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Democratas intimam Casa Branca a entregar documentos

5 de outubro de 2019

Deputados que conduzem processo de impeachment dizem ter ficado "sem escolha" a não ser a intimação. Carta afirma que governo se recusou a fornecer documentos voluntariamente e acusa presidente de obstruir o inquérito.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
Câmara apura se Trump pressionou o presidente da Ucrânia a investigar seu rival democrata Joe BidenFoto: picture-alliance/Captital Pictures/MPI/RS

Deputados democratas na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos fizeram um requerimento formal exigindo que a Casa Branca entregue documentos que possam lançar luz sobre os esforços do presidente Donald Trump para pressionar a Ucrânia.

A intimação, emitida na noite de sexta-feira (04/10), é a mais recente escalada do inquérito de impeachment que tramita na Câmara contra o chefe de Estado republicano, impulsionado por um telefonema entre Trump e o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em 25 de julho.

A medida vem após vários apelos para que a Casa Branca entregasse esses documentos voluntariamente. A carta – endereçada ao chefe de gabinete interino, Mick Mulvaney – acusa Trump de "obstrução" e diz que os deputados lamentam em ter que intimar o governo, mas "não tiveram outra escolha".

"A Casa Branca se recusou a se envolver – ou mesmo responder – a vários requerimentos de documentos de nossos comitês de forma voluntária. Após quase um mês de bloqueio, parece claro que o presidente escolheu o caminho da provocação, da obstrução e do encobrimento", diz o documento dos parlamentares.

Os democratas deram a Trump o prazo de 18 de outubro para que sejam entregues os documentos solicitados. O não cumprimento "constituirá evidência de obstrução ao inquérito de impeachment da Câmara", afirma a carta. Intimações também foram enviadas ao advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, e ao secretário de Estado americano, Mike Pompeo.

A intimação à Casa Branca foi assinada pelos deputados Adam Schiff, Elijah Cummings e Eliot Engel, presidentes, respectivamente, dos comitês de inteligência, supervisão e assuntos externos da Câmara dos Representantes, que investigam o escândalo.

Eles também exigem documentos relacionados às negociações entre o vice-presidente americano, Mike Pence, e autoridades ucranianas. Uma notificação enviada anteriormente pelo trio citava relatos de que um assessor de Pence teria ouvido a conversa telefônica de 25 de julho entre Trump e Zelenski.

Os deputados ainda querem saber mais sobre uma reunião que Pence teve em 1º de setembro com Zelenski, a fim de esclarecer se o vice-presidente ajudou Trump na pressão contra a Ucrânia.

O chefe de Estado americano está sendo investigado por supostamente ter usado seu gabinete e a ajuda militar americana para pressionar o líder ucraniano a investigar o ex-vice-presidente Joe Biden, pré-candidato democrata à Casa Branca nas eleições presidenciais de 2020.

Segundo a transcrição do telefonema divulgada pela Casa Branca no final de setembro, Trump pede a Zelenski que apure uma suspeita de que Biden, quando era vice de Barack Obama, teria agido para atrapalhar uma potencial investigação contra seu filho Hunter Biden na Ucrânia. O filho do democrata é membro do conselho de uma empresa de gás ucraniana.

"Biden se gabou de ter parado a promotoria, então se você puder dar uma olhada nisso... para mim, parece algo horrível", afirmou o presidente americano, de acordo com a transcrição. Zelenski assentiu com o pedido para investigar Biden, possível adversário de Trump nas eleições do próximo ano.

Embora o americano não tenha feito nenhuma promessa específica a Zelenski em troca da colaboração, ele disse em diversos momentos que os Estados Unidos "fazem muito pela Ucrânia". A imprensa americana e a oposição democrata especulam que o republicano montou um cenário de pressão econômica para conseguir a colaboração do ucraniano.

Uma semana antes do telefonema, Trump havia suspendido uma ajuda militar de cerca de 250 milhões de dólares para a Ucrânia, que trava uma guerra em seu território contra forças apoiadas pela Rússia. Em 11 de setembro, mais de um mês após a conversa, a verba foi descongelada.

O presidente americano nega qualquer irregularidade ou que tenha feito algum tipo de pressão econômica sobre Zelenski. No início da semana, ele qualificou como tentativa de "golpe" o inquérito de impeachment contra ele na Câmara.

Trump ainda insiste que Hunter Biden seja investigado. Na última quinta-feira, ele sugeriu que a "China deveria iniciar uma investigação sobre os Biden". "O que aconteceu na China é tão ruim quanto o que aconteceu na Ucrânia", disse o presidente a jornalistas na Casa Branca, sem especificar quais seriam as suspeitas envolvendo Biden e seu filho no país asiático.

A intimação vem num momento em que, segundo Trump, a Casa Branca também prepara uma carta – esta para a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, que anunciou a abertura do processo de impeachment. A intenção é impedir que os democratas conduzam um inquérito contra o chefe de Estado sem uma votação oficial sobre o tema no Congresso.

A carta deve afirmar que o governo não cooperará com a investigação na Câmara sem esse voto. "Enviaremos uma carta. Como todos sabem, fomos tratados de maneira injusta, muito diferente de qualquer outra pessoa", afirmou o presidente.

Trump reconheceu que os democratas, que formam maioria na Câmara, "têm os votos" para iniciar uma investigação formal de impeachment naquela Casa, mas disse estar confiante de que eles não são suficientes para ganhar no Senado, controlado pelos republicanos.

EK/afp/dpa/efe/ots

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