Demolido polêmico memorial em Berlim
5 de julho de 2005Na manhã desta terça-feira (05/07), um oficial de Justiça acompanhou a equipe de trabalhadores encarregada da demolição do Memorial do Muro. Com caminhões, guindaste e até uma escavadeira, a equipe iniciou a retirada das 1065 cruzes de madeira e também a derrubada de um trecho de 120 metros do Muro de Berlim, que havia sido reconstruído em um terreno bem perto do famoso Checkpoint Charlie, ex-posto fronteriço entre Leste e Oeste, por onde estrangeiros e diplomatas tinham que passar para poder entrar em Berlim Oriental.
A ação gerou protestos no local. Alguns manifestantes chegaram a se acorrentar nas cruzes. A polícia foi obrigada a intervir para garantir a continuidade do trabalho. Não houve nenhum confronto grave e muitos acabaram desistindo da ação.
Iniciativa privada
O fim do memorial encerra um período de controvérsia. A idéia de fazer uma exposição em homenagem aos que morreram tentando fugir do regime comunista foi de Alexandra Hildebrandt, coordenadora do Museu do Muro, uma instituição cultural privada.
Ela conseguiu arrendar o terreno de 8 mil metros quadrados, pertencente a um banco, localizado em frente ao Checkpoint Charlie. Lá ergueu sem qualquer correspondência histórica o que seria uma réplica do Muro de Berlim, que servia de cenário para as mais de mil cruzes espalhadas no local.
O local era freqüentado por turistas e curiosos. Para a administração da cidade, formada por políticos pertencentes à coligação que reúne social-democratas e membros do Partido do socialismo Democrático (PDS), sucessor do Partido Comunista da antiga Alemanha Oriental, a mostra era ofensiva e supérflua, além de banalizar a história alemã. O memorial particular nunca foi considerado parte da concepção de Berlim para relembrar o Muro.
Quero meu terreno
Indiferente às críticas, Hildebrandt continuava administrando o Memorial. A reviravolta aconteceu com a expiração do contrato de comodato. O banco não queria renovar o arrendamento e pediu o terreno de volta. Hildebrandt se recusou a sair. O caso foi parar na Justiça, que deu ganho de causa ao proprietário e ordenou a limpeza do local.
A alemã ainda quis salvar seu ganha-pão tentando comprar o terreno localizado em uma área nobre e estratégica da cidade. O banco colocou o imóvel à venda por 36 milhões de euros. Hildebrandt promoveu uma ação para angarir fundos e chegou até a escrever uma carta para o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, pedindo seu apoio moral... e financeiro.
Muro de verdade
Seu esforço foi em vão. De nada adiantou reclamar e acusar as autoridades locais de ingraditão. Lei é lei e o terreno, por direito, foi entregue ao banco. Quem quiser ver restos do Muro, estes, sim, verdadeiros, deve ir à rua Bernauer Strasse, onde as vítimas também são lembradas.
Já o Checkpoint, de acordo com a administração berlinense, será um espaço para relembrar a Guerra Fria. No futuro, a idéia é construir um museu sobre o confronto entre as potências mundiais, do qual Berlim foi palco principal.