Ícones da vida noturna da cidade, KitKat e Sage tiveram contrato de aluguel rescindido e deverão deixar o espaço que dividem. Em reação inesperada, conservador se posiciona contra especulação imobiliária e gentrificação.
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Apesar da loucura que se tornou o setor imobiliário em Berlim, passando a ser tema constante no noticiário local, na semana passada duas histórias surpreenderam os berlinenses e chamaram a atenção até da mídia internacional.
A primeira foi a visitação de um apartamento disponível para locação, com um preço justo, que atraiu mais de 1,7 mil interessados. O imóvel de dois cômodos custava 550 euros por mês, pouco mais de 2,5 mil reais. O caso escancara a crise de moradia enfrentada pela cidade, que não para de crescer, enquanto os salários não têm acompanhado o ritmo do aumento dos aluguéis.
A média salarial na capital alemã varia de 2,6 mil euros por mês a 3,5 mil euros, dependendo do bairro. Esse valor é bruto, ou seja, sem os descontos com impostos que podem chegar a 42%.
A segunda surpresa da semana foi o anúncio da rescisão do contrato de aluguel dos clubes KitKat e Sage, duas das mais famosas instituições da vida noturna da cidade. Dividindo o mesmo espaço, os dois clubes devem deixar o local até junho do ano que vem. O dono do imóvel seria um investidor de Munique que deseja vender o terreno para um interessado em construir apartamentos de luxo no local.
A notícia foi mais um alerta sobre a devastação da especulação imobiliária que está destruindo o caráter de Berlim, transformando a metrópole em mais uma entre tantas localidades padronizadas pela gentrificação – o processo de valorização de áreas urbanas que se reflete na explosão dos valores dos aluguéis.
Conhecido pelas festas de fetiche, o KitKat é uma das discotecas legendárias da cidade. Fundado em 1994 pelo diretor australiano de cinema pornográfico Simon Thauer e sua companheira Kirsten Krüger, o clube ganhou esse nome em homenagem à famosa boate do filme Cabaret, de 1972.
O Sage também faz parte da história da vida noturna berlinense. Seu proprietário, Sascha Disselkamp, afirmou que tentou conversar em vão com o dono do imóvel. Ao jornal Berliner Zeitung, ele expressou a vontade de comprar o local onde ficam os clubes para transformá-lo num espaço cultural.
A prefeitura de Berlim, governada atualmente por uma coalizão formada pelo Partido Social-Democrata (SPD), Partido Verde e A Esquerda, disse que os dois locais "são ícones da cultura" da cidade e que está interessada em preservá-los. Em nome dos clubes, as autoridades estariam em contato com o proprietário do imóvel para tentar encontrar uma solução para o impasse.
Tal atitude já era de se esperar dessa coalizão, que vem tentando encontrar meios para conter o avanço da especulação imobiliária na cidade. O mais curioso nesse caso, porém, foi o apoio dado aos clubes por um deputado do partido da chanceler federal Angela Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), que geralmente tem se mantido ao lado dos especuladores e criticado o governo local por sua posição.
"Estamos testemunhando infelizmente a extinção da cena noturna de Berlim", afirmou o deputado conservador Christian Goiny, acrescentando que a recente rescisão do contrato do KitKat e do Sage é mais uma triste prova disso. Ele propôs ainda que a cidade ofereça aos clubes um espaço alternativo, além de apoio financeiro a discotecas que enfrentam ameaças de fechamento.
Ainda não se sabe qual será o destino dos dois, mas há grandes chances que eles entrem para estatísticas dos clubes legendários que morreram devido à especulação imobiliária. Nos últimos anos, a cidade perdeu 250 discotecas e espaços de eventos. Cada vez mais locais famosos estão fechando suas portas, sucumbindo à gentrificação.
Essa transformação ignora ainda o poder econômico desses espaços. A cena de clubes de Berlim é famosa no mundo todo, atraindo turistas de vários países. O setor movimenta quase 1,5 bilhão de euros por ano.
Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Assim como Londres, Paris e Viena, também a capital alemã tem necrópoles famosas. Mas, em vez de um cemitério central, ela tem mais de 200 de pequeno porte. Dez são especiais, pois neles repousam mortos famosos.
