Documentos antigos revelam que empresário alemão radicado na Bolívia teria ajudado entre 9 mil e 10 mil judeus europeus a escapar do regime nazista de Adolf Hitler. De lá, eles teriam migrado para outros países.
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Documentos encontrados na Bolívia revelaram que um empresário alemão radicado no país teria ajudado milhares de judeus a fugir para a América do Sul durante o regime nazista na Alemanha.
O diretor dos Arquivo Nacional sobre a Mineração, Edgar Ramírez, afirma que Moritz Hochschild seria o "Schindler boliviano", em referência a Oskar Schindler. Retratado em filme pelo diretor Steven Spielberg em 1993, o empresário alemão ajudou um grande número de judeus a escapar do Holocausto.
"Precisaremos da ajuda de historiadores germanófonos para trabalhar conosco nos documentos", disse Ramírez.
Numa carta datada de 30 de abril de 1940, Hochschild, considerado em sua época um magnata sem escrúpulos, menciona que teria ajudado entre 9 mil e 10 mil pessoas a fugir do regime de Adolf Hitler.
Entre os documentos encontrados – recentemente declarados pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade – estão contratos de trabalho para a empresa de mineração de Hochschild emitidos para judeus europeus nos anos 1930.
Uma carta de um jardim da infância em La Paz frequentado por crianças judias pedia que o empresário ajudasse a expandir as instalações do local, tendo em vista do grande número de novos alunos e outros que ainda deveriam chegar. Outra carta de autoridades francesas pede que ele recebesse em torno de mil órfãos judeus na Bolívia.
Questões nebulosas
"Muitas coisas ainda estão nebulosas", diz Ramírez. Teria o próprio empresário pagado pelas viagens de navio? De onde vieram os judeus, e como eram selecionados? Estariam corretos os números?
Hochschild nasceu numa família judia em Biblis, no estado alemão de Hesse, em 1881 e migrou para a Bolívia em 1921. Ele morreu em 1965 em Paris. Em 1952, a empresa de mineração de Hoschschild foi nacionalizada pelo governo, juntamente com as de outros barões do setor, acusados de explorar as reservas de estanho do país em benefício próprio.
Durante décadas os arquivos sobre a história das minas do país foram mantidos sob condições catastróficas, inclusive em um pátio a céu aberto. O governo boliviano liberou verbas substanciais para financiar a pesquisa, permitindo a recuperação e o arquivamento adequado do material. Segundo Ramírez, cerca de 30% a 40% dos documentos foram perdidos.
Nos anos 1940, havia cerca de 15 mil judeus na Bolívia, segundo o presidente do Círculo Israelita Boliviano, Ricardo Udler. Muitos chegaram com a ajuda de Hochschild ou por outros meios. Grande parte deles se mudou para outros países, como Brasil, Argentina, Estados Unidos e Israel. Hoje, o número de judeus em solo boliviano foi reduzido a apenas quinhentos.
RC/dpa/afp
Dez filmes sobre o Holocausto
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
Foto: picture-alliance
Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.