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Desbocados unidos invadem Berlim

(av)12 de janeiro de 2002

O Festival Internacional da Arte Verbal reúne a fina flor do humor de vanguarda na capital alemã.

O Tempodrom, em Berlim: um "antiparlamento"?Foto: AP

De 9 a 19 de janeiro, "desbocados" de 20 países estão ocupando a capital alemã. Trata-se de Maulhelden, o 1º Festival Internacional da Arte Verbal, que reúne cerca de 200 acrobatas da palavra. Segundo seu iniciador, Arnulf Rating, o novo Tempodrom, nas proximidades do Bundestag e dos ministérios, representará, a partir deste ano, uma espécie de "antiparlamento", dedicado à fina arte do escárnio e maldizer. Diga-se de passagem, o espaço já abrigou cômicos do calibre de Dario Fo e Franca Rame.

Os organizadores do festival fazem questão de uma distinção: o evento nada tem a ver com a onda de shows de humorismo à moda americana, a stand-up comedy, que assola a Alemanha. Aqui os padrões de exigência intelectual são mais elevados, trata-se de arte com características de vanguarda. Um exemplo: os textos da artista mais idosa do evento, Katja Nick, de mais de 80 anos, não apenas são em alemão e japonês, como também de trás para a frente.

Após a sombra lançada pelo 11 de setembro o mundo da comédia reencontrou sua voz. Isso prova a apresentação da San Francisco Mime Troupe. O mais conhecido grupo de teatro de rua dos Estados Unidos apresenta uma sátira sobre o presidente George W. Bush, escrita antes da série de atentados que abalou o mundo.

Do coro masculino finlandês Mieskuoro Huutajat até a música folclórica bávara alternativa, com Gerhart Polt e os Biermösl Blosn, passando pelo travesti Irmgard Knef, o "festival dos desbocados" expõe em três palcos toda a palheta da arte da sátira. A trupe colombiana Hora 25 encena o Macbeth de William Shakespeare como a saga de um rei do narcotráfico. Até mesmo os amantes da música clássica poderão se deleitar com os diálogos entre a inglesa Rebecca Carrington e seu violoncelo.

Confiança na tolerância multicultural do alemão –

Apesar da verdadeira Babel de idiomas, não haverá problemas de entendimento, assegura o pioneiro Rating: resumos impressos e legendas projetadas no palco garantirão uma delícia verbal incondicional. Alguns convidados, como o húngaro Sándor Fábry, criaram especialmente um programa em alemão. De resto, o professor do idioma confia na tolerância multicultural dos nativos, que "há anos vivem em união monetária com povos estrangeiros, como os bávaros".

Os participantes de Maulhelden (Heróis verbais) vêm também da Austrália, Irã, Japão, Itália, Camarões, Rússia, África do Sul e Zimbábue. Porém a nata do humor da Alemanha também marcará presença em Berlim: do refinado cabaretista político Matthias Richling ao bem renano Jürgen Becker, de talentosos novatos ao queridinho da mídia e figura cult Harald Schmidt.

Claro, é preciso um bom conhecimento do modo de ser e até da história germânica, para acompanhar as acrobacias dos desbocados locais. E, às vezes, um grau de renúncia ao bom gosto e ao politicamente correto. Nesse sentido, a apresentação do cômico de origem turca Sinasi Dikmen promete ser bem polêmica. Seu título: "O turco está para o alemão assim como o grego para o turco".

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