Debate sobre assédio sexual é destaque na Berlinale
14 de fevereiro de 2018
Festival de Cinema de Berlim entra na onda do movimento #MeToo e promove discussão sobre abuso sexual e discriminação na indústria do entretenimento. Atriz organiza petição pedindo tapete preto na abertura.
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O Festival de Cinema de Berlim, a Berlinale, é tido como o mais politizado evento do gênero. E neste ano não poderia ser diferente. Quando o tapete for estendido e as primeiras cortinas se abrirem na capital alemã nesta quinta-feira (15/02), os filmes e artistas presentes devem ser ofuscados pelos escândalos de abuso sexual que vêm sacudindo a indústria do cinema e do entretenimento.
Refletindo o debate provocado recentemente pelo movimento #MeToo (Eu também) nas redes sociais – iniciado após uma série de acusações de abuso contra o produtor de Hollywood Harvey Weinstein –, a 68ª edição da Berlinale vai realizar eventos e debates sobre o tema.
"Essa discussão certamente moldará muito o festival. Não é só sobre assédio sexual. É sobre discriminação como um todo", disse o diretor do festival, Dieter Kosslick. "A ressonância internacional do #MeToo rapidamente deixou claro que o problema não se limita a Hollywood."
Os eventos sobre o assunto planejados durante a Berlinale incluem painéis de discussão sobre como combater má conduta sexual na indústria do entretenimento, como incentivar mais filmes dirigidos por mulheres e como aumentar a atuação feminina em áreas técnicas da indústria do cinema.
Os escândalos que nos últimos meses abalaram as carreiras de grandes nomes, como Weinstein e Kevin Spacey, e incluíram denúncias de atrizes famosas, como Angelina Jolie e Uma Thurman, contribuíram para que o festival berlinense focasse o papel da mulher na indústria do cinema, dominada por homens.
Dos 19 filmes selecionados para a mostra principal da Berlinale, quatro foram dirigidos por mulheres: Twarz (Mug); da polonesa Malgorzata Syumowska; Touch Me Not, da romena Adine Pintilie; 3 Days in Quiberon, da berlinense Emily Atef; e Figlia Mia, da italiana Laura Bispuri.
A Berlinale foi obrigada a excluir da programação cerca de cinco produções porque o diretor, o roteirista ou algum ator no elenco era alvo de acusações credíveis de má conduta sexual, segundo Kosslick.
Tapete preto
A atriz alemã Claudia Eisinger lançou uma petição online para que os organizadores da Berlinale troquem o tradicional tapete vermelho da abertura por um preto. Até a tarde desta quarta-feira, a campanha, intitulada #blackcarpetberlinale, já havia reunido mais de 21 mil assinaturas.
"#MeToo é a tempestade catártica que finalmente está trazendo uma ruptura. Finalmente a luz recai sobre um sistema há muito ultrapassado e expõe as queixas não apenas de uma indústria, mas de toda a sociedade", diz Eisinger no texto que acompanha a petição. "Em Hollywood, as atrizes se vestiram de preto. Em Berlim, queremos um tapete preto."
"Eu só posso pedir que cada mulher venha vestida como quiser", disse Kosslick. "Nunca tivemos um código de vestimenta na Berlinale. E eu nunca barraria uma mulher por usar sapatos baixos ou um homem por usar salto."
Até o dia 25 de fevereiro, o Festival de Cinema de Berlim exibirá um total de 385 filmes de mais de 80 países. Além de assédio sexual e discriminação, questões de gênero, etnia, deficiência, identidade sexual e diversidade religiosa serão outros temas de destaque. Mais de 300 mil ingressos já foram vendidos.
