Desaparecidos durante 2ª Guerra continuam sendo procurados
30 de agosto de 2017
Serviço de rastreamento da Cruz Vermelha alemã ainda recebe 8 mil pedidos por ano, e verbas do governo federal devem acabar em 2023. Mesmo décadas depois, muitos casos são esclarecidos.
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O presidente da Cruz Vermelha alemã (DRK, na sigla em alemão), Rudolf Seiters, disse que saber o destino dos desaparecidos durante a Segunda Guerra Mundial continua a ser tarefa central do serviço de rastreamento da organização, apesar de o conflito ter acabado há mais de 70 anos.
O discurso dele precedeu o Dia Internacional dos Desaparecidos, celebrado nesta quarta-feira (30/08). A data foi criada em 2010 por iniciativa de associações latino-americanas de parentes de desaparecidos.
A Cruz Vermelha Alemã recebe uma média anual de 8 mil pedidos sobre desaparecidos na Segunda Guerra. Somente no primeiro semestre deste ano foram 4.200. "Em média, 40% dos casos são esclarecidos", diz Seiters, que foi ministro do Interior no governo do chanceler Helmut Kohl.
Encontro após 72 anos
Um caso bem-sucedido divulgado nesta terça-feira pela DRK diz respeito a Christel Ehrich (nascida Pelekies), que se reuniu com o irmão Günter Pelekies em abril deste ano, após 72 anos de incertezas. Christel Ehrich fugiu de Memel, que fica no que é hoje a Lituânia, em 1944, e se radicou, casou e formou família no que é hoje o estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, no nordeste da Alemanha.
Ao contrário dos relatos sombrios, o irmão dela, Günter, que enfrentava problemas de saúde e fora acomodado em um abrigo para crianças, não morrera vítima de um bombardeio durante a guerra. Como órfão, ele passou o tempo em clínicas e foi posteriormente acolhido por uma família.
"Eu era uma pessoa sem raízes", disse Günter Pelekies, acrescentando que encontrou "portas fechadas" durante a era da Alemanha Oriental. Ele localizou a irmã após meticulosos exames de arquivos depois que ele fez uma solicitação em 2013 no serviço de rastreamento da DRK, cujo escritório para casos da Segunda Guerra Mundial fica em Munique.
Financiamento vai acabar
Seiters exortou as pessoas que continuem a procurar seus parentes desaparecidos durante a Segunda Guerra Mundial e que até redobrem seus esforços, porque o financiamento do governo alemão para o projeto será extinto em 2023. "Quem ainda tem uma consulta para fazer, deve enviá-la logo", advertiu.
Entre 1945 e 1950, pouco depois do fim da guerra, o serviço de rastreamento da DRK recebeu 14 milhões de solicitações e forneceu informações sobre 8,8 milhões de casos. Em 1959, ainda havia 2,5 milhões deles em aberto, um nível que caiu para 1,2 milhões no final dos anos 1990.
Crise de refugiados
No que diz respeito à crise mundial de refugiados, a DRK afirmou que seu serviço de rastreamento, no primeiro semestre deste ano, recebeu também cerca de duas mil consultas de refugiados que procuram parentes ou vice-versa, incluindo 316 casos de crianças desaparecidas. Os principais países de origem são Afeganistão, Síria e Somália.
"O desaparecimento de migrantes é um fenômeno global, com um alto nível de casos não esclarecidos", disse Martin Schüepp, diretor regional da Cruz Vermelha de Genebra. No ano passado, cerca de 1 milhão de pessoas se dirigiram aos escritórios internacionais da organização para obter ajuda. Schüepp afirmou que atualmente o número de refugiados é o maior desde a Segunda Guerra Mundial, referindo-se aos cerca 65 milhões de refugiados existentes no mundo, segundo números do Alto Comissariado para Refugiados da ONU. "O esclarecimento do destino das pessoas desaparecidas é um ato humanitário", afirmou.
Desafio global
Na segunda-feira, a Comissão Internacional para as Pessoas Desaparecidas (ICMP, na sigla em inglês), com sede em Haia, na Holanda, afirmou que os desaparecimentos em todo o mundo atingem milhões e que representam um "desafio global", exigindo uma "estratégia coordenada" entre autoridades e ciência forense.
A diretora geral da ICMP, Kathryne Bomberger, afirmou que o número de desaparecidos no Iraque, destruído pelos conflitos das últimas décadas, pode chegar a 1 milhão. "O conflito na Síria está gerando um número diário de desaparecimentos. A Colômbia, o México e o Sri Lanka estão lidando com o legado de dezenas de milhares de pessoas desaparecidas", acrescentou.
As rotas de migração no Mar Mediterrâneo e "da América do Sul para os EUA e de Mianmar e Bangladesh para a Tailândia e a Malásia também são fatais", complementou.
MD/kna/epd
As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac