Baseado na ideia de que os recursos do planeta um dia se esgotarão, conceito conquista cada vez mais adeptos mundo afora, com iniciativas como oficinas de bicicletas e hortas comunitárias.
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Na oficina comunitária de bicicleta Cyclonomia, em Budapeste, todas as ferramentas e equipamentos são de propriedade comum. Os cerca de 300 membros vão para a oficina, situada em um porão, não só para consertar suas bicicletas, mas também para construí-las. "Isso faz parte de um experimento em novas maneiras de relocalizar a economia", diz o cofundador da oficina, Adrien Despoisse.
Ele explica que a "relocalização" tem a ver não só com a redução da energia necessária para o transporte, mas também com o fomento da cooperação de base, em uma escala onde as comunidades possam retomar o controle das economias locais. "A maioria das coisas que consumimos e usamos hoje em dia vem de longe, e não sabemos como elas são produzidas ou quão eticamente elas são produzidas", reclama.
O objetivo maior do projeto é criar um experimento prático e vivo sobre como consumir menos e compartilhar mais. "A oficina de bicicletas é um dos primeiros passos na criação de um centro de decrescimento em Budapeste", diz Despoisse.
O decrescimento é um movimento em ascensão, que está começando a ligar projetos comunitários, como a oficina de bicicleta, ao trabalho de economistas que procuram um futuro mais sustentável.
Vivendo dentro dos limites da Terra
Atualmente, poucos questionam a busca pelo crescimento econômico. Das políticas econômicas nacionais aos programas internacionais para o desenvolvimento sustentável, o crescimento tem sido o objetivo principal. Mas alguns economistas argumentam que, em um planeta com recursos finitos, talvez tenhamos de parar de crescer para sobreviver.
Na oficina comunitária de bicicleta Cyclonomia, em Budapeste, ferramentas e equipamentos são de todosFoto: DW/R. Russell
"Mais crescimento econômico significa cada vez mais material extraído da natureza, e cada vez mais desperdício depois que usamos esses materiais", diz Giorgos Kallis, economista ecológico. "Com o atual nível de crescimento econômico – e com os níveis de crescimento almejados – não há como evitar mudanças dramáticas e catastróficas do clima."
A ideia de que o crescimento econômico não pode continuar indefinidamente não é nova. Em 1972, muito antes de a mudança climática se tornar o assunto de cúpulas globais, um think tank chamado Clube de Roma publicou Os Limites do Crescimento, prevendo no livro que "os limites para o crescimento neste planeta serão alcançados dentro dos próximos cem anos".
O livro provocou um debate de alto nível naquele tempo – mas suas ideias foram marginalizadas, enquanto os governos em todo o mundo apostavam cada vez mais no neoliberalismo e na economia de livre mercado.
Desafiando o consenso
Há décadas, o amplo consenso tem sido de que o crescimento econômico é a única maneira de tirar grandes setores da população global da pobreza. Mas com as crises ambientais se tornando uma ameaça urgente e evidências crescentes de que o fosso entre ricos e pobres está ficando maior, alguns estão começando a desafiar essa ideia.
Ashish Kothari, presidente do escritório do Greenpeace na Índia, afirma que na Índia as análises sugerem que o crescimento não conseguiu atender às necessidades dos pobres. "Na verdade, ele empobreceu recentemente dezenas de milhões de pessoas, porque os recursos delas foram tomados pela economia dominante", ressalta. "E, é claro, ele não foi capaz de sustentar o ambiente biológico e físico de que todos dependem", acrescenta Kothari.
Então quais são as alternativas? Envolvido no ativismo ambientalista de base na Índia desde a década de 1970, Kothari aponta para projetos de democracia direta, que colocaram as comunidades como responsáveis por seu próprio futuro e seus próprios recursos. Estas ainda se baseiam em conceitos indianos antigos como swaraj, que Kothari interpreta como uma combinação de autonomia, liberdade e "responsabilidade com a comunidade".
Em hortas comunitárias em Budapeste, moradores podem cultivar seus próprios legumesFoto: DW/R. Russell
Swaraj, como o ubuntu do sul da África e o buen vivír da América do Sul, é um dos muitos conceitos tradicionais ao redor do mundo que se concentram em valores como felicidade, carinho e convivialidade – qualidades que os defensores do decrescimento acreditam que estão faltando ao sistema econômico global.
Soluções descentralizadas
Esses são valores com os quais Monika Kertész, que dirige uma rede de hortas comunitárias em Budapeste, se identifica. Os moradores assumiram o controle sobre pedaços de terrenos baldios em seus bairros, onde as pessoas não só cultivam seus próprios produtos orgânicos, mas trabalham coletivamente de um modo que mantém a comunidade unida.
"Jardinagem é apenas uma parte", diz Kertész. "Há ainda as amizades, confiança, maior conexão da comunidade. É realmente importante mostrar às pessoas como você pode fazer algo para seu próprio bem-estar."
Jardins comunitários e oficinas de bicicletas podem parecer uma gota no oceano de desafios que nosso planeta enfrenta. Mas os defensores do decrescimento acreditam que o futuro reside em iniciativas descentralizadas, nas quais as pessoas desenvolvem soluções baseadas no conhecimento e nas necessidades locais e, ao fazer isso, ganham um sentido de propósito que não é definido pelos valores da economia de consumo.
"O decrescimento lembra que temos que criar um mundo melhor e um mundo mais igual – mas temos que fazer isso enquanto reduzimos a nossa pegada neste planeta", alerta Kallis. "É um desafio viver com menos, mas melhor."
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Em 2015, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU devem ser substituídos. Uma equipe elaborou um projeto com 17 metas para serem aplicadas em nível mundial.
