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Denúncias contra João de Deus já passam de 500

18 de dezembro de 2018

Força-tarefa recebe centenas de relatos de mulheres que se dizem vítimas de abuso cometido pelo médium. Preso em Goiás, ele quer transferência para prisão domiciliar. Polícia faz buscas em casa espiritual em Abadiânia.

O médium João de Deus
João de Deus se entregou à polícia e está preso no Complexo Prisional de Aparecida de GoiâniaFoto: Agência Brasil/M. Camargo

A força-tarefa criada pelo Ministério Público de Goiás para investigar as acusações de abuso sexual contra João Teixeira de Faria, popularmente conhecido como João de Deus, já recebeu 506 relatos de mulheres que afirmam ter sido vítimas de crimes sexuais cometidos pelo médium.

Nesta terça-feira (18/12), policiais realizaram buscas na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, no interior de Goiás, local onde João de Deus fazia atendimentos espirituais. O objetivo era apreender documentos e aparelhos, como celulares e computadores, que pudessem ajudar nas investigações.

O médium de 76 anos está preso, mas a Justiça de Goiás pode decidir nos próximos dias um pedido de habeas corpus da defesa para transformar a decisão judicial de prisão preventiva em prisão domiciliar. O argumento dos advogados se baseia na idade avançada e em seu estado de saúde.

Pela segunda noite consecutiva, João de Deus dormiu numa cela de 16 metros quadrados com pia e vaso sanitário no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Ele se entregou às autoridades numa estrada de terra na região de Abadiânia no domingo.

Em depoimento à polícia, João de Deus negou qualquer tipo de culpa nos abusos sexuais, e sua defesa tentou desqualificar as denunciantes. Segundo a delegada Karla Fernandes, ele respondeu a todas as perguntas. O médium afirmou que a regra era receber os clientes coletivamente, e não em recintos individuais, como consta nos relatos das supostas vítimas.

O depoimento durou mais de duas horas e contou com alguns imprevistos. O escrivão previsto para a oitiva foi atropelado a caminho da delegacia e quebrou um braço; o teclado de um dos computadores da polícia passou a trocar as teclas; e um frigobar foi queimado após a delegada ter tentado ligar o ar-condicionado numa extensão. 

O delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, confirmou na segunda-feira que o pedido de prisão preventiva contra João de Deus se baseou em 15 denúncias que já foram formalizadas. Nelas, as mulheres prestaram depoimento separadamente e contaram relatos semelhantes sobre o suposto modus operandi do médium.

De acordo com o Ministério Público, há possíveis vítimas também no Ceará, Mato Grosso e Rio Grande do Norte. Anteriormente, as investigações se concentravam em Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Pará, Santa Catarina, Piauí, Maranhão e no Distrito Federal.

Houve também relatos vindos de seis países: Alemanha, Austrália, Bélgica, Bolívia, Estados Unidos e Suíça. As autoridades investigam também a movimentação de cerca de 35 milhões de reais nas contas de João de Deus.

A força-tarefa foi instituída pelo procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres Neto, e é formada por seis promotores e duas psicólogas da equipe do Ministério Público.

Na semana passada, o procurador-geral de Justiça também encaminhou um ofício aos procuradores-gerais de Justiça dos Ministérios Públicos Estaduais e do Distrito Federal solicitando que sejam designadas unidades de atendimento para coleta de depoimentos de possíveis vítimas do médium.

PV/abr/ots

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