Após apelação ser rejeitada, presidente dos EUA intensifica ataques a juiz que bloqueou controversa ordem executiva. Em meio a críticas de democratas e republicanos, governo deve agora justificar medida na Justiça.
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O decreto migratório do presidente dos EUA, Donald Trump, inicia nesta segunda-feira (06/02) uma batalha legal, que pode se estender por meses, para determinar o futuro da mais controversa política de suas primeiras duas semanas no poder.
O governo tem até a noite desta segunda-feira para apresentar a uma corte de apelação aspectos legais que justifiquem a ordem executiva assinada por Trump em 27 de janeiro. A medida prevê o veto à entrada nos EUA de cidadãos de sete países de maioria muçulmana por 90 dias e de refugiados em geral por 120 dias.
A decisão judicial obrigou o governo a revalidar milhares de vistos, e passageiros dos países afetados pelo decreto – Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen –, com vistos válidos, começaram a desembarcar no país. Em resposta, Trump intensificou os ataques a Robart e ao sistema Judiciário.
"Simplesmente não posso acreditar que um juiz tenha posto nosso país em tanto perigo. Se algo acontecer, a culpa será sua e do sistema judiciário. As pessoas estão entrando [no país]. Ruim!", escreveu Trump em sua conta oficial no Twitter.
O presidente prometeu um controle mais rigoroso em aeroportos. "Instruí o Departamento de Segurança Nacional a examinar as pessoas que chegam a nosso país muito cuidadosamente. Os tribunais estão dificultando muito esse trabalho", escreveu.
Judiciário como ferramenta de controle
No sábado, Trump classificou Robart, nomeado pelo ex-presidente George W. Bush, como um "assim chamado 'juiz'". Nos Estados Unidos, ataques de um presidente em exercício ao Judiciário são incomuns, e as palavras de Trump provocaram críticas do partido rival.
Diante dos ataques de Trump ao Judiciário, democratas questionaram a independência de Neil Gorsuch, nomeado pelo presidente na semana passada para ocupar um dos nove assentos da Suprema Corte. O cargo ainda precisa ser confirmado pelo Senado.
O vice-presidente Mike Pence saiu em defesa de Trump, apesar de membros do partido Republicano pedirem que o magnata evitasse tais declarações. A Constituição americana define o Judiciário como uma ferramenta de controle do presidente e do Congresso.
"Não temos 'assim chamados' juízes, não temos assim chamados presidentes, temos pessoas dos três braços do governo [Executivo, Legislativo e Judiciário] que fazem um juramento para defender a Constituição", disse o senador republicano Ben Sasse, crítico de Trump.
O presidente argumenta que seu controverso decreto migratório, que pode agora enfrentar meses de batalhas legais, tem como objetivo proteger os EUA de terroristas. Críticos do magnata classificam a ordem executiva de discriminatória, inútil e legalmente duvidosa.
LPF/efe/rtr/afp/ap
Os decretos de Donald Trump
Donald Trump estremeceu o cenário político em seus primeiros dias como presidente dos EUA com uma série de decretos e memorandos impactantes. Entenda a diferença e o significado de cada um deles.
Foto: picture-alliance/dpa/Sachs
Forma rápida de cumprir promessas eleitorais
Com menos de duas semanas na presidência, Donald Trump emitiu 17 medidas executivas. Embora este número em si não seja significativo – no mesmo período Barack Obama assinou praticamente o mesmo número de ordens – o conteúdo dos decretos de Trump é. Parece que o novo presidente dos EUA quer implementar muitas de suas promessas de campanha – incluindo as controversas - o mais rápido possível.
Foto: Reuters/K. Lamarque
O que são ordens executivas e memorandos?
As ações executivas (EA) permitem que o presidente dos EUA dê ordens que não precisam de aprovação do Congresso a agências governamentais, contornando o processo legislativo e acelerando sua implementação. Ordens executivas são uma forma mais abrangente de EA que muitas vezes lidam com diretrizes organizacionais maiores, enquanto memorandos presidenciais ordenam agências específicas a fazer algo.
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Enfraquecer Obamacare (ordem executiva)
A primeira ordem executiva assinada por Trump foi uma para retardar partes do Affordable Care Act (Obamacare) para "minimizar encargos regulatórios". Enquanto Trump sozinho não pode revogar a legislação instituída por Obama, ele pode minar a implementação do programa de saúde enquanto a maioria republicana no Congresso se prepara para revogá-lo.
