate em Dublin e derrota para a República Tcheca, em casa.

Brasil, Itália e Espanha também tropeçaram

Mas os tropeços da Mannschaft após a Copa seguem um padrão. Seja por desmotivação, desgaste físico ou mudança no comando técnico, outras seleções recém-campeãs mundiais deixaram a desejar após a conquista.

Logo após o título no Japão, em 2002, o Brasil perdeu para o Paraguai por 1 a 0, em Fortaleza. Aquela foi a última partida de Luiz Felipe Scolari em sua primeira passagem pela Seleção e, até os 7 a 1 contra a Alemanha, havia sido também a última derrota brasileira em casa.

Em resumo: na cinco partidas seguintes àquela Copa, o Brasil perdeu para Paraguai e Portugal (1 a 2), ambas em casa; empatou sem gols com China e México; e venceu apenas a Coreia do Sul (3 a 2).

Itália e Espanha também patinaram. A Squadra Azzurra, campeã mundial em 2006, obteve sua primeira vitória após a conquista em Berlim apenas na quarta partida. Antes, perdeu um amistoso para a Croácia (0 a 2) e empatou em 1 a 1 com a Lituânia, ambos em casa. E na reedição da final de 2006, perdeu para a França por 3 a 1, em Paris.

Javier "Chicharito" Hernández balançou as redes de Iker Casillas, em 2010, na primeira partida após a final da Copa do Mundo da África do SulFoto: imago/AFLOSPORT

Já a Furia tem um retrospecto um pouco melhor nos três primeiros jogos após a final contra a Holanda, em Johanesburgo, em 2010. Empatou com o México (1 a 1), venceu por apenas 4 a 0 a fraco seleção de Liechtenstein e foi goleada pela Argentina, por 4 a 1, em Buenos Aires. Mas todas as partidas foram fora da Espanha.

Cansaço físico, inexperiência e rotação no elenco

Para o atual desempenho da Alemanha, bem abaixo do apresentado no Brasil, Löw tem uma explicação: "Em certos lances, falta a clareza mental a alguns jogadores. Ainda não temos a velocidade e a precisão, algo que eu praticamente esperava. Não se pode esperar que após uma Copa do Mundo todos estejam em plenas condições mentais e físicas."

A falta de tempo de férias adequado, excesso de jogos e preparação insuficiente na pré-temporada foram os principais motivos citados pelo treinador.

"O desgaste está no limite absoluto", avisou Löw. A preocupação é com os jogadores que quase todo ano participam de torneios pela seleção, como Copa, Eurocopa e Copa das Confederações. "A eles acaba faltando o trabalho básico preparatório de quatro semanas. E isso gera consequências ao longo do tempo. Temos que ter cuidado em não extrapolar o atleta."

Um exemplo é Toni Kroos. Na temporada passada, o meia disputou 67 partidas – 51 pelo Bayern de Munique e 16 pela seleção alemã. Apesar do desgaste, o meia do Real Madrid segue jogando, diferentemente dos contundidos Marco Reus, Sami Khedira e Bastian Schweinsteiger – os dois últimos líderes do elenco. Aos problemas somam-se as aposentadorias do capitão Philipp Lahm, de Per Mertesacker e Miroslav Klose.

Derrota na hora certa: Argentina carimba faixa alemã em Düsseldorf com direito a show de Ángel Di MariaFoto: picture-alliance/dpa/F. Gambarini

Ao todo, apenas 13 campeões mundiais estiveram à disposição de Löw contra a Irlanda. Sem mencionar Lukas Podolski e Mesut Özil, que estão em má fase no Arsenal. Em contrapartida, jovens como Erik Durm (22 anos), Julian Draxler (21), Matthias Ginter (20) e Antonio Rüdiger (21) estão assumindo responsabilidades sem ainda possuir a experiência internacional necessária.

E a tendência é que Löw não convoque para as últimas duas partidas do ano alguns dos principais jogadores. "Nos últimos anos, contra adversários mais fracos ou em amistosos eu promovi uma rotação no elenco e deixei alguns atletas de fora", disse o treinador.

O consolo para Joachim Löw e a Alemanha é que, antes do amistoso contra a Espanha, em Vigo, em 18 de novembro, o próximo adversário é Gibraltar, quatro dias antes, em casa. E apesar do pior início de eliminatórias da história, o treinador segue otimista: "Contra Gibraltar vamos ganhar, e no próximo ano vamos voltar com tudo."