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Debate

11 de janeiro de 2008

Políticos, juízes, policiais e associações de migrantes opõem-se aos pronunciamentos de Roland Koch, governador de Hessen, sobre delinqüência juvenil entre descendentes de estrangeiros e suposta morosidade da Justiça.

Debate sobre criminalidade entre estrangeiros alimenta campanha eleitoralFoto: picture-alliance/ dpa

As recentes declarações do político democrata-cristão Roland Koch a respeito das taxas de criminalidade entre jovens descendentes de estrangeiros no país continuam causando controvérsias. Os pronunciamentos de Koch foram severamente condenados por várias associações de migrantes no país, bem como por diversos políticos do Partido Social Democrata (SPD), que divide a coalizão de governo com a CDU (facção de Koch).

Peter Struck, líder da bancada social-democrata e ex-ministro da Defesa: 'tiro pela culatra'Foto: AP

O líder da bancada do SPD no Parlamento, Peter Struck, chegou a acusar o governador de Hessen de ter ficado satisfeito com o fato de dois jovens (um grego e um turco) terem atacado um senhor idoso em Munique. O fato foi a gota d'água para que Koch, em plena campanha eleitoral (as eleições estaduais acontecem em Hessen no próximo 27 de janeiro), passasse a reinvidicar publicamente punições mais severas para jovens infratores de origem estrangeira.

"Eu me pergunto se Koch teria propalado tanto o assunto se tivessem sido dois jovens alemães os responsáveis pelos maus-tratos ao aposentado", observa Struck. Para o político social-democrata, as declarações de Koch foram, porém, um tiro que saiu pela culatra, uma vez que suas palavras foram revidadas por diversos setores da sociedade. Segundo Struck, é a segunda vez que o governador de Hessen "tentar ganhar uma eleição, já na corda bamba, através de ataques a estrangeiros e palavras xenófobas".

Juízes: "sucateamento do Judiciário"

No desespero pelos votos: chavões xenófobosFoto: picture-alliance / dpa

Também do Judiciário vieram farpas para o governador. O presidente da Federação dos Juízes do estado de Hessen, Ingolf Tiefmann, revidou em entrevista ao diário Frankfurter Rundschau as declarações de Koch sobre a morosidade da Justiça no estado ao afirmar que "quem sucateia sua Justiça não deve se admirar [com seu mau funcionamento]". Segundo Tiefmann, o governo encabeçado por Koch é o responsável pela eliminação de postos de trabalho no Judiciário e na estrutura policial do estado, onde "há uma carência, hoje, de 130 juízes".

Em declaração ao jornal Leipziger Volkszeitung, o presidente do Sindicato dos Policiais do país, Konrad Freiberg, exigiu da premiê Angela Merkel uma posição clara a respeito do assunto. Segundo ele, se o governador de Hessen defende, por um lado, punições mais severas para jovens infratores, e, por outro, enxerga grandes deficiências no combate à delinqüência juvenil, "então tem alguma coisa essencialmente errada".

Para o presidente da Federação Alemã dos Juízes, Christoph Frank, punições severas não são, de forma alguma, a solução para a criminalidade entre jovens. "Os políticos agem como se fosse possível acionar o piloto automático: penas mais duras, jovens mais apavorados e menor delinqüência. Isso não acontece, como se pôde perceber até agora", analisa Frank ao jornal Neue Presse, de Hannover. A pena máxima para jovens infratores na Alemanha, de dez anos, "já é muito alta", acredita ele.

Incitando o racismo

Causa do número de infratores está na condição social e não na origem étnicaFoto: AP

Entre as organizações que se opuseram publicamente às declarações de Koch está a Comunidade Turca na Alemanha (TGD). Nas palavras de seu presidente, Kenan Kolat, o governador de Hessen "incita ressentimentos racistas na sociedade". A organização conclama os turcos e seus descendentes a não votarem no partido do atual governador, devido a seus pronunciamentos. "Espero que ele receba a conta dos seus eleitores por sua política xenófoba", afirmou Kelat.

Em carta aberta à chanceler federal Angela Merkel, o Fórum dos Migrantes condenou também os pronunciamentos de Koch. O documento lembra que a situação provoca "um déjà-vu: em tempos de campanha eleitoral, escolhe-se um tema qualquer ligado aos imigrantes, a fim de mobilizar eleitores".

Proximidade da extrema direita

As palavras de Koch foram associadas por várias vozes críticas à ideologia do partido de extrema direita NPD, cujo presidente, Udo Voigt, afirmou se beneficiar das declarações do governador. "Quando políticos estabelecidos adotam os argumentos do NPD, mais cidadãos vão depositar sua confiança em nossas políticas e, em conseqüência, votar no nosso partido", disse Voigt em Berlim na última terça-feira (08/01).

A presidente do Conselho Central dos Judeus, Charlotte Knobloch, alertou publicamente para o fato de que salientar a origem étnica de supostos contraventores é procedimento típico das campanhas neonazistas, que podem se apropriar do ocorrido para questionar o direito dos estrangeiros de viver no país. (sv)

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