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Desavenças internas tumultuam ambiente no Bayern

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
13 de abril de 2021

Hansi Flick não esconde mais descontentamento com política de compra, venda e dispensa de jogadores. Caso de Jérôme Boateng escancarou embate entre técnico e diretor de esportes do clube.

Conflito entre técnico Hansi Flick (foto) e diretor de esportes Sali Hamidzic vem de longeFoto: Imago Images/Panoramic

Divergências internas num clube de futebol como o Bayern de Munique normalmente são resolvidas a portas fechadas e nem levadas ao conhecimento da mídia e muito menos ao grande público. Afinal, roupa suja costuma se lavar em casa. Desta vez, porém, o embate entre o diretor de esportes Hasan Salihamidzic e o técnico Hansi Flick ficou escancarado a olhos vistos. O conflito latente entre os dois desde o começo de 2020 veio finalmente à tona e causa um alvoroço intramuros considerável nas hostes bávaras.

O vitorioso técnico Hansi Flick já não esconde o seu descontentamento com a política de compra, venda e dispensa de jogadores, muitas vezes feita à sua revelia. O último caso foi o de Jérôme Boateng, zagueiro com excepcional trajetória no clube desde 2011. Flick ficou sabendo que o contrato do jogador não seria renovado pouco antes da primeira partida contra o Paris-Saint-Germain na última quarta-feira e Boateng recebeu a informação de sua dispensa enquanto estava em trabalho de aquecimento para esse jogo.

Em Munique é sabido pelos insiders que Flick gostaria de manter o zagueiro como backup no elenco por pelo menos mais uma temporada. Não foi nem consultado a respeito. Salihamidzic passou por cima de qualquer eventual consideração contrária do treinador como um rolo compressor. Sem mais nem menos declarou: "Conversei com Jérôme e disse que seu contrato não será renovado".

Perguntar não ofende: é esse um tratamento justo e digno dado a um jogador que durante dez anos prestou inestimáveis serviços ao clube?  

Fato é que o conflito entre o técnico e o diretor de esportes não é de hoje. Os dois não se bicam já faz algum tempo. As irritações mútuas começaram pouco depois que Flick assumiu o cargo herdado de Niko Kovac, mais especificamente em janeiro de 2020.

No Catar o time se preparava para o segundo turno da Bundesliga e o treinador pediu um reforço de peso para a lateral direita – no caso Benjamin Henrichs (naquela época atuando pelo Mônaco e agora no Leipzig).  Não foi atendido e no seu lugar veio, por empréstimo, Alvaro Odriozola do Real Madrid. Jogou apenas cinco partidas e nem está mais no clube.

Pior mesmo foram as transferências realizadas no verão do ano passado até o fechamento da janela em outubro. Para suprir as ausências de Thiago Alcântara, Coutinho e Perisic foram contratados à revelia de Flick, Douglas Costa, Marc Roca e o desconhecido Bouna Sarr. Nenhum dos três correspondeu às expectativas e quando eventualmente entram em campo no segundo tempo, a queda de rendimento do time pode ser constatada a olho nu.

Ao ser perguntado por um repórter o que achava da política de transferências do clube, Flick foi lapidar: "A equipe da temporada passada foi qualitativamente melhor do que a atual. Mesmo assim estamos atuando em bom nível e isso se deve especialmente ao esforço de cada jogador visando suprir eventuais deficiências".

Para bom entendedor, meia palavra basta. De acordo com Flick, as eventuais deficiências do time são decorrentes da equivocada política de transferências implementada por Salihamidzic com a benção do ainda poderoso Uli Hoeness, presidente de honra do clube.

Alguns meses antes de assumir a direção técnica do time, Flick já tinha manifestado a opinião de que o treinador deveria participar ativamente, com direito a veto, nos processos de compra e venda de jogadores.

Flick não perde uma oportunidade de elogiar sua equipe e quanto prazer ele tem de trabalhar com cada um dos seus comandados. Aparentemente, o vestiário está fechado com ele. De outro lado é justo perguntar se sua paixão pelo time é suficiente a ponto de aceitar que, ao fim e ao cabo, a última palavra seja sempre do seu superior hierárquico, no caso Salihamidzic, o diretor de esportes.

Sobre o seu futuro imediato, o bem-sucedido treinador se fecha em copas, mas é sabido que a partir de julho, na Alemanha, haverá um cargo vago à sua disposição. Adivinhem qual. 

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.