Deputado alemão renuncia após lucrar com venda de máscaras
8 de março de 2021
Membro da base do governo Merkel, Nikolas Löbel deixou o cargo após admitir que recebeu 250 mil euros para intermediar negócios envolvendo máscaras importadas da China e firmas alemãs.
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Um deputado federal alemão renunciou nesta segunda-feira (08/03) após ser acusado de receber comissões em contratos envolvendo a venda máscaras de proteção contra a covid-19. Nikolas Löbel, que representava o estado de Baden-Württemberg no Parlamento alemão (Bundestag), era membro da base do governo Angela Merkel e filiado à União Democrata-Cristã (CDU), o mesmo partido da chanceler federal.
Löbel anunciou que renunciaria ao cargo imediatamente "para evitar mais danos ao partido”, às vésperas de eleições em seu estado natal. Ele admitiu que sua empresa recebeu comissões de cerca de 250 mil euros (1,8 milhão de reais) para intermediar contratos de vendas de máscaras importadas da China para duas empresas alemãs do setor de saúde. "Eu assumo a responsabilidade por minhas ações", disse o político de 34 anos.
Em abril de 2020, quando máscaras em escassas na Alemanha. Löbel atuou como intermediador de uma firma alemã dirigida por executivos de origem chinesa, baseada no estado Baden-Württemberg, que engloba o distrito que ele representa no parlamento. Num email revelado pela imprensa alemã na semana passada, dirigido para um potencial comprador, Löbel disse que a empresa não estava recebendo novos pedidos, mas que ele poderia dar um jeito, em troca de uma comissão de 12 centavos por máscara. No email, Löbel ainda indicava que a firma pertenceria na realidade a um membro do Congresso Nacional do Povo chinês.
Após a eclosão do escândalo, Löbel ainda tentou se agarrar ao cargo, apenas se retirado do Comitê de Relações Exteriores do Bundestag e anunciado que não pretendia concorrer à reeleição no pleito nacional de setembro. Ele ainda pretendia seguir em seu mandato até agosto.
No entanto, ele acabou renunciando após crescente pressão, sobretudo de membros do próprio partido, como Susanne Eisenmann, candidata da CDU ao governo de Baden-Württemberg, que tem eleições estaduais marcadas para este mês.
À revista Der Spiegel, Eisenmann disse que "é inaceitável que parlamentares se enriqueçam nesta grave crise". Para ela, Löbel "prejudicou maciçamente a reputação da CDU e da democracia parlamentar como um todo". Ela também pediu que Löbel doe o dinheiro à caridade.
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Outro caso
O caso gerou ainda mais desgaste para a CDU porque não é o único do gênero que atinge um membro do partido. Recentemente, outro deputado federal, Georg Nüsslein, filiado à União Social Cristã (CSU), braço da CDU na Baviera, passou a ser alvo de uma investigação por também receber comissões vultuosas para intermediar contratos de venda de máscaras. Ele é acusado de receber mais de 600 mil euros para atuar como lobista de uma fabricante de máscaras.
O caso é considerado mais grave porque a venda foi feita para dois ministérios e o governo da Baviera. O Parlamento já retirou a imunidade parlamentar de Nüsslein para que ele seja investigado. Georg Nüsslein já anunciou que que vai deixar o bloco da CDU no Parlamento e não concorrer à reeleição, mas evitou renunciar ao mandato imediatamente.
Em setembro, a Alemanha vai ser palco de eleições para a formação da nova composição do Bundestag, que determinará quem será o sucessor de Merkel. A chanceler já afirmou que não continuará no cargo, após 16 anos.
jps/le (ots)
Os principais partidos alemães
São eles: Partido Social-Democrata (SPD), União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU), Partido Liberal Democrático (FDP), Alternativa para a Alemanha (AfD), Verdes, Esquerda e Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
Foto: picture-alliance/dpa
União Democrata Cristã (CDU)
Fundada em 1945, a CDU se considera "popular de centro". Seus governos predominaram na política alemã do pós-guerra. O partido soma em sua história cinco chanceleres federais, entre eles Helmut Kohl, que governou por 16 anos e conduziu o país à reunificação em 1990, e Angela Merkel, a primeira mulher a assumir o cargo, em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
Integrante da Internacional Socialista, o SPD é uma reconstituição da legenda homônima fundada em 1869 e identificada com as classes trabalhadoras. Na Primeira Guerra, ele se dividiu em dois partidos, ambos proibidos em 1933 pelo regime nazista. Recriado após a Segunda Guerra, o SPD já elegeu quatro chanceleres federais: Willy Brandt, Helmut Schmidt, Gerhard Schröder e Olaf Scholz.
Foto: Thomas Banneyer/dpa/picture alliance
União Social Cristã (CSU)
Igualmente fundada em 1945, a CSU só existe na Baviera, onde a CDU não conta com diretório local. Os dois partidos são considerados irmãos. A CSU tem como objetivo um Estado democrático e com responsabilidade social, fundamentado na visão cristã do mundo e da humanidade. Desde 1949, forma no Bundestag uma bancada única com a CDU.
Foto: Peter Kneffel/dpa/picture alliance
Aliança 90 / Os Verdes (Partido Verde)
O partido Os Verdes surgiu em 1980, após três anos participando de eleições como chapa avulsa, defendendo questões ambientais e a paz. Em 1983, conseguiu formar uma bancada no Bundestag. Oito anos depois, o movimento Aliança 90 se fundiu com ele. Em 1998 participou com o SPD pela primeira vez do governo federal.
Foto: Christophe Gateau/dpa/picture alliance
Partido Liberal Democrático (FDP)
O Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) foi criado em 1948, inspirado na tradição do liberalismo e valorizando a "filosofia da liberdade e o movimento pelos direitos individuais". O partido é tradicionalmente um membro minoritário de coalizões de governo federais
Foto: Hannes P Albert/dpa/picture alliance
A Esquerda (Die Linke)
Die Linke (A Esquerda, em alemão) surgiu da fusão, em 2007, de duas agremiações esquerdistas: o Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do Partido Socialista Unitário (SED) da extinta Alemanha Oriental, e o Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG, criado em 2005, aglutinando dissidentes do SPD e sindicalistas).
Foto: DW/I. Sheiko
Alternativa para a Alemanha (AfD)
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam por falas incendiárias, a legenda tem vários diretórios classificados oficialmente como "extremistas" pelas autoridades
Foto: Martin Schutt/dpa/picture alliance
Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
A Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) é um partido fundado em janeiro de 2024 pela mulher que lhe dá o nome, uma ex-parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda) que defende uma mistura de política econômica de esquerda e retórica social de direita. Nas suas primeiras eleições, o partido tomou boa parte do espaço que era ocupada pela Esquerda.
Foto: Anja Koch/DW
Os pequenos
Há numerosos partidos menores na Alemanha, como Os Republicanos (REP) e o Heimat (Pátria), ambos de extrema direita, ou o Partido Marxista-Leninista (MLPD), de extrema esquerda. Outros defendem causas específicas, como o Partido dos Aposentados, o das mulheres, dos não eleitores, ou de proteção dos animais. E mesmo o Violetas, que reivindica uma política espiritualista.