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Retirar subsídio para aborto (memorando)
Trump reinstituiu uma política que impede o financiamento federal para ONGs que fornecem aconselhamento sobre aborto e defendem o direito ao aborto. Essa diretriz tem uma longa história: foi inicialmente instaurada pelo republicano Ronald Reagan, rescindida pelo democrata Bill Clinton, reinstituída pelo republicano George W. Bush, antes de ser reativada pelo democrata Barack Obama.
Foto: REUTERS/A. P. Bernstein
Deportação de imigrantes (ordem executiva)
Trump ordenou que os agentes de imigração expandissem o escopo das deportações. Ele visa retirar concessões federais das chamadas cidades-santuário (onde imigrantes sem documentos não são processados) e que imigrantes suspeitos de um crime sejam detidos, mesmo sem acusação. Trump pretende contratar 10 mil novos agentes e publicar um relatório sobre crimes cometidos por imigrantes sem documentação.
Foto: picture alliance/AP Images/G. Bull
Construir o muro (ordem executiva)
Numa ordem executiva assinada em 25 de janeiro, Trump solicitou "a construção imediata de um muro físico", a fim de proteger a fronteira entre México e EUA. Ele também se referiu aos imigrantes sem documentos como "deportáveis", dizendo que o Poder Executivo deve "acabar com o abuso das disposições de liberdade condicional e refúgio usadas para impedir a remoção legal de estrangeiros deportáveis."
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Veto a muçulmanos (ordem executiva)
Trump assinou este controverso decreto em 27 de janeiro. Ele proibiu pessoas de sete países de maioria muçulmana de entrar nos EUA por três meses, suspendeu indefinidamente o programa de refugiados sírios e suspendeu a admissão de refugiados por 120 dias. Protestos contra a ordem estouraram em todo o país e até mesmo os senadores republicanos John McCain e Lindsey Graham criticaram a medida.
Foto: DW/M. Shwayder
EUA deixam TPP (memorando)
Não foi nenhuma surpresa Donald Trump ter abandonado a Parceria Transpacífico (TPP). Durante a campanha, ele criticou frequentemente o TPP e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), afirmando que outros países se beneficiaram desses acordos comerciais, em detrimento dos EUA. O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que Trump prefere lidar individualmente com os países.
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Sinal verde para oleodutos (memorando)
Três memorandos diferentes – um sobre a construção do oleoduto Dakota Access, outro sobre a continuação da construção do oleoduto Keystone e uma terceira ordem sobre o uso de materiais americanos nas obras – foram emitidos no quarto dia de Trump no governo. Obama tinha negado licenças para ambos os oleodutos após protestos em massa de ambientalistas, que temem o impacto de eventuais vazamentos.
Foto: REUTERS/S. Keith
Expandir as Forças Armadas (memorando)
Trump cumpriu sua promessa eleitoral de investir num Exército maior ao assinar na sua primeira semana no cargo um memorando que pede mais tropas, navios de guerra e um arsenal nuclear modernizado. Quatro dias antes ele ordenou congelar a contratação de civis em agências federais por até 90 dias, para que seu governo possa desenvolver um plano de longo prazo para encolher a força de trabalho.
Foto: Reuters/K. Pempel
Steve Bannon no NSC (memorando)
Trump ordenou uma revisão do Conselho de Segurança Nacional (NSC) para elevar o papel de Stephen Bannon. Trump retirou vários membros do painel responsável por tomar decisões de política externa, enquanto seu estrategista-chefe – conhecido por opiniões de extrema direita – servirá no comitê geralmente preenchido por generais. Isso rompe com a norma de longa data de não nomear políticos para o NSC.
Foto: pciture-alliance/AP Photo/E. Vucci
Desregulamentações (executiva e memorando)
Trump quer que agências federais eliminem ao menos duas normas para cada nova regulamentação e ordenou o congelamento de regulamentações federais, até que um chefe de departamento designado por ele possa revisá-las. Ele também pediu pela rápida aprovação de "projetos de infraestrutura de alta prioridade". Na campanha, Trump disse que o "excesso de regulamentações" feriu o comércio americano.
Foto: Getty Images/AFP/M. Ralston
Precedente presidencial
Obama emitiu um total de 277 ordens executivas – uma média de quase três por mês e um pouco menos do que seu antecessor, George W. Bush (291). Obama assinou 644 memorando presidenciais para contornar imposições no Congresso – um precedente do qual Trump aparenta estar tirando proveito, embora a maioria em ambas as Casas do Congresso seja republicana.