LPF/dpa/rtr/afp
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Dez diretoras alemãs de cinema
Embora quase metade dos graduados em Cinema na Alemanha sejam mulheres, elas assumem apenas 15% da direção dos filmes no país. Conheça algumas delas: jovens ou precursoras, com filmografias experimentais ou comerciais.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Maren Ade
Nascida em 1976, Maren Ade é uma das diretoras alemães de trajetória mais sólida dentro e fora do país. Depois de "Floresta para as árvores", seu premiado filme de conclusão de curso e de baixo orçamento "Todos os outros" (2009) levou um Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim. "Tony Erdmann" (2016), que teve sua estreia em Cannes, é um dos indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Ulrike Ottinger
Entre 1962 e 1968, foi aluna de Claude Lévi-Strauss e Pierre Bourdieu na França. De volta à Alemanha, dirigiu muitos filmes – entre eles uma série de documentários longos, frutos de suas viagens pela Ásia e mais tarde pelo Leste Europeu. Seus trabalhos audiovisuais receberam incontáveis prêmios e sua obra foi tema de retrospectivas na Cinemateca de Paris e no MoMA de Nova York.
Foto: DW
Helke Sander
Nascida em 1937, foi uma das precursoras do movimento feminista no cinema alemão. Entre 1966 e 1969, estudou na Academia Alemã de Cinema e Televisão de Berlim (DFFB). Em 1973, organizou o Primeiro Seminário de Cinema Feminino em Berlim, com exibição de 40 filmes dirigidos por mulheres. Em 1974, fundou a revista "Mulheres e Cinema", que editou até 1982. Em 1984, recebeu o Urso de Ouro na Berlinale.
Foto: picture-alliance / KPA Honorar und Belege
Helma Sanders-Brahms
Em 1967, Helma Sanders-Brahms (1940-2014) trabalhou com Pier Paolo Pasolini na Itália. A partir de 1969, dirigiu diversos filmes de cunho autobiográfico, muitos deles voltados para questões relativas ao lugar da mulher no trabalho e na família. Além da direção, ela assinava roteiros e produzia seus próprios filmes. Entre as obras que a tornaram conhecida está "Alemanha, mãe pálida" (1980).
Foto: Getty Images
Margarethe von Trotta
Diretora e roteirista berlinense nascida em 1942, Margarethe von Trotta começou sua carreira como atriz. Personagens femininas são uma marca de sua obra. Ela já levou às telas as trajetórias de Hildegard von Bingen, Rosa Luxemburg e Hannah Arendt, entre outras.
Foto: picture-alliance/dpa
Doris Dörrie
A cineasta assina a direção de mais de 30 filmes, encenações de ópera, romances e livros infantis. Alguns de seus filmes são adaptações para a tela de seus próprios livros. Doris Dörrie tornou-se internacionalmente conhecida em 1985 com a comédia de costumes "Homens". Uma das características de sua obra é o humor constante.
Foto: picture-alliance/Geisler-Fotopress
Caroline Link
Em 1990, concluiu os estudos na Escola Superior de Cinema e Televisão de Munique. Seis anos mais tarde, "A música e o silêncio", seu longa-metragem de estreia na direção, seria indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro. Mas conhecida internacionalmente ela se tornaria com "Lugar nenhum na África", a história de uma família judia que foge do nazismo e se exila no Quênia.
Foto: picture-alliance/dpa
Angela Schanelec
Em 1993, antes de se formar na Academia Alemã de Cinema e Televisão de Berlim (DFFB), já estreava na direção. Foi premiada por "Marselha" e é uma das diretoras dos "13 curtas sobre o estado da nação" – projeto que reuniu cineastas do país em 2009, como contraponto ao coletivo "Alemanha no outono", de 1977. Seu nome é associado ao que se convencionou chamar de Escola de Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Carstensen
Yasemin Şamdereli
De ascendência curda, a diretora nasceu e cresceu na Alemanha. Graduada pela Escola Superior de Cinema e Televisão de Munique, recebeu vários prêmios por seu curta de conclusão de curso. Depois de trabalhar para a TV, realizou "Bem-vindo à Alemanha", que estreou no Festival de Berlim e foi exibido em diversos lugares do mundo. O filme aborda, de maneira singular, o tema migração e identidade.
Valeska Grisebach
Ex-aluna de Michael Hanecke na Academia de Cinema de Viena, recebeu diversos prêmios por seu filme de conclusão de curso: o semidocumental "Minha estrela". Seu segundo longa, "Saudade", estreou no Festival de Berlim e foi muito premiado. Nele, a diretora consegue abolir a fronteira entre documentário e ficção, já que os figurantes do povoado que serve de cenário ao filme são moradores locais.