Depoimentos ligam coronel a obra de filha de Temer
9 de junho de 2018Depoimentos divulgados pela imprensa brasileira nesta sexta-feira (08/06) indicam que dinheiro vivo foi usado no pagamento da reforma da casa de Maristela Temer, filha de Michel Temer, e reforçam uma possível ligação do coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, amigo de Temer, com a obra.
Um depoimento de um fornecedor da reforma à Polícia Federal (PF) e um extrato bancário ligam um depósito em dinheiro, no valor de 56.500 reais, a um contrato assinado pela filha de Temer, aponta a Folha de S. Paulo, que teve acesso ao material.
Segundo a Folha, o mesmo depoimento – de Antonio Carlos Pinto Júnior, dono da empresa Qualifac – indica que o pagamento em espécie foi efetuado a pedido da arquiteta Maria Rita Fratezi, mulher do coronel Lima, suspeito de intermediar propinas para o presidente.
A esposa do ex-militar teria insistido para pagar em dinheiro vivo na loja. Pinto Júnior não aceitou a proposta, e foi feito, então, um depósito na conta corrente da Qualifac, que teria vendido esquadrilhas de PVC para a obra.
A reforma é alvo de uma investigação da PF por suspeita de que tenha sido financiada com dinheiro de propinas da JBS. Temer é suspeito de lavar o dinheiro com reformas de imóveis da família e em transações imobiliárias para tentar ocultar bens. O presidente nega as acusações.
Outros fornecedores da obra na casa de Maristela também declararam terem recebido em dinheiro vivo de Maria Rita, mas o extrato obtido pela Folha é o primeiro documento vinculando a prática de pagamento ao caso da filha do presidente.
Em outro depoimento citado pela imprensa nesta sexta-feira, o fornecedor Luiz Eduardo Visani declarou à PF que recebeu um total 950 mil reais em espécie na sede da Argeplan, empresa do coronel Lima.
Segundo Visani, engenheiro dono da construtora Visani Engenharia, os recibos e contratos foram feitos em nome da filha do presidente, a pedido da esposa do coronel Lima. Foi a primeira vez que um fornecedor da obra confirmou a investigadores detalhes sobre o envolvimento da Argeplan na reforma, destacou o portal G1.
Visani afirmou que Maria Rita fez recomendações sobre cuidados durante a obra, incluindo a de que a casa fosse mantida limpa. O fornecedor afirmou nunca ter conversado com Maristela sobre o orçamento ou sobre a execução do contrato, citou o Estado de S. Paulo.
De acordo com informações obtidas pela PF, a obra na casa de Maristela custou 1,2 milhão de reais. Visani, por sua vez, estimou um valor de 1,5 milhão de reais. O depoimento e contratos e recibos apresentado pelo fornecedor contradizem a versão da filha de Temer, segundo a qual a reforma teria custado cerca de 700 mil reais.
O inquérito e o argumento de Maristela
As suspeitas relativas à reforma fazem parte do inquérito que investiga se houve fraude num decreto sobre o setor portuário. As autoridades investigam se o documento aprovado por Temer, que alterou as regras do setor dos portos, beneficiou a empresa Rodrimar em troca de propinas pagas ao partido Movimento Democrático Brasileiro (MDB), liderado pelo presidente.
A PF investiga se o coronel Lima foi intermediário das propinas. Investigadores acreditam que o dinheiro provenha da JBS e de uma empresa contratada pela Engevix.
O inquérito foi aberto no ano passado com base nas declarações às autoridades de Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS, entre outros executivos da empresa que assinaram acordos de delação premiada com a Justiça brasileira.
No início de março, o STF autorizou o levantamento do sigilo bancário de Temer. Foi a primeira vez que a Justiça brasileira determinou o levantamento do sigilo bancário de um presidente da República em exercício.
Ao depor à PF no início de maio, Maristela disse que Temer indicou o coronel para auxiliá-la na reforma da casa – no bairro Alto de Pinheiros, em São Paulo –, mas que a fez por conta própria. Ela disse ter recebido apoio financeiro da mãe e ter feito um empréstimo bancário.
Segundo a filha do presidente, a mulher de Lima a ajudou sem receber nada em troca. Maristela afirmou que a Argeplan, de Lima, não participou da reforma. O coronel já foi alvo de duas operações da Polícia Federal, tendo ficado preso por alguns dias após a última delas, em março.
LPF/ots
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