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De "Três Vinténs" até à luz de lampião: Brecht para todos os gostos

Augusto Valente4 de agosto de 2006

No dia 14 de agosto de 1956 falecia o cidadão Bertolt Brecht, vítima de um enfarte cardíaco. Mas as numerosas manifestações em toda a Alemanha mostram quão vivo está o criador do teatro didático.

Bertolt Brecht, em foto do ano de sua morteFoto: picture-alliance/ dpa

A relação entre Bertolt Brecht (1898–1956) e sua conservadora cidade natal na Baviera era bastante tensa: durante longos anos, Augsburg não fez muita questão de demonstrar orgulho por esse rebelde filho. Porém, o tempo ajuda a digerir tudo, até mesmo um dramaturgo incendiário, e – o mais tardar, ao completar 50 anos de morte – Brecht circula hoje tranqüilamente pelos salões.

Augsburg

Augsburg à noiteFoto: Illuscope

Nesta sexta-feira (04/08), a cidade onde um certo Eugen Bertholt Friedrich Brecht nasceu em 10 de fevereiro de 1898 inicia seu terceiro fim de semana em homenagem ao mais influente homem de teatro alemão do século 20.

O programa, sob o título "Que noites, estas! Azul profundo e cheias de música", inclui concertos de canto e música instrumental, leituras e recitais de poesia, assim como duas exposições. Na abertura, Rainer Weiss, antigo diretor-geral da editora Suhrkamp, lê trechos da correspondência entre Brecht e seu editor.

Dedicada às publicações do escritor, a mostra Brecht na arte da ilustração e gravura exibe 500 objetos, entre xilogravuras expressionistas, desenhos coloridos à mão, caricaturas célebres e valiosas primeiras edições.

O lançamento do livro Komm und setz dich, lieber Gast (Vem e te senta, caro hóspede), de Martha Schad, revela visões divertidas e espirituosas da privacidade culinária do casal Brecht-Helene Weigel. O fim de semana se encerra com uma misteriosa caminhada à luz de lampiões, seguindo os passos do criador do teatro didático em Augusburg.

Três vinténs de Brandauer

Klaus Maria BrandauerFoto: AP

Aguardada com ansiedade, a estréia de uma nova montagem da Ópera dos três vinténs (Die Dreigroschenoper) em Berlim marca um ponto alto nas comemorações. A concepção é do ator austríaco Klaus Maria Brandauer (Mephisto), em seu primeiro trabalho de direção teatral.

Diversas outras encenações recentes – por exemplo, na Áustria e na Broadway – reafirmam a atualidade desse musical dialético de 1928, talvez a obra mais acessível do também autor de Baal e Terror e miséria do Terceiro Reich. Na montagem berlinense coube ao cantor Campino, do grupo punk-rock Die Toten Hosen, o papel central do "malandro" Mackie Messer.

Além dos aparentes atrasos no cronograma e da irascibilidade de Brandauer diante da imprensa, a estréia, marcada para 11 de agosto, tem atraído a atenção por reinaugurar um célebre teatro de revista da década de 1920, o Admiralspalast, que está sendo meticulosamente reformado para a ocasião.

Maratona no Berliner Ensemble

No dia seguinte, o Berliner Ensemble abre seu Festival Brecht. Até 3 de setembro, o local criado pelo próprio dramaturgo em 1949 apresenta filmes, concertos, leituras da mais nova geração de seus seguidores e uma verdadeira maratona das peças brechtianas.

Helene Weigel no papel de Mãe CoragemFoto: dpa

De Na selva das cidades a Santa Joana dos Matadouros, de Mãe Coragem e O casamento pequeno-burguês à sátira a Hitler A resistível ascensão de Arturo Ui, o evento traz, além das versões do próprio Berliner Ensemble e dos cultuados Claus Peymann e Achim Freyer, grupos da Espanha e da França e até mesmo o japonês Tokyo Engeki Ensemble, com A vida de Galileu.

Mas a noite de gala é no início. O prazer de recitar os suculentos versos do autor e de entoar as tortuosas melodias de Kurt Weill reúne numa noite de gala a fina flor dos atores e cantores alemães. No dia seguinte (13/08), à noite, o canal de televisão ARD transmite a íntegra da festa.

A arte de viver

No dia 9 de agosto, a mesma emissora irradia o documentário Die Kunst zu leben, que estreou no final de julho último pelo canal Arte. Com ênfase nas mulheres na vida do artista – da esposa e filha às colaboradoras e amantes –, o filme de Joachim Lang "mostra Brecht como uma pessoa para quem a independência intelectual era o mais importante".

"Tão logo a via ameaçada," segue o texto da ARD, "ele se retirava da província bávara para Berlim, depois – na fuga do fascismo – ao redor do mundo. Até se estabelecer em Berlim Oriental, onde esperava ter boas condições para seu trabalho teatral." Mas, como se sabe, a luta não acabou aí.

Buckow, o último retiro

Praticamente a última estação na vida do homem de teatro, Buckow, em Brandemburgo, completa o roteiro. A Casa Brecht-Weigel, onde o casal residiu a partir de 1952, tornada mais tarde centro de literatura, também contribui para as manifestações do cinqüentenário de morte. Também aqui a música, não apenas na forma das canções Weill-Brecht, é presença obrigatória.

'A mãe', montagem do Berliner EnsembleFoto: AP

No dia 11 de agosto abre-se a exposição Trocando de país mais que de sapatos, sobre os locais onde morou Bertolt Brecht. Na ocasião estreará o ciclo de canções Buckower Elegien, do compositor berlinense Peter Gotthardt, sobre textos do dramaturgo-poeta. Uma nova versão da película In der Frühe sind Tannen Kupfern, sobre a vida do casal em Buckow, também estréia durante o 9º Verão da Literatura da Casa Brecht-Weigel.

Sabine Kebir se concentra nos aspectos feministas da obra de Ruth Berlau. A atriz, escritora e diretora foi amante de Brecht a partir de 1935, quando ambos eram casados. Em 24 de agosto, Berlau completaria 100 anos.

Por sua vez, o autor Werner Hecht fala sobre sua crônica, enfocando os últimos anos da vida de Brecht, em especial sua relação com o mal cardíaco crônico, exacerbado pelas querelas com os funcionários do regime comunista na década de 50.

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