Descobertos primeiros animais que não escutam a própria voz
Priscila Jordão
21 de setembro de 2017
Duas espécies de sapo da Mata Atlântica são capazes de cantar, mas em vão: os animais são surdos à frequência que emitem. Caso estudado por equipe internacional surpreende em termos evolutivos.
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Quando o sapinho-pingo-de-ouro, que vive na Mata Atlântica, canta para alguma fêmea, o som nunca atrai nenhuma pretendente. O problema não é a qualidade do som: cientistas descobriram que os machos de duas espécies do sapo, apesar de emitirem cantos, não são ouvidos nem pelo sexo oposto, nem por outros machos.
Os sapos não param para ouvir os chamados, não se orientam na direção deles e não mudam seu comportamento apesar do canto estar sendo emitido. Tetra-se do primeiro caso registrado de espécie do reino animal que não escuta a própria voz, segundo os cientistas.
Um estudo publicado na revista Scientific Reports, da Nature, nesta quinta-feira (21/09), comparou dois sapos do gênero Brachycephalus, o Brachycephalus ephippium e o Brachycephalus pitanga, que medem cerca de dois centímetros, a um sapo do mesmo tamanho, Ischnocnema parva, e chegaram à conclusão que as duas primeiras espécies não têm tímpanos.
Elas possuem órgãos auditivos na orelha interna que detectam frequências sonoras graves e agudas, mas não a da própria voz. A descoberta surpreende, pois os sistemas de comunicação animal normalmente exigem a evolução conjunta de sistemas de emissão e recebimento de mensagens. Uma análise com eletrodos no cérebro dos sapinhos também mostrou que não há resposta neurológica ao canto da própria espécie.
O estudo foi inciado pela ecóloga francesa Sandra Goutte, contou com colaborações no Reino Unido, na Dinamarca, do Instituto Butantan, em São Paulo, e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Por que o canto?
Como a seleção natural tenderia a atuar contra esse tipo de característica, já que o canto aparentemente não beneficia os animais, pode atrair predadores e ainda requer energia para ser produzido, os cientistas se depararam com a pergunta: por que esses sapos ainda cantam?
Uma das hipóteses é que a comunicação é visual, e não auditiva. O movimento do saco vocal enquanto os sapos cantam pode ser atraente para as fêmeas. Além disso, como os sapos possuem uma forte toxina na pele e em órgãos internos, eles não têm tantos problemas com os predadores. Assim, pode ser que a perda da audição para o próprio canto seja um fenômeno evolutivo relativamente recente, como parte de um processo evolutivo em andamento.
O desaparecimento das borboletas
População de insetos coloridos tem recuado dramaticamente nas últimas décadas mundo afora. Surpreendentemente, declínio é mais evidente no campo que na cidade.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Schmitt
Criaturas delicadas
As borboletas estão ameaçadas mundo afora. Segundo a Fundação Alemã para Animais Selvagens, o número de espécies de borboletas e mariposas presentes no país caiu pela metade ao longo dos últimos 30 anos. A queda é de quase 70% no caso das borboletas diurnas. A imagem mostra a espécie Colias hyale, escolhida como “borboleta do ano” na Alemanha em 2017.
Foto: picture alliance /Nothegger, A./WILDLIFE
Sabor doce
Borboletas adoram a doce seiva de flores. Mas a diversidade de plantas está diminuindo, principalmente em regiões em que domina a monocultura agrícola. Essa forma de plantio acaba deixando poucas escolhas no cardápio das borboletas.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Weihrauch
Borboletas não gostam de pesticidas
Produtos para a proteção de colheitas, como herbicidas e pesticidas, destroem a biodiversidade. Ervas, plantas e flores selvagens não conseguem sobreviver em áreas com monocultura. Em muitas partes da Alemanha, a espécie de borboleta desta foto, a Iphiclides podalirius, era vista com frequência, mas desapareceu da paisagem.
Foto: picture alliance/blickwinkel/S. Ott
Insetos estão morrendo
O grande problema é que os pesticidas não estão prejudicando apenas as borboletas. Estudos mostram que algumas regiões tiveram um declínio de 80% no número de insetos em 30 anos. Abelhas, zangões, libélulas, vespas, moscas e borboletas lutam para sobreviver em meio ao uso intensivo de pesticidas e fertilizantes na agricultura.
Foto: picture-alliance/K. Nowottnick
Sem comida suficiente
Um estudo recente mostra que o número de pássaros também tem diminuído. O problema é que eles não conseguem encontrar insetos o bastante para sua alimentação. Estimativas apontam que a população das aves da espécie abibe-comum na Alemanha, por exemplo, despencou 80% entre 1990 e 2013. O número das aves cartaxo-nortenho caiu 63% e a população do maçarico-de-bico-direito recuou 61%.
Surpreendentemente, o declínio das borboletas é particularmente evidente no campo. Em cidades, as borboletas são mais numerosas. Elas proliferam em parques, cemitérios, terras não cultivadas e até mesmo nos centros de cidades. Nesses lugares, elas encontram a diversidade de plantas que falta no campo.