Arqueólogos revelam fábrica de cerveja em larga escala, que remonta à era do rei Narmer, o primeiro faraó do Antigo Egito. Instalação podia produzir 22.400 litros ao mesmo tempo.
Anúncio
Uma fábrica de cerveja que pode ter sido construída e colocada em funcionamento há cinco mil anos foi descoberta por uma equipe de arqueólogos americanos e egípcios em um dos sítios arqueológicos mais proeminentes do Antigo Egito, comunicou o Ministério do Turismo do país norte-africano.
Segundo o ministério, tudo indica que se trata da "mais antiga cervejaria de alta produção do mundo". Estudos apontam que a fábrica era capaz de produzir até 22.400 litros de cerveja ao mesmo tempo.
O secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, Mostafa Waziri, disse que a fábrica foi encontrada em Abidos, um antigo cemitério localizado no deserto a oeste do rio Nilo, cerca de 450 quilômetros ao sul do Cairo.
Waziri explicou que a cervejaria aparentemente remonta à era do rei Narmer, amplamente creditado por ter unificado o Alto e Baixo Egito e ter sido o primeiro faraó de uma dinastia que durou três milênios, até o Antigo Egito cair sob domínio do Império Romano em 30 a.C., após a derrota de Cleópatra na batalha de Alexandria.
Os arqueólogos encontraram oito unidades enormes de produção – cada uma com 20 metros de comprimento e 1,5 metro de largura. Cada unidade inclui cerca de 40 potes de cerâmica em duas fileiras. Estas bacias de cerâmica foram usadas para aquecer uma mistura de grãos e água para produzir cerveja, segundo Waziri.
Arqueólogos britânicos tomaram conhecimento da existência da cervejaria no início do século 20, mas sua localização nunca foi determinada com precisão. Agora a equipe formada por egípcios e americanos foi capaz de descobrir e escavar a fábrica.
A missão conjunta foi copresidida por Matthew Adams, do Instituto de Belas Artes da Universidade de Nova York, e Deborah Vischak, professora assistente de arqueologia e história da arte do Antigo Egito na Universidade de Princeton.
Adams afirmou que a fábrica de cerveja foi aparentemente construída naquela área para fornecer cerveja aos rituais reais que ocorriam dentro das instalações funerárias dos reis do Egito. Os arqueólogos também encontraram evidências do uso da cerveja em rituais de sacrifício.
Anúncio
Abidos: centro religioso do Antigo Egito
As evidências de fabricação de cerveja no Antigo Egito não são novas. Fragmentos de cerâmica usada por egípcios para produzir cerveja e datados de cerca de cinco mil anos foram descobertos num canteiro de obras em Tel Aviv em 2015.
Com seus vastos cemitérios e templos datados desde os primeiros tempos do Antigo Egito, a cidade de Abidos era também conhecida por monumentos em homenagens a Osíris, deus do submundo e a divindade responsável por julgar as almas na vida após a morte. A necrópole em Abidos foi usada em todos os períodos do início da história egípcia, desde a era pré-histórica até os tempos romanos.
Abidos rendeu muitos tesouros ao longo dos anos. Em 2000, uma equipe de arqueólogos americanos descobriu o exemplar mais antigo até então descoberto de uma barca solar, que remonta à primeira dinastia faraônica.
O Egito espera que as dezenas de descobertas arqueológicas dos últimos dois anos volte a atrair turistas. A indústria do turismo egípcio está se recuperando da turbulência política causada pelo levante de 2011, que derrubou o ditador Hosni Mubarak. O setor também sofreu um duro golpe com a pandemia do coronavírus. As autoridades esperavam receber 15 milhões de turistas em 2020, em comparação com os 13 milhões do ano anterior, mas a covid-19 impediu.
pv (afp/ap/rtr)
Tesouros arqueológicos de 2020
Apesar da pandemia, arqueólogos continuaram seus trabalhos e conseguiram fazer descobertas espetaculares em 2020, como sarcófagos, estátuas de mármore e moedas de ouro.