Visitar cemitérios pode soar estranho, mas muitas vezes eles são concebidos como uma espécie de parque, e impressionam com túmulos magníficos. Alguns são historicamente importantes, como o Dorotheenstadt, em Berlim-Mitte. Muitas celebridades estão enterradas ali, como os dramaturgos Bertolt Brecht e Heiner Müller, e o arquiteto prussiano Karl Friedrich Schinkel (jazigo em primeiro plano).
Foto: picture-alliance/Arco Images/Schoening
Cemitério dos Inválidos
O Cemitério dos Inválidos é um dos mais antigos de Berlim, onde estão sepultados altos militares das guerras de libertação de 1813-15, contra Napoleão. Nos tempos da Alemanha dividida, ficava na "terra de ninguém" entre os muros, o que levou à deterioração das sepulturas. Hoje, algumas avenidas estão replantadas e sepulturas importantes foram restauradas. Ao todo, 200 ainda podem ser vistas.
Foto: picture-alliance/imagebroker/K. F. Schöfmann
Cemitério Antigo de São Mateus
Nesta necrópole no bairro Schöneberg, as sepulturas e mausoléus testemunham a gloriosa história do Gründerzeit, o período de prosperidade aproximadamente entre 1848 e 1871, devido à industrialização. Personalidades importantes estão enterradas aqui, como a família dos famosos contadores de histórias e gramáticos Jacob e Wilhelm Grimm (foto).
Foto: picture-alliance/Schroewig/B. Oertwig
Cemitério Florestal de Zehlendorf
Construído em 1945, num bosque de pinheiros, o Cemitério Florestal de Zehlendorf é conhecido como última morada de celebridades. Lá estão os túmulos do ex-chanceler federal Willy Brandt (foto), do arquiteto Hans Scharoun e da atriz Hildegard Knef. Um campo-santo honorário homenageia os soldados italianos mortos em Berlim durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/imagebroker/J. Woodhouse
Cemitério municipal da rua Stubenrauchstrasse
Muitos artistas estão enterrados no cemitério-parque na rua Stubenrauchstrasse, como a atriz e cantora Marlene Dietrich. Além disso, diversas lápides foram desenhadas por artistas. Em 1925, por exemplo, o escultor Georg Kolbe fez esta escultura de bronze para o túmulo do compositor Ferruccio Busoni.
Foto: picture-alliance/imagebroker/J. Henkelmann
Cemitério Schönhauser Allee
A necrópole judaica da avenida Schönhauser Allee foi construída em 1827. Entre seus 22.800 mortos, estão personalidades importantes como o pintor Max Liebermann. Durante a Segunda Guerra Mundial, foram destruídos o salão de cerimônias e a capela mortuária perto do portão de entrada. Hoje o cemitério tem um memorial às vítimas do regime nazista.
O Cemitério Judaico Weissensee foi construído em 1880 como extensão do localizado da avenida Schönhauser Allee. Com mais de 115 mil sepulturas, é a maior necrópole judaica da Europa. Um conjunto de prédios no estilo neorrenascentista italiano recebe os visitantes na entrada principal. Na foto, placa memorial às vítimas do Holocausto.
O fato de o Cemitério Wannsee ser aberto a todas as religiões está evidenciado num símbolo em seu muro: uma cruz cristã ligada a uma estrela de Davi. Também ele possui túmulos elaborados, como os da abastada família Richter (foto). Os berlinenses o apelidaram de "Cemitério dos Milhões", pois lá estão enterrados muitos proprietários de mansões.
Foto: picture-alliance/dpa/H. J. Rech
Cemitério Central Friedrichsfelde
Até 1911, os pobres eram sepultados em Friedrichsfelde, e a prefeitura arcava com os custos do funeral. Por ser em forma de parque, mais tarde também passou a ser preferido como morada eterna de berlinenses ricos. Hoje em dia é considerado um cemitério socialista, pois lá estão enterrados vários políticos social-democratas e comunistas, homenageados com um memorial (foto).
Foto: picture-alliance/dpa/J. Carstensen
Cemitérios do Hallesches Tor
Os seis cemitérios no bairro Kreuzberg, entre Mehringdamm e Zossener Strasse, foram construídos fora da muralha da cidade no século 18. Muitas personalidades importantes, como o compositor Felix Mendelssohn-Bartholdy, estão enterradas aqui (foto). Um ótimo lugar para quem procura paz e sossego em Berlim passear.