Deputados da AfD abandonam discurso de líder judaica
24 de janeiro de 2019
Ato foi reação à fala de líder da comunidade judaica no Parlamento da Baviera durante cerimônia em memória das vítimas do nazismo. Ela acusou a sigla populista de direita de minimizar crimes dos nazistas.
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Mais de uma dezena de deputados estaduais do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) deixaram nesta quarta-feira (23/01) o plenário do Parlamento da Baviera em protesto ao discurso de uma da mais conhecidas líderes da comunidade judaica alemã.
O episódio ocorreu em meio a uma fala de Charlotte Knobloch, ex-chefe do Conselho Central dos Judeus da Alemanha (ZdJ, na sigla em alemão), que acusou os direitistas da AfD de minimizarem os crimes nazistas e terem relações estreitas com a extrema direita alemã.
Knobloch havia sido convidada para discursar como parte de um ato em memória das vítimas do regime do ditador Adolf Hitler, o qual ocorre todos os anos.
"Um partido representado aqui menospreza esses valores [democráticos] e minimiza os crimes dos nacional-socialistas", disse Knobloch, que nasceu em 1932 e foi salva por uma família de fazendeiros católicos durante o genocídio dos judeus na Segunda Guerra Mundial. "Essa chamada Alternativa para a Alemanha baseia a sua política no ódio e na discriminação e, não apenas na minha opinião, não se assenta sobre a nossa Constituição democrática", completou.
Após a referência ao partido, apenas quatro deputados da AfD permaneceram em plenário.
No ano passado, o partido estreou no parlamento bávaro ao conquistar 22 cadeiras na eleição estadual, se tornando a quarta maior força do Estado. A AfD também obteve 12,6% dos votos na eleição nacional de 2017 e se tornou a terceira maior força do Bundestag, o parlamento federal.
A ascensão do partido, cujos membros defendem políticas eurocéticas e um tratamento mais duro contra a imigração, vem alarmando lideranças judaicas da Alemanha, que o acusam de contribuir para um ressurgimento do antissemitismo do país.
A deputada estadual Katrin Ebner-Steiner, que ocupa a liderança da AfD no Parlamento da Baviera, defendeu a ação dos seus colegas de partido. Segundo ela, foi uma resposta apropriada. "É um escândalo que a presidente da comunidade judaica de Munique abuse de um ato de lembrança para a vítimas do nazismo para difamar toda a AfD e seu bloco legitimamente e democraticamente eleito com sua insinuação maldosa", disse.
Knobloch, que chefiou o ZdJ entre 2006 e 2010, disse após o discurso que não ficou surpresa quando os deputados da AfD abandonaram o plenário. "Os democratas do nosso país precisam enfrentar a AfD", disse.
Em junho do ano passado, o líder nacional da AfD, Alexander Gauland, provocou um escândalo na Alemanha ao afirmar que Adolf Hitler e os nazistas não foram mais do que um "cocô de pássaro" na história alemã.
"Hitler e os nacional-socialistas não foram mais do que um cocô de pássaro em mil anos de uma história alemã de sucesso", afirmou o político, que também lidera a bancada da AfD no Bundestag.
"Reconhecemos a nossa responsabilidade por esses 12 anos", disse ele, em referência à duração da ditadura nazista, "mas nós temos uma história gloriosa, e ela, meus amigos, é bem mais longa que esses malditos 12 anos".
Não foi a primeira vez que Gauland fez comentários controversos que causaram indignação no meio político. Em 2017, durante a campanha eleitoral, ele disse que os alemães deveriam ter orgulho dos soldados que lutaram nas duas guerras mundiais.
Em 2016, ele também provocou indignação ao ofender o zagueiro da seleção alemã Jérôme Boateng, que é de origem africana. Ele declarou que "as pessoas o acham um bom jogador de futebol, mas não querem um Boateng como vizinho".
Outros políticos do partido também ganham destaque regularmente por causa de declarações na mesma linha. Em janeiro de 2017, Björn Höcke, deputado da AfD no parlamento estadual da Turíngia, chamou o memorial do Holocausto em Berlim de "monumento da vergonha".
Em março de 2018, o então presidente da AFD no estado da Saxônia-Anhalt, André Poggenburg, se referiu a imigrantes turcos como "pastores de camelos" e "vendedores de cominho". Ele renunciou ao cargo pouco depois.
