Desastres recentes no RS mataram mais do que em 3 décadas
3 de maio de 2024
Em menos de um ano, estado foi palco de tragédias climáticas que deixaram mais de 110 vítimas - número superior ao total de mortos em desastres naturais entre 1991 e 2022.
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Em menos de um ano, as chuvas intensas no Rio Grande do Sul já fizeram mais de 110 vítimas - mais do que o total registrado em desastres naturais nas três décadas precedentes.
Na catástrofe climática mais recente, classificada pelo governador Eduardo Leite (PSDB) como o "maior desastre do estado" em termos de prejuízos materiais, chuvas persistentes desde o início da semana deixaram ao menos 37 mortos e 74 desaparecidos. Mais de 30 mil pessoas tiveram que deixar as suas casas, outras centenas de milhares estão sem água ou luz.
Palco de desastres climáticos recorrentes
O estado no extremo sul do país, que tem sofrido com eventos climáticos extremos recorrentes, é um dos que mais registrou desastres naturais nas últimas três décadas, ficando atrás apenas de Minas Gerais, segundo dados do Atlas Digital de Desastres no Brasil e do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.
Entre 1991 e 2023, foram cerca de 8,5 mil registros, o equivalente a 12,5% de todas as ocorrências no Brasil – sendo que, pelos dados do Atlas Digital de Desastres no Brasil, o saldo de mortos nesses desastres em pouco mais de 30 anos foi de 101 até 2022.
Já o governo gaúcho aponta que entre 2003 e 2021, 14 pessoas morreram em desastres naturais no estado.
O RS também viu as ondas de calor dobrarem nos últimos 40 anos, segundo estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Especialistas apontam que as mudanças climáticas têm potencializado os efeitos de fenômenos sazonais como o El Niño, que tende a provocar mais chuvas naquela região, e o La Niña, que de 2020 até o início de 2023 castigou os gaúchos com uma estiagem severa e prejuízos bilionários ao setor agropecuário. Em alguns municípios chegou a haver até mesmo racionamento de água.
No desastre climático mais recente, classificado pelo governador Eduardo Leite (PSDB) como o "maior desastre do estado", chuvas persistentes desde o início da semana deixaram ao menos 37 mortos e 60 desaparecidos. Quase 15 mil pessoas tiveram que deixar as suas casas, outras centenas de milhares estão sem água ou luz. O nível do rio Taquari subiu ao maior patamar da história, quebrando a marca dos 30 metros.
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Estado teve outras três grandes enchentes em junho, setembro e novembro de 2023
Em novembro do ano passado, chuvas mais brandas nas regiões do rio Taquari, Serra Gaúcha e região metropolitana de Porto Alegre provocaram a morte de 8 pessoas e forçaram outras 28 mil para fora de suas casas.
Em setembro, um grande volume de chuvas em um curto espaço de tempo provocou inundações principalmente no Vale do Taquari, fazendo 54 vítimas e desabrigando ou desalojarando mais de 15 mil pessoas, no que foi considerado o maior desastre natural da história do RS desde 1959.
Antes disso, em junho, a passagem de um ciclone extratropical provocou chuvas tão intensas que pessoas chegaram a morrer afogadas dentro de casa devido à subida repentina do nível dos rios. Houve 16 mortos, além de 7,5 mil desabrigados ou desalojados em mais de 40 cidades na região metropolitana de Porto Alegre, no litoral norte do estado e na Serra Gaúcha.
ra/jps (ots)
A devastação das chuvas no Rio Grande do Sul
Enchentes mataram dezenas e obrigaram milhares a abandonar suas casas. Governador do estado, Eduardo Leite, fala em "catástrofe histórica".
Foto: Diego Vara/REUTERS
Telhados
Em algumas localidades só os telhados das casas ainda podem ser vistos fora da água. Tempestades severas estão ocorrendo na região desde segunda-feira, causando grandes inundações. Mais de 30 pessoas já morreram nas enchentes. Acredita-se que em torno de 60 estejam desaparecidas. Por isso, é possível que número de óbitos aumente.
Foto: Diego Vara/REUTERS
Calamidade pública
A chuva forte inundou regiões inteiras e cerca de 150 mil pessoas tiveram que deixar suas casas. Além disso, segundo relatos, cerca de 320 mil casas ficaram sem eletricidade e mais de meio milhão de residências estão sem abastecimento de água potável. O governo do Rio Grande do Sul declarou estado de calamidade pública.
Foto: Diego Vara/REUTERS
Desastre histórico
O desespero está estampado no rosto desta moradora da região, que leva dois gatos resgatados das águas. "Infelizmente, este será o maior desastre que nosso estado já enfrentou", disse o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e apelou para que a população deixe as áreas de risco e busque lugares seguros.
Foto: Diego Vara/REUTERS
Lula promete estar "100% à disposição" do RS
Na quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a área do desastre, acompanhado de uma comitiva de ministros. Juntamente com o governador Eduardo Leite, ele participou de uma reunião de coordenação para as operações de resgate e prometeu ajudar a população afetada, afirmando que o governo federal "está 100% à disposição" do Rio Grande do Sul.
Em muitos lugares, a chegada de ajuda encontra entraves: muitas estradas estão inundadas e estão ocorrendo deslizamentos de terra nas regiões montanhosas. Na quinta-feira, uma barragem se rompeu parcialmente. Mais de 100 comunidades foram afetadas pelo desastre, especialmente no Vale do Taquari.
Foto: Diego Vara/REUTERS
Localidades isoladas
Diversas localidades ficaram isoladas do mundo exterior. As rodovias estão parcialmente intransitáveis e, devido à baixa visibilidade, nenhum voo com suprimentos de socorro pôde decolar para determinadas áreas desde terça-feira. Além disso, a comunicação muitas vezes não é possível, pois as conexões telefônicas e de internet também foram interrompidas.
Foto: CARLOS FABAL/AFP/Getty Images
Salvamento pelo ar
Militares também estão envolvidos nas operações de resgate. O Ministério da Defesa mobilizou mais de 600 integrantes das Forças Armadas, além de mais de 10 embarcações e cinco helicópteros. Os soldados também estão ajudando a limpar as estradas, distribuir suprimentos e montar abrigos de emergência.
Foto: Ricardo Stuckert/Brazilian Presidency/AFP
Resgate por embarcações
Em várias localidades, moradores e seus animais de estimação foram resgatados em barcos. É incerto se eles poderão retornar às suas casas. Segundo informou a Defesa Civil nesta sexta-feira (03/05), 4,6 mil pessoas foram resgatadas no Rio Grande do Sul.
Foto: Anselmo Cunha/AFP/Getty Images
Consequência das mudanças climáticas
Lula enfatizou que as enchentes são consequência das mudanças climáticas. Nos últimos meses, o Brasil tem sofrido repetidamente com ondas de calor e chuvas fortes. O aquecimento global está fazendo com que esses eventos climáticos extremos ocorram com mais frequência e intensidade.