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1º: Um mundo sem pobreza
Até 2030, ninguém deverá viver em pobreza extrema. Com esta meta, a comunidade internacional busca ir mais longe do que os antigos Objetivos do Milênio, que estipulavam a redução da pobreza extrema pela metade até 2015. Pessoas que vivem com menos de 1,25 dólar por dia vivem em pobreza extrema, segundo a definição da ONU.
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2º: Um mundo sem fome
Atualmente, mais de 800 milhões de pessoas não têm o suficiente para comer, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A intenção é erradicar a desnutrição até 2030. A agricultura sustentável terá função importante para o cumprimento desta meta. Pequenos produtores e o desenvolvimento rural devem ser apoiados.
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3º: Saúde para todos
A cada cinco segundos, uma criança morre no mundo. O total anual é de 6,6 milhões de mortes de crianças menores de 5 anos. Cerca de 300 mil mães perdem a vida durante a gravidez ou o parto. A mortalidade infantil e a materna poderiam ser evitadas por meios simples. Até 2030, todas as pessoas devem ter acesso à assistência médica e a medicamentos e vacinas com preços acessíveis.
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4º: Educação para todos
Menino ou menina, rico ou pobre. Até 2030, toda criança tem a necessidade de receber uma educação que permita a ela uma futura carreira profissional. Homens e mulheres devem ter oportunidades educacionais iguais, independentemente da origem étnica ou social, e independentemente de uma possível deficiência.
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5º: Igualdade de direitos para as mulheres
Mulheres devem poder participar da vida pública e política em igualdade de condições. Violência e casamentos forçados devem fazer parte do passado. Em todo o mundo, mulheres devem ter acesso à contracepção e ao planejamento familiar. Este ponto gera críticas de setores religiosos.
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6º: Água é um direito humano
A água é um direito humano. No entanto, 770 milhões de pessoas não bebem água potável, e 1 bilhão não têm acesso a saneamento básico, segundo a ONU. Até 2030, todas as pessoas devem ter acesso à água potável e ao saneamento básico. Os recursos hídricos devem ser utilizados de forma sustentável, e os ecossistemas, protegidos.
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7º: Energia para todos
Até 2030, todas as pessoas devem ter acesso à eletricidade, de preferência oriunda de fontes renováveis. A eficiência energética global precisa ser duplicada, e a infraestrutura – especialmente nos países mais pobres, deve ser expandida. Hoje, cerca de 1,3 bilhão de pessoas vivem sem eletricidade.
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8º: Trabalho justo para todos
Oferecer condições de trabalho justas para todos, assim como oportunidades de emprego para jovens e uma economia sustentável. A meta número 8 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável vale tanto para países industrializados como para os países em desenvolvimento e inclui ainda o fim do trabalho infantil e o cumprimento das normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
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9º: Infraestrutura sustentável
Uma infraestrutura melhor deve promover o desenvolvimento econômico, com benefícios para todos. A industrialização deve ser sustentável, tanto em termos sociais como ambientais, e requer a criação de mais e de melhores postos de trabalho, além de incentivar inovações que possam contribuir para a sustentabilidade e a justiça social.
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10º: Distribuição justa da renda
De acordo com a ONU, mais da metade da riqueza gerada fica com apenas 1% da população mundial. A diferença entre ricos e pobres é cada vez maior. Por isso, a ajuda ao desenvolvimento deve se voltar principalmente para a metade mais pobre da população e os países mais pobres.
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11º: Cidades habitáveis
Nos grandes centros urbanos devem existir espaços de convivência que respeitem o meio ambiente, com moradias acessíveis a todos. As cidades devem ser mais sustentáveis e verdes. Principalmente os países em desenvolvimento devem receber assistência, a fim de tornar as cidades resistentes às mudanças climáticas.
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12º: Consumo e produção sustentáveis
Reciclagem, reutilização de recursos naturais e redução de resíduos – especialmente na produção de alimentos e no consumo. Os recursos naturais devem ser usados de forma sustentável e respeitando questões sociais. Subsídios aos combustíveis fósseis devem ser eliminados.
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13º: Controlar as mudanças climáticas
A necessidade de um acordo global para atenuar as mudanças climáticas e se adaptar aos efeitos delas é hoje consenso na ONU. Os países mais ricos precisam ajudar os mais pobres com transferência de tecnologia e também com recursos financeiros. Ao mesmo tempo, devem reduzir as suas próprias emissões de gases do efeito estufa.
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14º: Proteção dos oceanos
Os oceanos já estão próximos de entrar em colapso, e é necessária uma ação rápida. Medidas para evitar a sobrepesca e a destruição de regiões costeiras e ecossistemas marinhos precisam entrar em vigor até 2020. O combate à poluição do mar, causada por lixo e excesso de fertilizantes, deverá ser implementada apenas cinco anos mais tarde, a partir de 2025.
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15º: Acabar com a destruição ambiental
Os países-membros terão cinco anos para implementar medidas de proteção de bacias hidrográficas, florestas e a biodiversidade. Até 2020, a terra, as florestas e as fontes de água devem ser melhor protegidas, e o uso dos recursos naturais deve ser profundamente alterado.
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16º: Respeito a direitos e leis
Todas as pessoas devem ser iguais perante a lei. Através de instituições nacionais e cooperação internacional, a violência, o terrorismo, a corrupção e o crime organizado devem ser combatidos de forma eficaz. Até 2030, todas as pessoas devem ter o direito a um documento de identidade e a uma certidão de nascimento.
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17º: Um futuro mais solidário
Como já consta nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, os países ricos devem finalmente destinar 0,7% do Produto Nacional Bruto à ajuda internacional para o desenvolvimento. Atualmente, a Alemanha colabora com 0,39%. Apenas cinco países atingiram a meta de 0,7%: Noruega, Dinamarca, Luxemburgo, Suécia e Reino Unido.