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Demissão de Comey acirra tensão por suposta ingerência russa

11 de maio de 2017

Após destituição de diretor do FBI, democratas exigem investigação independente sobre influência de Moscou nas eleições americanas. Comitê do Senado exige documentos de ex-assessor de Trump.

James Comey
Republicanos afirmam que os próprios democratas criticavam atuação de ComeyFoto: Reuters/J. Roberts

A demissão do o ex-diretor do FBI James Comey no início desta semana aumentou a desconfiança nos Estados Unidos quanto a um possível acobertamento do escândalo envolvendo as suspeitas de intervenção da Rússia nas eleições presidenciais americanas de 2016, além de especulações sobre ligações de Moscou com a campanha do então candidato republicano, Donald Trump.

Nesta quarta-feira (10/05), o Comitê de Inteligência do Senado intimou Michael Flynn, ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump, a entregar documentos relacionados à investigação sobre a suposta interferência Rússia nas eleições, cujo conteúdo ele teria omitido das autoridades em Washington. Flynn foi afastado em janeiro após controvérsias sobre telefonemas seus com autoridades russas antes da posse de Trump.

Em conversas anteriores com o Comitê, Flynn aceitou ser interrogado como parte das investigações, contanto que lhe fosse garantida imunidade. Em março, seu advogado disse que ele teria "histórias a contar", mas que nenhuma pessoa razoável concordaria em ser questionada sem "garantias contra acusações injustas".

Também nesta quarta-feira, a imprensa americana noticiou nesta quarta-feira que dias antes de ser demitido do cargo, Comey, de 56 anos e com três décadas de experiência, havia pedido recursos adicionais para investigar a suposta influência russa no processo eleitoral. 

Comitê de Inteligência do Senado intimou Michael Flynn a entregar documentos Foto: Reuters/C. Barria

No Departamento de Justiça, que nega tais alegações, a investigação sobre as eleições de 2016 caiu nas mãos do vice-procurador-geral, Rod Rosenstein, após o titular da pasta, Jeff Sessions, se recusar a conduzir o inquérito.

Em março, Sessions foi acusado de mentir sob juramento após o jornal The Washington Post revelar que o ex-senador teve contatos com o embaixador russo em Washington duas vezes antes das eleições, quando atuava como assessor da campanha de Trump. Ele teria escondido essa informação do Senado durante as audiências de confirmação de seu nome ao cargo de procurador-geral.        

Na terça-feira, Rosenstein recomendou que Trump demitisse Comey sob a alegação de que ele teria manchado a imagem do FBI durante as investigações sobre e-mails da adversária de Trump nas eleições, a candidata democrata Hillary Clinton, de quando ela era secretária de Estado.                                                                       

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, reiterou essa argumentação nesta quarta-feira, ao afirmar que "incontáveis" funcionários do FBI teriam perdido a confiança em Comey. Ela disse que o governo não vê necessidade de entregar o caso a um promotor especial, como ocorreu durante o escândalo de Watergate, que levou à renúncia do ex-presidente americano Richard Nixon.

Investigação independente

Em carta de despedida aos seus colegas da agência, divulgada pela CNN, Comey disse que "há muito acreditava que um presidente poderia demitir um diretor do FBI por qualquer motivo, ou sem razão nenhuma". "Não gastarei meu tempo especulando sobre os motivos da decisão ou a forma como ela foi executada", acrescentou.

Trump demite diretor do FBI

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O Partido Democrata intensificou as acusações de que a demissão de Comey teria como objetivo sabotar a investigação do FBI sobre as eleições e exigiu um inquérito independente sobre a suposta influência russa durante a campanha eleitoral.

"Se alguma vez houve circunstâncias que requereriam um promotor especial, isso ocorre agora", afirmou o senador democrata Chuck Schumer, insistindo que o vice-procurador-geral tire as investigações do FBI e a coloque em mãos imparciais.

A líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, disse que após "os fogos de artifício no Departamento de Justiça" é necessário remover a investigação das mãos de pessoas nomeadas por Trump.

"Vão me agradecer", diz Trump

O republicano Mitch McConney, líder da maioria republicana no Senado, diz que seus adversários se queixam da remoção de um diretor do FBI "o qual eles próprios criticaram repetidamente e com veemência", reiterando que não há a necessidade de designar um promotor especial para o caso.

Trump recorreu novamente ao Twitter para defender sua decisão, afirmando que Comey será substituído por alguém que "fará um trabalho muito melhor, trazendo de volta o espírito e o prestígio do FBI".

"Comey perdeu a confiança de quase todos em Washington, sejam republicanos ou democratas. Quando as coisas se acalmarem, vão me agradecer", tuitou o presidente.

Encontro com Lavrov

Nesta quarta-feira, Trump recebeu na Casa Branca o ministro russo do Exterior, Sergei Lavrov, numa reunião cujo timing foi considerado um tanto inusitado. "Ele foi demitido? Vocês estão brincando?", questionou o russo ao ser questionado por repórteres sobre a demissão de Comey.

No encontro, com o objetivo de aliviar as tensões diplomáticas entre Washington e Moscou, o presidente discutiu com Lavrov o papel de ambos os países na crise da Síria.

"Tivemos uma reunião, muito, muito boa", disse Trump. "Vamos acabar com as matanças e com as mortes."

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, avaliou como positiva a reunião em Washington, mas afirmou que seu governo vê "com otimismo cauteloso" a melhora das relações bilaterais.  

RC/afp/rtr/dpa/ap

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