Entre os 94 parlamentares eleitos para o Parlamento alemão pelo partido populista de direita há vários nomes que chamara a atenção por declarações polêmicas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Stratenschulte
Alice Weidel
Antes de ser escolhida para encabeçar a lista de candidatos da AfD, em abril de 2017, esta consultora de empresas de 38 anos era praticamente desconhecida no cenário político alemão. Ela é natural de Gütersloh e vive com a parceira e os dois filhos desta na Alemanha e na Suíça. Weidel trabalhou como analista para gestão de patrimônio no banco Goldman Sachs, em Frankfurt.
Foto: Reuters/A. Schmidt
Alexander Gauland
Até 2013, o jurista Alexander Gauland, de 76 anos, foi membro da CDU. Natural de Chemnitz, este conservador-nacionalista ficou conhecido por comentários xenófobos. Ele disse que ninguém gostaria de ter alguém como o jogador negro Jérôme Boateng como vizinho e sugeriu que a encarregada do governo para assuntos de integração, Aydan Özoguz, perdesse a cidadania alemã e fosse "descartada" na Anatólia.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Beatrix von Storch
Beatrix Amelie Ehrengard Eilika von Storch é uma advogada de 46 anos e nasceu numa família nobre, a Casa de Oldenburg, em Lübeck, no norte da Alemanha. Ela é uma das poucas mulheres da AfD no Bundestag. Esta fundamentalista cristã é contra o aborto e causou polêmica com a sugestão de atirar contra refugiados, inclusive mulheres e crianças, que tentarem cruzar a fronteira da Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Murat
Wilhelm von Gottberg
Este ex-policial de 77 anos chegou a ser prefeito pela CDU no leste da Alemanha, mas deixou o partido em 2011. Ele foi por muito tempo vice-presidente da associação dos alemães que, com o fim da Segunda Guerra, foram expulsos dos antigos territórios alemães no Leste Europeu e chamou o Holocausto de "instrumento eficaz para a criminalização dos alemães e de sua história".
Foto: picture-alliance/dpa/T. Brakemeier
Petr Bystron
Este consultor de empresas de 44 anos é natural da antiga Tchecoslováquia e, até 2013, integrava o Partido Liberal Democrático. Embora seja considerado um moderado, ele é, até onde se sabe, o único político da AfD que é vigiado pelo serviço secreto interno da Alemanha. O motivo: sua proximidade com o Movimento Identitário, que defende a preservação das "identidades nacionais europeias".
Foto: picture-alliance/dpa/A. Weigel
Mariana Harder-Kühnel
Em seu site, esta advogada de Hessen defende a "proteção do cidadão, o fortalecimento da família e a restauração do Estado de Direito". Na página do escritório de advocacia de seu marido, onde ela trabalha, o currículo dela não menciona a militância na AfD.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Leif-Erik Holm
Este ex-radialista (ao centro na foto) de 47 anos é natural de Schwerin, no nordeste da Alemanha, e considerado um moderado. Ele já foi o assessor da agora também deputada federal pela AfD Beatrix von Storch. Até esta eleição, ele foi o líder da bancada da AfD em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, onde o partido é a principal força de oposição ao governo estadual.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Bockwoldt
Martin Hohmann
Este político de 69 anos, natural de Fulda, é o único deputado da AfD que já ocupou um mandato no Bundestag, na época pela CDU. Em 2003, no Dia da Unidade Alemã, ele fez um discurso que foi considerado antissemita. Como consequência, acabou excluído da bancada da CDU no Parlamento alemão e, mais tarde, do partido. Ele é frequentemente associado à ala ultradireitista da AfD.
Foto: Imago/Hartenfelser
Jens Maier
Este juiz do Tribunal Regional de Dresden tem 55 anos. Referindo-se ao polêmico deputado estadual Björn Höcke, líder da AfD da Turíngia, ele mesmo se considera "o pequeno Höcke". Maier defende o fim do que chama de "culto da culpa" dos alemães e adverte contra a "criação de povos misturados", pelo que foi repreendido pela corte onde trabalha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert
Armin-Paul Hampel
Este político de 60 anos foi jornalista da emissora pública ARD. É amigo de Alexander Gauland e, na condição de membro da cúpula nacional da AfD, votou contra a exclusão de Björn Höcke por sua crítica ao Memorial do Holocausto, em Berlim. Ele mantém ligações com organizações de ultradireita na Alemanha, como uma que é vigiada pelo serviço secreto interno.
Foto: Reuters/W. Rattay
Frauke Petry
A co-presidente e rosto mais conhecido da AfD anunciou, logo após a eleição, que não integrará a bancada dos populistas no Bundestag e, um dia depois, que deixará o partido, mas sem definir data. Esta química de formação foi casada com um pastor evangélico, com quem tem quatro filhos e de quem se separou em 2015. Ela casou de novo e teve um quinto filho. Petry é associada à ala moderada da AfD.