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Desaceleração mundial põe em risco o desempenho comercial brasileiro

Carlos Guimarães Filho19 de novembro de 2013

No acumulado do ano, deficit é de 1,8 bilhão de dólares, situação bem diferente da existente em 2012, quando país acumulava superávit de 17,35 bilhões em outubro. Última vez que a balança fechou no vermelho foi em 2000.

Foto: picture-alliance/dpa

O cenário econômico internacional de incertezas – com a recessão na Europa e a desaceleração nos Estados Unidos – está se refletindo na balança comercial brasileira em 2013.

De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o país contabiliza deficit (importações maiores que vendas externas) de 1,83 bilhão de dólares no acumulado deste ano – entre janeiro a outubro. Neste período, as exportações somam 200,47 bilhões, enquanto as importações totalizam 202,30 bilhões de dólares.

Após 12 anos consecutivos de superávit, o Brasil encara o risco de fechar um ano no vermelho. A última vez em que o país exportou menos do que importou foi no longínquo ano de 2000 – deficit de 0,697 milhões de dólares.

"A balança comercial deve fechar no vermelho. Eu não vejo reversão desse quadro no curto e médio prazo. Ou seja, deve permanecer assim em 2014", afirma Celso Grisi, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP). "O comércio perdeu ritmo e prejudicou as trocas internacionais. A retração mundial atingiu, principalmente, as commodities", acrescentou.

A relação entre exportações e importações era bem diferente no ano passado. Nos dez primeiros meses de 2012, a balança apresentava superávit de 17,35 bilhões de dólares, fechando o ano com saldo positivo de 19 bilhões de dólares.

Nos últimos 12 anos, o destaque fica com os anos 2007, 2008 e 2009, quando a balança comercial registrou superávit acima dos 40 bilhões de dólares.

Europa e EUA diminuíram ritmo de compra

Para especialistas da área econômica, a drástica mudança de um ano para o outro é principalmente resultado de fatores externos. A crise que assola vários países da Europa, principalmente Itália, Espanha, Portugal e Grécia, reduz a demanda da União Europeia, terceiro principal mercado comprador de produtos brasileiros. As quatro nações devem fechar 2013 com retração em suas economias.

Produção da Petrobras não consegue acompanha demanda internaFoto: AFP/Getty Images

"Os problemas na balança comercial estão ligados à crise internacional. A crise europeia diminuiu a demanda por produtos brasileiros", ressalta Antônio Correa de Lacerda, coordenador do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política da PUC-SP.

Ainda de acordo com o último relatório do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as vendas para os países da União Europeia caíram 2,5% entre janeiro a outubro deste ano, comparadas ao mesmo período de 2012.

Mas a maior queda foi registrada em relação aos Estados Unidos, quarto maior comprador, que adquiriu 9,2% menos em relação aos dez primeiros meses do ano anterior.

Somando o que os dois blocos deixaram de comprar este ano em relação ao ano passado, cerca de 2,8 bilhões de dólares, seria suficiente para colocar a balança comercial brasileira no azul.

Combustível também pesou na conta

Além da redução da demanda dos mercados internacionais, a balança comercial brasileira reflete a incapacidade de suprir a crescente demanda interna de combustíveis apenas com a produção própria.

Enquanto as compras das demais categorias, como bens de capital, matérias-primas e bens de consumo, tiveram crescimento de 5,8%, 7,1% e 4,7%, respectivamente, os combustíveis deram salto de 23,1%.

Entre petróleo e demais derivados, o Brasil comprou, de janeiro e outubro deste ano, 34,7 bilhões de dólares, ou seja, 6,65 bilhões de dólares a mais em relação ao mesmo período de 2012 (28,07 bilhões de dólares).

Com o insucesso da Petrobras em "alinhar os preços dos combustíveis" com o mercado internacional – onde eles estão mais caros –, faltaram recursos para financiar o plano de negócios, alega a empresa, e, consequentemente, aumentar a produção interna.

"Os demais fatores não são novos. A grande mudança que ocorreu é em relação à Petrobras, que não produziu o que se esperava dela. A contenção dos preços dos combustíveis não permitiu gerar caixa, não houve investimentos, e, com o aumento do consumo, se fez necessário importar mais", ressalta Lacerda.

Outra explicação para os altos números da importação de combustível é a instrução normativa 1.282, de julho de 2012, que concedeu um prazo de até 50 dias para registro das importações de combustíveis e derivados feitas pela Petrobras. Diante do "atraso", cerca de 4,5 bilhões de dólares em importações de petróleo e derivados realizadas em 2012 foram contabilizadas somente neste ano.

Expectativas para 2014

A balança comercial brasileira não deve voltar tão rapidamente ao patamar dos últimos cinco anos, quando o superávit girou na casa dos 20 bilhões de dólares, preveem os especialistas. Grisi defende uma mudança tributária para que o Brasil "arrume" a casa e reconquiste o espaço no exterior.

"É preciso uma política cambial mais clara para o exportador e que atraia capital externo, além da redução do custo tributário brasileiro. Esses problemas fazem o Brasil perder competitividade e acabam sucateando a indústria nacional", pondera.

Já Lacerda prevê retomada do crescimento da economia dos países da Europa em 2014 e uma possível ampliação da produção da Petrobras para balança comercial retomar o saldo positivo no próximo ano.

"A situação na Europa tende a melhorar e vejo a possibilidade de melhora na capacidade de produção da Petrobras, de forma a amenizar a pressão sobre a importação. É possível ter superávit de 5 bilhões de reais [em 2014]", afirma Lacerda.

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