Descoberta nova espécie de ave no extremo sul da América
28 de agosto de 2022
Identificado em ilhas do Chile, rayadito subantártico surpreende cientistas como espécie de floresta que conseguiu sobreviver no meio do oceano. Revelação confirma importância de monitorar regiões intocadas.
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A descoberta de uma nova espécie de pássaro em ilhas no extremo sul das Américas lembra a importância de seguir observando os cantos mais remotos da Terra.
Trata-se do rayadito subantártico (Aphrastura subantarctica), uma ave marrom, com listras pretas e amarelas e bico grande, pesando apenas 16 gramas. Ele foi encontrado no Arquipélago Diego Ramírez, a 100 quilômetros do Cabo Horn, no sul do Chile. Sua existência foi revelada para o mundo em relatório publicado pela revista Nature na sexta-feira (26/08).
O pequeno grupo de ilhas subantárticas Ramírez tem clima de tundra. Além de geograficamente isoladas, elas não possuem predadores mamíferos terrestres nem plantas de lenho, pois o frio extremo, com estações moderadas breves, impede o crescimento de árvores.
A existência da nova espécie é ainda mais surpreendente por ela ser semelhante ao rayadito que habita as florestas do sul da Patagônia e vive em cavidades de troncos.
"Não há arbustos nem espécies de madeira: literalmente no meio do oceano um pássaro de floresta conseguiu sobreviver", comentou à agência de notícias Reuters Ricardo Rozzi, da Universidade de Magallanes, no Chile, e da Universidade do Texas do Norte, além de diretor do Centro Internacional de Estudos sobre Mudança Global e Conservação Biocultural (Chic).
Durante o período de pesquisa, que levou seis anos, os cientistas capturaram e mediram na ilha 13 espécimes do rayadito subantártico. Em seu estudo, eles enfatizam a importância de "monitorar e conservar esse arquipélago ainda intocado, onde não há espécies exóticas". A referência é a animais e plantas trazidos de outros locais, geralmente por humanos, que representam ameaça para as faunas locais.
O governo chileno criou o Parque Marinho Ilhas Diego Ramírez-Passagem de Drake em 2017, com o fim de proteger os pinguins, baleias e albatrozes raros da região. Ele abarca 144.390 quilômetros quadrados das águas meridionais do Chile, começando no Cabo Horn e estendendo-se para o sul até as 200 milhas da zona econômica do Chile, em direção à Antártida.
av (Reuters, ots)
Lázaro e Romeu: Animais que ressuscitaram da extinção
Todos os anos, espécies de animais são extintas. Mas, ocasionalmente, espécies também são consideradas erroneamente extintas ou redescobertas. Os pesquisadores falam então de "erro de Romeu" ou de "espécies de Lázaro".
Foto: Diego Bermeo/Parque Nacional Galápagos/dpa/picture alliance
Colobus vermelho de Bouvier
Este primata está classificado como "em perigo" na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Curiosidade: até 2015, quando alguns foram vistos no Congo, acreditava-se que a espécie estava extinta. Isto é chamado de "O erro de Romeu" - quando uma espécie é declarada extinta embora ainda viva, uma referência ao trágico engano de Romeu no romance de Shakespeare.
Foto: CC by N3ddo!/Wikipedia
Rã-pintada-de-Hula
Animais que ressurgem da (falsamente presumida) extinção são as chamadas espécies de Lázaro, em homenagem ao homem ressuscitado por Jesus na Bíblia. Entre eles está a Rã-pintada-de-Hula, um anfíbio endêmico dos pântanos do Lago Hula em Israel e foi considerado extinto como resultado da drenagem do lago e seus pântanos na década de 1950. Segundo a Lista Vermelha, está "criticamente ameaçado".
Foto: cc-by-sa-3.0/Mickey Samuni-Blank
Tartaruga-gigante-de-Fernandina
Esta espécie de tartaruga de Galápagos também está "criticamente ameaçada", de acordo com a IUCN. Foi considerada extinta por mais de um século até que uma única fêmea foi encontrada na Ilha Fernandina em 2019. Ela tem mais de 100 anos de idade. Pesquisadores descobriram a espécie em 1906, quando encontraram um único macho, que morreu prontamente, levando a crer que a espécie estava extinta.
Foto: Diego Bermeo/Parque Nacional Galápagos/dpa/picture alliance
Takahe
Esta ave criticamente ameaçada de extinção só é encontrada na Ilha Sul da Nova Zelândia. Seu parente da Ilha Norte está extinto e, por muito tempo, acreditou-se que o da Ilha Sul também estava. Sua população diminuiu depois que ratos, gatos e cães foram levados por colonos à Nova Zelândia. Mas em 1948, meio século após ser declarada extinta, a ave não voadora foi redescoberta num vale isolado.
Foto: M. Guyt/blickwinkel/AGAM/picture alliance
Taguá
O taguá vive na região do Gran Chaco que se estende por Paraguai, Bolívia e Argentina. Quando pesquisadores descobriram um fóssil de taguá em 1930, acreditavam se tratar de um animal extinto. Mas foram desmentidos nos anos 1970. Os indígenas da região sabiam que o taguá ainda estava vivo, mas os pesquisadores levaram décadas para encontrá-lo. O taguá está ameaçado de extinção.
Foto: W. Layer/blickwinkel/picture alliance
Colibri do Sol de Antioqua
Este beija-flor com um nome glamoroso vive em grandes altitudes no oeste dos Andes na Colômbia. Por muito tempo, pesquisadores sabiam de sua existência apenas por meio de um espécime exposto num museu e acreditavam que estivesse extinto. Foi redescoberto em 2004. Atualmente, sua população está aumentando, embora ainda esteja em perigo de extinção, segundo a IUCN.
Foto: Luis Mazariegos/Science Advances/dpa/picture alliance
Rã-arlequim
Esta espécie de rã está criticamente ameaçada de extinção. Seu habitat natural fica na Costa Rica (na imagem, duas rãs-arlequim numa fazenda de anfíbios na Colômbia), onde foi redescoberto em 2003. Por mais incrível que seja encontrar uma "espécie de Lázaro", pesquisadores enfatizam que muitas espécies redescobertas provavelmente serão extintas sem árduos esforços de conservação.