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Contra a camisinha

19 de março de 2009

Em viagem à África, papa Bento 16 afirma que os preservativos podem agravar o problema da aids. Países europeus criticam a declaração e reiteram importância do uso da camisinha no combate à doença.

Papa Bento 16 condena uso de preservativosFoto: picture-alliance / dpa

O papa Bento 16 foi alvo de críticas e protestos na Europa por afirmar, durante viagem a Camarões, na África, que o problema da aids não será resolvido com a distribuição de preservativos, "os quais podem agravar os problemas".

Na Europa, vários políticos e organizações já se manifestaram contra a declaração de Bento 16. Na Alemanha, a ministra da Ajuda ao Desenvolvimento, Heidemarie Wieczorek-Zeul, e a ministra da Saúde, Ulla Schmidt, se posicionaram contra o Papa no que se refere à luta contra a aids. "Os preservativos salvam vidas na Europa ou em qualquer outro continente", advertiram as ministras nesta quarta-feira (18/03) em Berlim.

Wieczorek-Zeul e Schmidt ainda ressaltaram que, no sul do Saara, 22 milhões de pessoas estão infectadas pelo vírus HIV ou já desenvolveram a doença. Elas disseram que um trabalho moderno de ajuda ao desenvolvimento deve dar aos mais pobres acesso a métodos de planejamento familiar, do qual faz parte a distribuição de preservativos.

Para ministra alemã da saúde, Ulla Schmidt, preservativos salvam vidasFoto: AP

O Unaids, programa de combate à aids das Nações Unidas, reiterou que o uso de preservativos é uma parte importante do combate à doença. Segundo dados do Unaids, 7,4 mil pessoas são infectadas por dia. A região mais afetada pela doença é o sul do Saara, onde estão concentradas 75% das mortes causadas pela aids.

A própria igreja católica na Alemanha se opôs à opinião do papa Bento 16. Em artigo publicado no semanário alemão Die Zeit, o bispo auxiliar de Hamburgo, Hans-Jochen Jaschke, escreveu que "quem tem AIDS e uma vida sexual ativa, quem procura diferentes parceiros, deve se proteger e também proteger os outros". Ele ainda afirmou que a Igreja Católica não está "num sombrio canto antipreservativos", a partir do qual ela pretenda intimidar as pessoas.

Em Berlim, a organização Aids-Hilfe disse que, diante do sofrimento de milhões de pessoas no mundo, a rejeição enfática do uso de preservativos é "cínica e desumana". “Com isso, ele [o Papa] peca – para usar a linguagem da Igreja Católica – não somente perante os cristãos, mas também diante de toda a humanidade", censurou o diretor da organização, Tino Henn. Segundo ele, a declaração de Bento 16 é irresponsável e não ajudará em nada a resolver o problema da aids no continente africano.

Espanha: reação com preservativos

A Espanha, país de maioria católica, protestou contra a declaração do papa com o envio de um milhão de preservativos à África. Em Madrid, o Ministério espanhol da Saúde declarou que o fornecimento de preservativos promove a luta contra a aids. De acordo com o ministério, os preservativos são "um componente imprescindível para a política de prevenção e uma barreira eficiente contra o vírus".

França e Bélgica

Espanha reage com o envio de um milhão de preservativos à ÁfricaFoto: Condomi

As reações na França e na Bélgica também foram desfavoráveis ao papa Bento 16. Em Paris, o porta-voz do Ministério do Exterior afirmou que, embora não lhe caiba julgar a doutrina católica, o governo francês acredita que a posição do pontífice coloca em risco as políticas de saúde e o imperativo de proteger a vida humana. Para a ministra da Saúde da Bélgica, Laurette Onkelix, a opinião de Bento 16 reflete uma ideologia perigosa.

O Vaticano tenta se explicar

A posição do Vaticano em relação aos preservativos é baseada na Carta Encíclica "Humanae Vitae", que proíbe qualquer forma de métodos artificiais de contracepção. O porta-voz do país, Frederico Lombardi, tentou esclarecer a afirmação do pontífice, afirmando que Bento 16 se referia à "educação para a responsabilidade".

Na visão da igreja, não é correto desenvolver uma "ideologia de confiança no preservativo", explicou Lombardi. Mesmo com a situação da aids na África, ele reforçou que não deve haver expectativas quanto a mudanças na posição do Vaticano.

JBN/AS/afp/kna/ap/dw

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