Declaração de Trump vaza e mostra imposto de US$ 38 milhões
15 de março de 2017
Emissora MSNBC obtém partes da declaração de 2005 e força Casa Branca a confirmar informações. Naquele ano, Trump pagou 38 milhões de dólares em imposto de renda devido a uma regra que ele agora quer abolir.
Anúncio
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pagou 38 milhões de dólares de imposto sobre uma renda de 150 milhões de dólares em 2005, o que equivale a uma taxa efetiva de 25%, segundo um documento revelado na noite desta quinta-feira (14/03) pelo site DCReport.org e pela emissora de televisão MSNBC.
O documento mostra ainda que o então empresário do setor imobiliário informou um prejuízo de 103 milhões de dólares naquele ano. Trump se aproveitou de uma lei que permite deduzir perdas em declarações futuras. Em 1995, ele informara um prejuízo de mais de 900 milhões de dólares, em grande parte devido aos seus cassinos. Em outubro passado, o New York Times divulgou que Trump informara, na sua declaração de 1995, um prejuízo de 916 milhões de dólares, o que lhe permitiria evitar o pagamento de imposto de renda por até 18 anos.
A Casa Branca reconheceu a veracidade das informações divulgadas pela MSNBC, mas ressaltou que a divulgação delas é ilegal. Durante a campanha eleitoral, Trump havia se recusado a divulgar sua declaração de imposto de renda, quebrando uma antiga tradição entre candidatos democratas e republicanos. Ele justificou a decisão afirmando que estava passando por uma auditoria.
"Você sabe que alguém está desesperado por audiência quando está disposto a quebrar a lei para promover uma matéria sobre duas páginas de uma declaração de impostos de uma década atrás", afirmou a Casa Branca, ao acusar a imprensa de ser desonesta. É "totalmente ilegal roubar e publicar declarações de renda", acrescentou. O jornalista David Cay Johnston, do DCReport.org, disse que recebeu as informações no seu e-mail, de forma anônima.
A maior parte do imposto de renda pago por Trump em 2005 se deve a uma taxa conhecida como AMT, que estipula um valor mínimo para contribuintes de renda elevada e tem por objetivo impedir que eles usem brechas na legislação para pagar pouco imposto. A AMT exige que os contribuintes calculem seu imposto duas vezes, uma pelas regras comuns e a outra seguindo as regras mais rígidas da AMT, e paguem o cálculo que resultar no valor maior.
Críticos dizem que a legislação atinge também muitas pessoas de classe média, que assim acabam pagando mais do que deveriam. Durante a campanha, Trump prometeu acabar com a AMT – agora se sabe que, se não fosse por essa taxa, ele teria pagado apenas cerca de 5 milhões de dólares de imposto de renda em 2005.
Os 25% de imposto de renda que Trump pagou em 2005 são bem mais do que a média de 10% dos contribuintes americanos, mas abaixo da média de 27,4% das pessoas de renda elevada.
KG/efe/ap/rtr
Nove livros para a era Trump
O novo presidente americano não lê muito. Mas, desde que ele chegou ao poder, livros sobre regimes totalitários voltam à lista de best-sellers. Conheça algumas obras que podem ajudar a entender seu estilo de governar.
Foto: Getty Images/S. Platt
"1984"
Em "1984", George Orwell mostra ao leitor o que é viver num Estado totalitário, onde a vigilância é onipresente, e a opinião pública é manipulada pela propaganda. Desde a eleição de Donald Trump, o romance distópico voltou à lista dos mais vendidos. Mas outros clássicos, que descrevem cenários semelhantes, também se encontram cada vez mais sobre as mesas de cabeceira.
Foto: picture-alliance/akg-images
"As origens do totalitarismo"
O ensaio de Hannah Arendt "As origens do totalitarismo" chamou bastante atenção após a sua publicação em 1951. Arendt, que havia fugido da Alemanha nazista, foi uma das primeiras teóricas a analisar a ascensão de regimes totalitários. Há poucas semanas, o livro apareceu por um curto período como esgotado no site de compras Amazon.
Foto: Leo Baeck Institute
"Admirável mundo novo"
O romance distópico de Aldous Huxley "Admirável mundo novo" ainda é leitura obrigatória para escolares e universitários. O livro do escritor britânico, publicado em 1932, descreve a "Gleichschaltung" (uniformização) de uma sociedade por meio da manipulação e condicionamento.
Foto: Chatto & Windus
"O conto da aia"
A distopia feminista de Margaret Atwood também voltou à lista dos best-sellers. O romance publicado em 1985 se passa nos Estados Unidos do futuro, onde as mulheres são reprimidas e privadas de seus direitos por uma teocracia totalitária no poder. Por medo de cenários semelhantes, muitas mulheres se posicionam hoje contra Trump, que continua a provocar discussões com comentários sexistas.
Foto: picture-alliance / Mary Evans Picture Library
"O homem do castelo alto"
Em 1962, Philip K. Dick descreveu em seu romance "O homem do castelo alto" como seria a vida nos Estados Unidos sob a ditadura de vitoriosos nazistas e japoneses após a Segunda Guerra. Em 2015 foi transmitida uma série de TV baseada vagamente no livro do escritor americano. Os cartazes de propaganda do seriado no metrô de Nova York (foto) foram motivo de controvérsia devido à sua simbologia.
Foto: Getty Images/S. Platt
"The United States of Fear"
O livro não ficcional de Tom Engelhardt ainda não publicado no Brasil "The United States of Fear" ("Os Estados Unidos do medo", em tradução livre) foi lançado em 2011. A obra analisa como o fator "medo" favorece investimentos maciços do governo americano nas Forças Armadas, em guerras e na segurança nacional – levando o país, segundo a tese do autor, à beira do abismo.
Foto: Haymarket Books
"Things That Can and Cannot Be Said"
"Things that can and cannot be said" ("As coisas que podem e não podem ser ditas", em tradução livre) é uma coletânea de ensaios e conversas, na qual a autora Arundhati Roy e o ator e roteirista John Cusack refletem sobre o seu encontro com o whistleblower Edward Snowden, em 2014, em Moscou. O livro aborda principalmente a vigilância em massa e o poder estatal.
Foto: picture alliance / Christian Charisius/dpa
"O poder dos sem-poder"
Em seu texto "O poder dos sem-poder" (1978), o escritor e posterior presidente tcheco Vaclav Havel analisa os possíveis métodos de resistência contra regimes totalitários. Ele próprio passou diversos anos na prisão como crítico do governo comunista. Seu ensaio se tornou um manifesto para muitos opositores no bloco soviético.
Foto: DW/M. Pedziwol
"Mente cativa"
Em 1970, o autor polonês e posterior Nobel de Literatura Czeslaw Milosz se tornou cidadão americano. Sua não ficção "Mente cativa" (1953) fala sobre suas vivências como escritor crítico do governo no bloco soviético. Trata-se de um ajuste de contas intelectual com o stalinismo, mas também com a – em sua opinião – enfraquecida sociedade de consumo ocidental.