Foto: Khaled Desouki/AFP/Getty Images
Local do achado: Sacará
A antiga necrópole egípcia de Sacará (ou Sacara), a cerca de 30 quilômetros ao sul do Cairo, é um dos sítios de escavação arqueológica mais importantes do Egito, junto com o Vale dos Reis e as Pirâmides de Gizé. Em 2020, vários achados espetaculares colocaram Sacará nas manchetes internacionais. Em setembro e outubro, por exemplo, foram encontrados sarcófagos de madeira esplendidamente decorados.
Foto: Samer Abdallah/dpa/picture alliance
Sarcófagos do Antigo Egito
Em novembro, dezenas de sarcófagos foram descobertos novamente na necrópole de Sacará. Decorados com pinturas artísticas, os caixões de madeira datam de mais de 2,5 mil anos atrás. A fim de examinarem o interior dos sarcófagos mais de perto, os pesquisadores abriram cuidadosamente a tampa de cada um deles. As descobertas no Egito foram a sensação arqueológica de 2020.
Foto: Khaled Desouki/AFP/Getty Images
Placa de nome de lugar mais antiga do mundo
Em 2020, egiptólogos da Universidade de Bonn, na Alemanha, decifraram uma inscrição de mais de 5 mil anos feita numa pedra. A descoberta deriva de Wadi Abu Subeira, a nordeste de Assuã. Em cooperação com o Ministério de Antiguidades do Egito, que supervisiona as escavações de todas as equipes de pesquisa no país, cientistas descobriram que se trata de antiga placa toponímica do 4º milênio a.C..
Foto: Ludwig Morenz
Local do achado: Ruínas de Pompeia
O sítio arqueológico da cidade romana de Pompeia, ao sul de Nápoles, revela surpresas arqueológicas há décadas. Durante a histórica erupção vulcânica do Vesúvio em 79 d.C., o local foi soterrado por um misto de lama, chuva de cinzas e lava líquida, e muitas pessoas e animais morreram. Os antigos vestígios de Pompeia só foram redescobertos por arqueólogos no século 18.
Foto: picture-alliance/Jens Köhler
Antiga "lanchonete"
Pouco antes do Natal, arqueólogos de Pompeia apresentaram sua descoberta mais espetacular do ano: um "termopólio" – antigo restaurante de rua – com o balcão pintado. Os cientistas suspeitam que os buracos arredondados no balcão serviam para armazenar recipientes térmicos de comida. Pratos feitos com pato, frango e outros alimentos faziam parte do cardápio.
Foto: Luigi Spina/picture alliance
Muralha da cidade de Jerusalém
O ano de 2020 também levou a novas conclusões científicas: após anos de escavações na área da atual Jerusalém, uma equipe de pesquisadores liderada pelo arqueólogo alemão Dieter Vieweger descobriu partes da antiga muralha da cidade que datam do período bizantino e da época do rei Herodes. Com isso ficou claro que a Jerusalém histórica era significativamente menor do que se supunha até então.
Foto: DW/T. Krämer
Aldeia do século 2
Em Jerusalém, conflitos políticos e religiosos sempre fizeram parte do dia a dia. Em suas várias camadas arqueológicas, é possível identificar milhares de anos de história multicultural. No primeiro semestre de 2020, restos de uma muralha do século 2 foram escavados bem no meio de Jerusalém. Traços da vida cotidiana fornecem pistas sobre os assentamentos da época.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/A. Widak
Cabeça do deus grego Hermes
Enquanto trabalhavam no sistema de canalização de Atenas, operários de construção encontraram a enorme cabeça de uma escultura antiga. Após exames mais detalhados, pesquisadores constataram que se tratava de um valioso bem cultural: a cabeça de mármore do deus Hermes, que, de acordo com o Ministério da Cultura grego, data do século 3 ou mesmo do século 4 a.C..
Foto: Greek Culture Ministry/picture alliance/dpa
O mistério de Stonehenge
Até hoje ainda não se sabe se Stonehenge era um templo, um antigo local de sacrifícios ou um observatório astronômico. Mas em 2020, pesquisadores conseguiram descobrir a origem das pedras mundialmente famosas no sul da Inglaterra. Segundo o estudo, as rochas vêm da região montanhosa dos Westwoods. Já a maneira como as pedras de até sete metros de altura foram transportadas permanece um mistério.