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Declaração de ministra agrava tensão entre Berlim e Washington

(sv)20 de setembro de 2002

Comparação da ministra alemã enfurece a Casa Branca. Porta-voz do governo norte-americano chama a declaração de Däubler-Gmelin de "revoltante e inexplicável", estremecendo ainda mais a diplomacia entre os dois países.

Herta Däubler-Gmelin provoca confusões transatlânticasFoto: AP

As relações entre Alemanha e EUA já andam consideravelmente gélidas. Depois que o chanceler alemão, Gerhard Schröder, negou definitivamente seu apoio às intenções de Washington de atacar o Iraque, a diplomacia teuto-americana passa por momentos ultradelicados. Já tendo um cenário como esse de fundo, a ministra alemã da Justiça, Herta Däubler-Gmelin, mencionou, em conversa com sindicalistas no interior do país, eventuais semelhanças entre "métodos utilizados por Bush e por Hitler".

Enquanto a ministra negou posteriormente o teor da conversa e acusou o diário Schwäbisches Tagblatt de distorcer suas palavras, Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca, já havia revidado: "O povo alemão é muito importante para os americanos, mas essa declaração da ministra alemã da Justiça é revoltante e inexplicável".

Caldo entornado -

O governo norte-americano costuma se ater à tradição de manter posturas discretas, quando criticado por seus próprios aliados. Dessa vez, no entanto, o caldo já estava prestes a entornar, com um Schröder rebelde e claros sinais de antiamericanismo entre a população alemã. "O senhor Schröder tira o corpo fora", aposta até o liberal Washington Post numa de suas páginas principais. Segundo o diário, se o atual chanceler alemão sair vitorioso das eleições, é bem provável que terá ganho o pleito às custas das relações com os EUA.

Representantes oficiais norte-americanos preferem o silêncio, mas o ultraconservador Jesse Helms não suportou as afrontas germânicas, afirmando que o atual chanceler alemão teria prejudicado as relações entre os dois países "de tal forma, que não seria fácil repará-las". A frustração de Helms em relação à atitude de Schröder frente à crise do Iraque espelha a opinião dos conservadores norte-americanos em relação ao povo alemão, que, aparentemente, apóia a posição de seu representante.

Retirada de tropas -

Nos círculos conservadores dos EUA, questiona-se até mesmo uma eventual retirada das tropas norte-americanas estacionadas na Alemanha. O Congresso deverá tratar desta questão, caso Schröder ganhe as eleições e continue rejeitando um "diálogo construtivo" em relação ao Iraque, segundo Helms. A retirada das tropas do país, no entanto, é uma questão que vem sendo levantada pelo Pentágono desde o início dos anos 90.

"Da perspectiva alemã, as tropas norte-americanas não têm mais sentido", comenta o cientista político Peter Rudolf, da Fundação Ciência e Política. Não se pode esquecer, no entanto, que os 70 mil soldados norte-americanos estacionados na Alemanha, junto com suas famílias, representam um fator econômico importante para as regiões onde vivem. Eles "gastam em dólares", lembrou William Safire, colunista do New York Times.

Problema de Bush -

Segundo um comentário do mesmo jornal, intitulado "o problema alemão", a estratégia de Bush tem menos a ver com a Alemanha do que com o Congresso americano. Nos momentos em que a política interna e externa fervilha, nada melhor que uma declaração infeliz de uma ministra tagarela do outro lado do Atlântico para desviar as atenções.

"Me impressiona a velocidade da reação dos EUA. Talvez tivesse sido bom falar com a ministra primeiro", comentou Franz Müntefering, secretário-geral do Partido Social Democrata (SPD), em entrevista ao canal de televisão ZDF. Müntefering, assim como seus correligionários, acentuou a pouca importância do tema, uma vez que a ministra – obviamente – já havia negado o conteúdo das palavras que lhe foram atribuídas.

Manobra eleitoreira -

Dito pelo não dito, pensado ou não pensado, a dois dias das eleições no país, o escorregão retórico da ministra virou um prato cheio para a oposição. O candidato democrata-cristão, Edmund Stoiber, reagiu de imediato ao escândalo, exigindo o afastamento de Däubler-Gmelin ainda antes do pleito e acentuando "os erros" da política do atual governo. Gerhard Schröder, por sua vez, fez as honras da casa defendendo sua ministra, destacando, no entanto, "que alguém que fizesse uma comparação dessas não teria lugar em meu gabinete".

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