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Desastre da nave Columbia poderia ter sido evitado

Lukas Stock
1 de fevereiro de 2023

Há 20 anos, negligência de um dano resultou na desintegração do ônibus espacial da Nasa durante seu retorno à Terra. Os sete tripulantes morreram.

Último lançamento do ônibus espacial Columbia, em 16 de janeiro de 2003
Centro Espacial John F. Kennedy, 23 de janeiro de 2003: o 28º e último lançamento do ônibus espacial ColumbiaFoto: Red Huber/Zuma/picture alliance

Na manhã do 1º de fevereiro de 2003, o então presidente dos EUA George W. Bush emitiu um comunicado ao vivo na televisão americana. Foi a segunda vez, em sua ainda curta presidência que Bush teve que dar más notícias à sociedade americana. O que Bush tinha a dizer abalaria os Estados Unidos e, de fato, o mundo inteiro.

"Meus compatriotas, este dia trouxe notícias terríveis e grande tristeza para nosso país. O Columbia está perdido. Não há sobreviventes."

Algumas horas antes, um sensor registrara tensão na asa esquerda e aquecimento não habitual em várias seções do do ônibus espacial. Mas esse aviso não foi exibido para a tripulação. E em poucos minutos, o retorno do Columbia à Terra se transformou numa tragédia, com a morte de seus sete tripulantes.

Veículo de exploração

O Columbia foi o primeiro ônibus espacial ativo da agência espacial americana Nasa. O orbitador, como também era conhecido, era uma espaçonave branca em forma de avião, que se tornou um símbolo do programa espacial da Nasa e, de maneira mais geral, também da exploração espacial do fim da década de 1970 à de 1980.

De 1981 a 2003, o Columbia voou 28 vezes, incluindo a fatídica missão final. A Columbia STS-107 era uma missão de rotina para conduzir experimentos científicos no espaço, lançada do Centro Espacial John F. Kennedy, na Flórida, em 16 de janeiro de 2003.

No entanto a missão apresentou problemas logo no início: um pedaço de espuma, usado para isolar o combustível superfrio do ônibus espacial, soltou-se de um dos foguetes durante o lançamento da Terra, e atingiu a asa esquerda do orbitador.

Destroços do ônibus espacial sofrem atrito atmosférico no reingresso na atmosfera terrestre, sobre o estado do TexasFoto: Scott Lieberman/AP Photo/picture alliance

No segundo dia da missão, a Nasa descobriu o que acontecera, mas decidiu-se prosseguir com a missão sem consertar os danos ou resgatar os astronautas.

A tripulação foi notificada sobre o impacto dos detritos por um e-mail do controle da missão, mas assegurou-se de que o "mesmo fenômeno foi visto em vários outros voos" e que não havia "absolutamente nenhuma preocupação" sobre isso afetar a reentrada na atmosfera da Terra.

Mas quando o Columbia começou seu retorno após cerca de duas semanas no espaço, a decisão de fazer nada a respeito dos danos identificados provou ser errada e fatal.

Destino dos astronautas

Após o acidente, a equipe de investigadores Columbia Accident Investigation Board (Caib) ficou encarregada de apurar as causas. Ela concluiu que, quando a espuma se soltou durante o lançamento, ela rompeu um sistema externo de proteção térmica.

O dano permitiu que "ar superaquecido" derretesse a estrutura de alumínio do orbitador, acabando por causar a desintegração do Columbia durante sua reentrada na atmosfera da Terra. Os investigadores encontraram detritos espalhados no solo.

Os astronautas a bordo do ônibus espacial provavelmente sentiram uma rápida despressurização devido à ruptura, cerca de 1min30 após sua última transmissão ao controle da missão. Em seguida a conexão se perdeu.

Não está claro se essa despressurização foi a causa da morte. Os astronautas provavelmente também sofreram traumas físicos graves quando a espaçonave começou a girar repentinamente. E quando se desintegrou, seus corpos teriam sido expostos ao calor extremo resultante do atrito atmosférico. E, por fim, houve o impacto no solo. Tudo isso foi testemunhado por quem fora ao Centro Espacial John F. Kennedy assistir ao pouso.

Tripulação do Columbia: Kalpana Chawla, Laurel Clark, William McCool, Rick Husband, David Brown, Ilan Ramon e Michael AndersonFoto: NASA/Getty Images

Voo espacial ainda é difícil e perigoso

O acidente do ônibus espacial Columbia em 2003 ilustra quão perigoso e difícil era – e ainda é – realizar um voo espacial. Na época, a comissão Caib descreveu o voo espacial como ainda numa fase de "desenvolvimento" – e isso 30 anos após o Programa Apollo, que levou o ser humano à Lua. Aquelas missões foram um grande sucesso para a exploração espacial em geral, mas também foram marcadas por dificuldades técnicas e tragédias.

Um trabalho de pesquisa de 2022 observou que a maior taxa de fatalidade em voos espaciais foi na década de 1960. O menor foi na década de 1990 – e "desde 2003, nenhuma morte de astronauta foi relatada". Os autores do estudo calcularam uma taxa total de fatalidade (mortes por voo espacial) de 5,8% até a publicação do artigo.

"Com uma maior cooperação internacional e manutenção da Estação Espacial Internacional (EEI), o número de voos espaciais tripulados e dias passados no espaço aumentou constantemente", e se registraram "taxas constantemente menores de incidentes e acidentes".

O voo espacial não é menos difícil hoje do que há 20 anos ou na década de 1960, mas as agências espaciais introduziram reformas e regulamentos de segurança aprimorados, à medida que aumentou o conhecimento e a experiência no espaço.

Restos do ônibus foram coletados pelos investigadores no Centro Espacial John F. KennedyFoto: NASA/Getty Images

Nasa é culpada pelo acidente do Columbia?

A comissão de investigação concluiu que houve "causas organizacionais" para o desastre. Isso sugere que a Nasa, como organização, ostenta certa responsabilidade pelo que aconteceu. Mas nenhum funcionário ou de qualquer outra organização sofreu quaisquer acusações referentes ao acidente do Columbia.

É provável que as vidas da tripulação pudessem ter sido poupadas. Embora considerando improvável que o dano no orbitador pudesse ter sido consertado no espaço, a Caib classificou como "desafiador, mas viável" lançar o Atlantis, outro ônibus espacial, para salvar os astronautas do Columbia.

Com trabalhos em turnos ininterruptos, sete dias por semana, o Atlantis poderia ter sido preparado para o lançamento em 10 de fevereiro – cinco dias antes de acabarem os alimentos e outros recursos do Columbia, estimaram os investigadores. Mas este plano nunca foi colocado em prática, ou sequer considerado.

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